Sem garantias

- Você fala espanhol? - Perguntei, quando me colocaram à frente da assistente social da Imigração.

- Sí, hablo español - respondeu a mulher.

- Faz duas semanas que me separaram da minha família... - expliquei. - Não sei para onde levaram meus filhos. Poderia tentar descobrir onde estão?

- Esse não é o meu trabalho aqui - declarou ela. - Mas posso tentar; sei que estão em alguma instituição, sob a guarda da ORR.

- ORR?

- É o departamento do governo que cuida das crianças estrangeiras desacompanhadas.

- "Crianças estrangeiras desacompanhadas"?

- É o nome oficial.

- Mas... elas não entraram nos EUA desacompanhadas! Estavam comigo, sou mãe delas!

- Você foi presa pela Imigração. Não podíamos deixar as crianças na mesma detenção que você e demais adultos. Portanto, elas foram recolhidas pela ORR, que tentará encontrar alguém da família, aqui nos EUA, que possa cuidar delas.

- Eu não tenho parentes nos EUA. O que acontece com elas, então?

- Se não houver nenhum parente, tentaremos encontrar um lar adotivo para elas.

- Lar adotivo? Eu sou a mãe, e não as dei para adoção!

- É uma solução temporária. Mas deveria ter pensado nisso antes de entrar ilegalmente nos EUA.

- Eu não poderia deixar meus filhos sozinhos em Honduras, passando fome, senhora.

- Se não queria perder acesso aos seus filhos, que não viesse aos EUA sem documentos.

- O que vocês estão fazendo é uma crueldade! Chegaram a me dizer que eu me encontraria com as crianças depois de responder a um questionário... o que aconteceu foi que respondi e estou aqui, presa!

- Você pode se declarar culpada quando for à corte. Há uma possibilidade de que isso agilize reencontrar suas crianças, já que será deportada.

- Possibilidade, você diz...

- Possibilidade. Ou você se declara inocente e aguarda julgamento... o que pode levar semanas ou meses.

- Se entendi bem, em qualquer dos casos posso ser deportada sem ver meus filhos.

A assistente social assentiu.

- Assim é. Não há garantias.

- [18-11-2018]