A MULHER INVISÍVEL

A pior coisa que tem é você ter uma amiga mais bonita que você. Sabe porquê? Isso te torna a mulher invisível. No meu caso é muito comum. Eu sou sempre a patinho feio do meu círculo de amizade feminino. A última a ser reparada sou sempre eu, mesmo estando de minissaia curtíssima e um batom vermelho na boca. É dose. Na verdade, só conquistei meus namorados depois que eu abri a boca para falar. Porque não adianta ser bonita com um cérebro de minhoca. Pelo menos isto eu não tenho. Me considero uma mulher bem inteligente até.

É inexplicável então dizer porque eu me apaixonei pelo Carlão. Na verdade, não foi bem uma paixão. Eu fiquei obcecada por aqueles músculos, aquela morenice de surfista, um rosto de homem... E ele sempre foi simpático comigo, mesmo eu estando rodeada de mulheres bonitas como as minhas amigas. Atencioso, interessado. Droga, achei que o Carlão pudesse mesmo estar afim de mim. Ele estava bem longe do tipo de cara que eu costumava ficar, aqueles pseudo-intelectuais. Eu queria alguma coisa diferente para variar. O Carlão podia ser o diferencial.

Por isso, quando eu soube que no aniversário da Lucinha o Carlão também iria estar, me arrumei toda. Chapinha no cabelo, perfume importado, nem sei se ele merecia tanto. Mas eu fui cheia de esperança e com fé no meu sucesso. Fui elogiada por todos e me senti a tal. Quando o Carlão chegou mais fofo do que nunca, me fiz de gostosa. Fui para a cozinha pegar uma cervejinha. Ele apareceu logo depois. Quando vi aquele homão na cozinha perto de mim, quase desfaleci.

- Oi, Josi.

Hummm... uma voz cheia de promessas e segundas intenções. Preparei meu melhor olhar, sorri e disse:

- Oi, Carlão... como você está? Quer comer alguma coisa?

Foi uma pergunta inocente. A resposta foi uma bomba.

- Não é o que eu quero comer. É quem.

Que coisa feia, pensei eu. Que jeito grosseiro de falar. Não contente, ele prosseguiu:

- Escuta, Josi. Qual é o nome daquela sua amiga loirinha, gostosa, que anda sempre com você?

Quase vomitei em cima dele. Porco! Cretino! Ordinário! Me segurei e respondi, com ar de pouco caso:

- Você deve estar falando da Nanda?

- Esta mesma. Qual é a dela, hein? Tem namorado?…

- A Nanda? A loira? Olha, se for essa mesma, ela te acha um brucutu ignorante. Ah, e namora um advogado super inteligente. Tudo de bom para você, Carlão.

Saí da cozinha e da festa ali mesmo, naquele momento. Fui para casa furiosa e com dor de cotovelo. Tudo mentira. Eu e a Nanda jamais havíamos falado sobre o Carlão e eu nem sabia se ela era afim dele ou não. Dois dias depois, fiquei sabendo que eles passaram a festa se agarrando e na outra semana toda a turma sabia da performance dela na cama. Nossa, mas aquele Carlão era um boca grande mesmo. Ainda bem que ele não quis nada comigo. E eu, por via das dúvidas, voltei a namorar meus pseudo-intelectuais, na esperança de um dia encontrar um homem inteligente também na hora de fazer sexo.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 15/09/2007
Reeditado em 25/02/2016
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