Os 'Filhos Pródigos' (Parte I)

Era o início dos famosos 'anos sessenta', tempos em que reinavam os Beatles e os Rolling Stones. Bons tempos aqueles...

Na 'Igrejinha', como era conhecida a Igreja Matriz de São Cristóvão, todos os domingos às nove horas, era celebrada a Missa das Crianças.

O fim-do-ano estava próximo, e a maioria ds crianças que costumavam frequentar aquelas Missas Dominicais estavam muito ansiosas. E eram dois os motivos: o primeiro era que no final do ano era a época em que elas recebiam os seus presentes de Natal e também época de muitas festas natalinas e de ano novo; o segundo motivo era o alívio que anteviam por se livrarem da pressão sofrida durante todo aquele ano, no catecismo que eram obrigadas a frequentar se quisessem fazer a sua Primeira Comunhão. A maior pressão era feita pelo Padre Teófilo que, diga-se de passagem; era um nordestino daqueles bem arretados, que não costumava dar mole para a galera, e costumava apertar os catequizandos com as temíveis 'sabatinas' que marcava assim, de uma hora para outra, pegando a todos de surprêsa. Era um desespero só... Mas no final das contas, todos acabavam sendo aprovados na sua avaliação. Como era de costume, no dia 8 de dezembro, dia dedicado à Nossa Senhora da Conceição, lá estavam elas, alegres e sorridentes, vestindo seus trajes brancos, trazendo cada uma, uma vela e um terço pendendo de um pequeno catecismo aberto; era a sua Primeira Comunhão. A Igrejinha ficava superlotada. Lá estavam juntos com seus pais, os padrinhos, avós, tios, vizinhos... Era uma cerimônia de uma beleza inesquecível.

E entre aquelas dezenas de crianças que faziam a sua Primeira Comunhão na Igrejinha de São Cristóvão, estavam também os dois filhos homens, de seu Pedro e dona Tereza. Ele; Congregado Mariano e ela era Filha de Maria. Faziam parte da Irmandade de São Cristóvão que, no dia 25 de julho, promoviam uma gigantesca procissão pelas ruas daquele bairro imperial . Bons tempos aqueles...

Mas bons tempos é o que hoje diz, o filho mais novo de dona Tereza e seu Pedro, porque na verdade, o seu 'currículo de cristão' onde consta até a sua admissão como membro da Congregação Mariana, foi conquistado a duras penas, já que naqueles 'anos rebeldes' ele tinha uma verdadeira aversão por 'toda aquela coisa de igreja'. Ele participava ativamente sim, mas era 'por livre e espontânea pressão' de seus pais -cristãos fervorosos- , principalmente por parte de seu falecido pai que costumava dizer para os filhos: " Enquanto vocês estiverem vivendo debaixo do meu teto, vocês vão ter mais é que dançar conforme a minha música!". É, era assim que a banda tocava, pois todo domingo, fizesse sol ou chuva, lá estavam os dois filhos de seu Pedro; de terninho azul-marinho indo para a Missa. Às vezes eles até iam na Igreja do Bomfim, que era mais próximo de onde moravam - e eles gostavam mais, porque a Missa era mais curta- mas isso era muito raro, já que seus pais eram membros da Igreja de São Cristóvão.

Fato é que depois que se sentiu independente e dono do próprio nariz, aquele que era o filho mais novo simplesmente se afastou da Igreja. Ele não disse, mas certamente na sua cabeça deve ter se formado a seguinte frase: "Tô fora!"

"O filho até pode se afastar do Pai, mas o Pai jamais desiste do seu filho." Esta é uma grande verdade!...