“Moço puquê cê tá cholano?”

O homem de cabelos brancos e assanhados olhou lentamente aqueles pequeninos olhos que o fitavam interessados, a menininha que segurava uma boneca numa mão e na outra um algodão-doce sequer piscava enquanto os olhos vermelhos e marejados do homem eram secados mais uma vez por um lenço encharcado. Tantos passaram por ele e o viram chorar... mas ninguém... ninguém...

“Cê caiu foi? Machucô ondi?”, ela falou e deu uma boa mordida no algodão-doce cor de rosa, porém seus olhinhos ainda o miravam imóveis.

“Não mocinha... tá tudo bem...tá tudo bem...”, e outra vez seus olhos se inundaram porque de certa forma ele havia sim caído... tropeçou na ilusão que foi o que acreditou por toda a vida ser a vida... e onde havia se ferido... onde... ninguém jamais saberia...

“Num chola não tá? Minha mamãe me dissi que se eu cholar eu num vou ganhar meu plesente que é minha biciqueta igual a da Alice”, um sorriso brilhante se abriu naquele rostinho... e o homem então...

Sorriu...

Sorrindo, por alguns instantes ele esqueceu que no final jamais se ganha nada... pavimentado por perdas é o caminho da vida, e a perda que naquele momento o fazia chorar secretamente talvez fosse como o último retoque na passarela que o conduzia ao fim certo...

“Menina venha pra cá! Me desculpe viu, ela estava abusando o senhor? Essa menina fala pelos cotovelos! Vamo embora sua danada!”, a mãe a tomou pela mão e elas se afastaram em direção aos brinquedos do parque.

O homem as olhava sentindo algo estranho em seu peito, algo que precisava ser entendido. Ele viu então que a menininha voltava correndo em sua direção, a mãe gritava por ela mas não fez menção de correr. Quando se aproximou, ela tinha o algodão-doce pela metade em uma mão, a outra estava para trás.

“Tômi”, ela lhe estendeu o doce “Pra cê num cholá mais”, e nesse instante, como um sinal vindo do fundo do incompreensível... ela disse... “ Você precisa continuar acreditando!”, e voltou saltitante para sua querida mamãe.

O homem, segurando o doce, parecia perplexo; o que havia acontecido? Ninguém sabia ou quis saber por que ele chorava... todos tinham suas dores para se preocuparem... quem ligaria para um velho qualquer? Mas ele sabia por que chorava, e mais do que nunca sabia o que tinha lhe acontecido... ele chorava por ter perdido sua fé... mas... quem havia falado com ele através daqueles inocentes lábios?

Naquele momento, às vésperas de uma despedida inevitável... tudo se fez novo...

E quando o fim chegou... ele ainda... acreditava...

Edgar Lins
Enviado por Edgar Lins em 31/01/2019
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