"Amanhã há ser outro dia"

Estava meio jururu e quando isso acontecia,se isolava e, não raro, iia poesia. Sempre lembrava o que disse Pound: "Os peotas são as antenas da raça". Achava que ele devia ter aduzido que o poeta era um reanimador da alma.

Estava puto com os provocadores, adesistas, capachos... Essa tropa (ou troça triste) que num frisson danado mostrava serviço aos graúdos e tiranetes de plantão. Chegava a achar algo natural a renúncia deles ao caráter e de ser pau ara toda obra. O sem caráter total sente, tinha certeza, uma vontade maldita e avassaladora de fustigar os perseguidos.Sua covarde e maldade era abissal e incomensurável. Era, pensou, as latas de lixo dos graúdos e do poder. Mas, pensava, que os sem caráter era no fundo, no fundo mesmo, um infeliz porque ninguém os respeitava, não possuíam nenhuma credibilidade, daí oseu ódio pelos homens livres.

Parou a divagação e, óbvio, leu algumas poemas, e depois sentiu vontade de tomar umas lapadinhas de Pitu Gold tirano o gosto com laranja pocã. Tomou a primeira, a segunda e a terceira, tomou, portanto a sua cota. Então sentiu que o desalento estava dando tchau, começava a voltar a sentir a esperança o sonho do homem acordado.

Mas para fechar a sessão poesia que cura desalento sentiu vontade de ler um poema do poeta português Sidônio Muralha. Leu declamando baixinho com sua voz horrível:

"Parar não paro./ Esquecer não esqueço./ Se o caráter cuta caro/ pago o preço.// Pago embora seja raro./ Mas homem não tem preço/ e o peso da pedra eu comparo/ à força do arremesso.// Um rio só se for claro,/ correr, sim, mas sem tropeço./ Mas se tropeçar não paro/ - não paro e nem mereço:// E que ninguém me dê amparo/ Nem me pergunte se padeço./ Não sou e nem serei avaro/ - Se caráter custa caro/Pago o preço".

Satisfeito, se preparou para dar uma voltinha no bairro e passar na banca de revistas ia comprar uma revistinha de palavras cruzadas tipo médio. Saiu caminhando a passos lentos e cantarrolando baixinho eanimado com sua voz, repto, horrível: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia...". Era um véio teimoso e esperançoso. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/06/2019
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