microconto-O MENINO NINGUÉM

Novembro de 1994

No pátio da escola, o menino Ninguém estava triste, de canto, enquanto seus colegas de escola brincavam no pátio. Queria apenas extravasar sua deprê naqueles minutos de intervalo, ouvindo rock roll.

Júnior se aproximou dele para lhe inventar um apelido. (Vou pegar algo desse nerd para zoa-lo. Quem pensa que ele é para ficar de lado e não falar conosco? Bobão, bobão. O pior é que ele é bonito, o filho da mãe! Do que vou chamá-lo?).

Enquanto escutava Nirvana em seu Walkman, Ninguém olhou o rapazinho chato do recreio se aproximando, o olhando. (Esse mané, engraçadinho, parece o Kiko do Chaves? O que ele quer? Acho que vou ser obrigado a arrebentá-lo de porrada!)

-Opa, e aí, cara! - disse Ninguém, encarando Júnior.

-E aí, beleza?

Ninguém tirou o fone do ouvido.

-Mais ou menos. O que quer?

-Nada. Só achei que...(O cara tinha falado com ele. Nunca poderia esperar que aquele nerd fosse puxar assunto). Achei que estivesse com algum problema (Não! Por quê raios tinha dito aquilo?)

-Ora, Ora, nada a ver. Tô de boa. Só curtindo um bom Rock!

-Ah, sim. Tudo bem. Muito prazer, me chamo Júnior. Sempre te vejo aqui no pátio, mas nunca tive coragem de falar contigo... até hoje. Hehehe.

Ninguém estendeu a mão a Júnior, cumprimentando-o.

-Sou Ninguém.

-Como assim? Esse é seu nome ou apelido?

-Meu nome.

-OK. Beleza. Vou deixar você escutar seu som. Outra hora conversamos.

-OK. Até mais!

Júnior se afastou e foi ao banheiro lavar o rosto. Estava impressionado. O rapaz se chamava Ninguém. E Júnior queria apelidá-lo.

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 06/11/2018
Reeditado em 06/11/2018
Código do texto: T6495572
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