O Silencio

O silencio sempre a cortejava. Ela podia sentir o sabor ocre da falta de som invadindo seus sentidos mais fortes. A musica oca que ouvia a faziam sentir-se calma e quente, por vezes sentia que se lhe faltasse o sentido da audição seria muito mais benção que maldição.. Descobriu com o tempo que era capaz de passar longas e ininterruptas horas em mais profundo silencio, realizando varias tarefas ao mesmo tempo. Percebia que por incontáveis vezes ele era quase absoluto, seus pensamentos mecânicos eram quase táteis. Era como mergulhar num espaço vazio, um universo paralelo só dela, onde a lembrança dos sons podiam ser materiais e visíveis. Seu humor era icônico e volátil, sua necessidade de silêncio beirava a ficção e alternava-se ao desejo de ouvir ou não.. Barulho a entediava e o silêncio a aquecia, era confortável e por mais loucura que fosse , nas suas horas mais genuínas, íntimas e soltas entregava-se ao som ensurdecedor de uma boa banda de have metal e rocks inesquecíveis do passado. Poderia nem cantar bem mas soltava a voz sozinha na intimidade de seu veiculo com as janelas fechadas por menor que fosse percurso.. Ouvir um som pesado ao dirigir lhe conferia uma liberdade insubstituível, algo que ela não sabia mensurar e não se importava com os olhares de outros motoristas e pedestres ao vê-la agitar-se detonando suas cordas vocais ao som de guitarras e baterias diabólicas. Essa dualidade a deixava confusa. Sua normalidade ou anormalidade talvez derivava do fato de ter poucos contatos ou amigos. Ela dava primazia a amizades que considerava necessárias e verdadeiras, e não era uma face de esnobismo, era característica inata de alguém exigente e seletivo. Quem a observa-se diria que não era alguém necessariamente anormal, as pessoas são mestres em camuflar-se, esconder-se por trás e dentro de faces e máscaras que lhe caem tão bem que se tornam incalculadamente naturais e verdadeiras. Seus dois mundos se complementavam como pólos negativo e positivo. Seu gosto e memória auditiva eram incomuns e a solidão era a irmã de todas as horas e o silencio seu pai, irmão, amigo, e amante. Ela sabia que chegaria o tempo de finalmente ouvir, apesar de que sabia que seus dias com barulho eram insuportáveis. O silêncio, por fim, era capaz de levá-la a outro nível de consciência superior, aguçado, vivo e capaz.

Lady Malibe

08.02.19

Lady Malibe
Enviado por Lady Malibe em 09/02/2019
Reeditado em 09/02/2019
Código do texto: T6571179
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