ADEUS, TIA IRACI

E foi no finalzinho da tarde enquanto tomava meu café, envolvida em meus pensamentos, que subitamente fui trazida para a realidade com o toque do telefone; do outro lado da linha escutava a voz de mainha, sabia que algo de ruim tinha acontecido o tom da sua voz estava sério e apesar dela não me chamar pelo nome completo, sabia que aquela ligação tinha algo de errado. Foi quando ela disse que tia Iraci tinha falecido naquela tarde. Faltou-me ar, apoie-me na cadeira procurando uma maneira de digeri aquela informação que custava acreditar. E enquanto tentava organizar as informações; ela continuava do outro lado: o enterro será amanhã, sua tia faleceu no hospital já foi providenciado todo funeral, estou indo daqui a pouco para o sítio junto com sua tia borrega, de lá não terei como te ligar, então só amanhã depois do enterro que ligarei para você. Estava completamente em estado de choque, sentia-me impotente diante da situação. Tão longe daqueles que eu amo! Sem poder dar o último adeus a ela, aquela que foi inspiração para meu conto, aquela que beijava-me enquanto estava sentada naquela cadeira de balanço azul, aquela que preparava o café forte nas manhãs que passava lá no sítio; aquela que sorria querendo conhecer meu namorado e cobrava incansavelmente: Ei, Patricia quando vai trazer seu namorado aqui pra gente conhecer? E eu, sempre com a mesma resposta: o ano que vem tia...; aquela que a abriu o coração comigo, sentadas na varanda, enquanto observávamos os pássaros e o ciscar das galinhas no terreiro da casa; ouvia atentamente como sentia falta do seu marido, meu tio, e como deseja está em com ele. Ela dizia: Minha filha, nas noites de lua cheia ele vem me visitar. Eu sabia que a dor que ela sentia era verdadeira. A dor da saudade. Aquela dor, que custa cicatrizar e mesmo depois de muito tempo as vezes ela abre e volta a doer.

E tudo isso passava em minha mente em segundos. As lagrimas escorreram pelos meus olhos, não ouvia mais a voz de mainha pelo telefone, apenas eu permanecia ali, naquela cadeira, chorando e chorando, se perguntando o porquê de não poder se despedir dela, da minha tia de olhos claros e cabelos grisalhos. Como eu desejei estar do lado dos meus, compartilhar aquela dor, chorar, abraçar, orar juntos pela alma dela. E aos poucos as lágrimas secaram e restou no meu peito apenas a dor e a lembrança daquela que me ensinou em tão pouco tempo, que o amor verdadeiro existe e mesmo que as circunstâncias da vida apontem para outro caminho, o verdadeiro amor tá ali bem pertinho; basta enxergar os sinais e se deixar ser envolvida por essa energia tão linda. Vá em paz tia Iraci, reencontrar o seu amor. Era noite de lua cheia e o céu estava em festa.

Scarlett Schmitt