Um Dia De Chuva

Meu medo, não era da chuva em si, mas do que ela representava pra mim. Sempre, desde criança a chuva me assustava. Suas gotas rápidas como flechas transparentes que açoitavam as telhas da nossa casa como se quisessem de fato perfurar-nos a epiderme, deixando amostra não só a próxima camada, mas também nossos anseios.

Minha mãe repetia sempre as mesmas palavras: “Não tenha medo meu pequenino, é apenas a chuva que cai do céu, e tudo que vem do céu é sagrado, é belo, é majestoso e puro”. Tudo bem, pode até ser que tudo que vem do céu, ou pelo menos a chuva, seja sagrado, mas isso jamais me consolou, jamais me trouxe paz.

A chuva caía incessantemente, já faziam dois dias. Eu implorava para que o sol surgisse novamente, brilhasse outra vez para mim, me trouxesse o conforto que a chuva não era capaz de me dar. Mas, como uma criança que espera pelo papai Noel na noite de natal com o presente tão sonhado, o sol não veio e, o pior de tudo: a chuva aumentou e tornou-se mais intensa.

Me envolvi nas cobertas, que agora já contabilizavam meia dúzia, dos pés à cabeça e esperei ansioso, pelo desfecho que não vinha.