A Qualquer semelhança é mera conveniência...

Maria era uma senhorinha bastante conhecida lá na roça. Na cidade de Queluz de Minas tinham alguns lugarejos que pelas características voltadas para a prática de agricultura e pecuária e pela distância do centro urbano recebiam este apelido. A roça era um deles, embora fosse centro urbano.
Dona Maria já tinha passado dos 70 e dizia isto com um orgulho danado, afinal criara seus 12 filhos que ostentavam hoje diplomas de engenheiro, advogado e administradores, embora morasse sozinha por lá, cada um tinha ido correr atrás do seu destino.
Sua alma gêmea, seu Ludovico, despediu-se dela há pouco mais de 3 anos e de lá pra cá se sentia bastante sozinha, mas não gostava de ocupar vizinhos e amigos com seus problemas.
De uma no pra cá dona Maria passou a sentir fortes dores nas costas e resolveu procurar um doutor bastante conhecido na cidade já que cuidava dos traumas dos ossos, e era disso que ela carecia. 
E assim, sua filha que morava há 120 Km veio para acompanhá-la em sua primeira consulta. A cada fala da filha sobre sua saúde, um corte lhe era feito para dizer que era exagero, que na verdade estava muito forte e não tinha preguiça.
Maria foi diagnosticada com uma doença degenerativa da coluna vertebral muito comum em pessoas com mais 60 anos e que realizou atividades pesadas ao longo da vida: 
_ Eu já fiz de tudo Dr. Já puxei arado, já plantei arroz, feijão, milho, tudo isso para ver meus filhos realizados. Era de sol a sol. Nem lembro de ter ficado adoecida uma única vez. Não podia. Tinha compromissos demais para isso.
O médico bastante apressado, acabou por prescrever alguns medicamentos, entre eles algumas injeções e terminou dizendo:
_ Olha Dona Maria, a senhora vai ter que procurar ficar em repouso. Já trabalhou demais. Teimosia pode deixar a senhora sem o movimento ds pernas, então se cuida. Assim que terminar de tomar os remédios, a senhora vem aqui e fala comigo pra que possamos avaliar se o tratamento respondeu como necessário.
- É para vir aqui? nesta sala mesmo? Falar com o senhor?
- Sim. Peça a sua filha para ligar para a secretária assim que os remédios acabarem e estarei aqui à disposição.

E de repente chegou o dia do retorno. Dona Maria era do tipo que palavra é que valia. Chegou no consultório e sorridente cumprimentou a todos. Estava lotado. Ela logo foi para a porta do consultório médico bateu à porta e disse: Oi Doutor, eu voltei. Podemos conversar?
O médico um pouco estressado com a atitude natural de D. Maria levantou-se, catou-a pelo braço e foi levá-la até a recepção. Lá chegando olhou para as secretárias e questionou?
- Vocês não viram? la entrou sem passar por aqui... Atenção! - e retornou para sua sala.
As secretárias (eram ao menos 3) estavam eufóricas pela atitude da senhorinha e passaram a agredÍ-la com voz árdua, intimidando-a a afirmar porque entrou sem autorização, além domais, as secretárias mantinham um tom de voz grosseiro e alto, permitindo que todos os demais pacientes que aguardavam assistissem aquela cena. 
Dona Maria tentou explicar que foi o médico que mandou da última vez em que lá esteve. Mas elas não queriam ouvir, apenas ralhar e olhar para aquele ser indefeso como se criminosa fosse, mas era apenas ingenuidade.
Quando, enfim, terminaram a sua ficha, a "doninha" sorridente perguntou se agora ela poderia ir (tamanha inocência) e recebeu como resposta em alto e péssimo tom:
_ Claro que não! A senhora não entendeu ainda que precisa aguardar. Que tem horário marcado. Que não é a senhora que define quando e como deve ser atendida?
Dona maria esperou, esperou, esperou. Até que o Doutor veio e a chamou pelo nome e ela com toda humildade que a vida lhe deu soltou:
-Graças a Deus o senhor chegou, as meninas ali não acreditaram que o senhor pediu para eu voltar. Já estava pensando em voltar outro dia, quem sabe elas não estariam mais calmas, não é doutor?

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 19/05/2019
Reeditado em 19/05/2019
Código do texto: T6650931
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