Por Pouco

11:40 a.m Júlio estava na praça de alimentação do shopping quando notou que estava atrasado para pegar sua filha na creche. Ele largou o lanche do Mcdonald´s e correu em direção ao elevador que estava aberto, ele pede para as duas senhoras que estavam dentro segurar a porta, vendo aquela situação a senhora mais velha aperta o botão com pressa e fecha a porta do elevador. Ele ficou furioso e resolve descer pela escada para chegar no estacionamento no subsolo. Chegando no estacionamento ele corre em direção ao seu carro, no carro ao lado do seu as senhoras que estavam no elevador colocam compras no porta-malas, vendo novamente Júlio correndo na direção delas, rapidamente correm para dentro do carro e fecham a porta. Júlio percebendo a situação mostra o dedo do meio para as senhoras e pega seu carro. 

Dentro do carro as senhoras se sentem aliviadas por acharem que quase tiveram sido assaltadas. Saem do estacionamento, seguem na via urbana e pegam a via de trânsito rápido em direção aos limites metropolitanos. Chegando no quilômetro quinto da via elas são surpreendidas com um estrondo nos pneus, fazendo o carro parar. Elas descem do carro e vão ver o que aconteceu, viram que os pneus da frente estavam cheios de pregos e ficaram sem entender. Nesse momento dois caras saem dos arbustos e pulam a barra de proteção lateral da pista, atacando as duas senhoras que estavam de costas, sem máscaras eles rendem as duas senhoras por trás, apontando a arma para o queixo delas e anunciando o assalto, temendo algo pior a senhora mais velha fala que tem uma bolsa com 5 mil reais no porta-luvas. Ela é levantada pelo assaltante e segue em direção a porta do carro, pelo espelho ela consegue ver o rosto do assaltante, um jovem branco, de olhos verdes e barba longa. Ele retira a bolsa do porta-luvas, coloca a alça no próprio pescoço, solta o braço do pescoço da senhora e dá um pontapé nas costas dela, que cai no chão. O outro cara também solta a senhora mais nova e ambos correm de volta para os arbustos nas margens da via. 

Devastadas e sem comunicação, elas deixam o carro de lado e pedem desesperadamente uma carona, passavam poucos carros e nenhum parava. Passando uns 10 minutos um carro branco para e um homem negro de boné pergunta: - Vocês ainda estão com pressa? As senhoras percebem que se tratava do mesmo homem que elas viram no shopping, ficaram envergonhadas, mas explicaram rapidamente que foram assaltadas. Ele diz que pode deixar elas no próximo posto policial, que também tem um reboque. Elas entraram no banco de trás do carro, onde estava uma criança na cadeirinha do meio, elas sentaram, uma de cada lado da criança. 

Ninguém fala nada nos próximos 3 km, o som do carro tocava uma música antiga e romântica, a gosto de Júlio. Chegando próximo de um cruzamento com a via férrea o carro para e a criança fica admirando o trem passar enquanto aponta e pergunta ao pai: - Esse é o mesmo trenzinho que a mamãe viajou? Ele olha para trás e responde: - O trem que sua mãe pegou não passa e não volta mais. Ele avança o carro enquanto o trem vai liberando a pista, no entanto Júlio não percebe que na direção oposta vinha outro trem, encoberto visualmente e sonoramente pelo que passava. Não deu tempo...e o trem atinge a  lateral da parte da frente do carro, arrastando-o uns 100 metros até parar. 

Nas ferragens do carro a senhora mais nova olha para a criança chorando e  gritando pelo pai, ela tenta pegar a criança enquanto grita procurando a senhora mais velha: - Cláudia, você está  viva? Nada se ouve a não ser o barulho dos passageiros que desceram curiosamente do trem se aproximando do carro e especulando. Um deles grita: - tem uma criança e uma senhora vivas. Outro fala: - por pouco eu evitava ter presenciado essa tragédia, por alguns segundos consegui pegar esse trem, deveria ter esperado o próximo. Estranhamente o som do carro quase inteiramente destruído começa a tocar, rapidamente interrompido por uma locução: ''São exatamente 12 horas e 9 minutos na Tempo FM, você acabou de ouvir Pouco a pouco - Gilliard''.

Juan Belerc

Juan Bercles
Enviado por Juan Bercles em 19/04/2019
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