Viciados anônimos

Fui visitar o VA (Viciados Anônimos) da minha cidade, caso você não conheça, sinal que não é viciado em nada, os viciados e ex viciados que convidam pessoas com diversos vícios para participar, para os demais, o grupo permanece anônimo.

Me convidaram e eu não entendi muito bem o porquê. Eu não bebo, não fumo, não injeto drogas na veia e nem sou “viciada” em homem nenhum. Mas, eu fui, inclusive, para tentar descobrir qual era o meu vício. Há quem diga que um viciado não se reconhece assim, normalmente.

Antes de ir, chequei minha bolsa: um molho de chaves, um livro, um batom rosado, minha carteira e MEU DEUS DO CÉU! ONDE FOI PARAR O MEU NARIDRIN?

Com esse tempo seco, minha rinite ataca e necessito do tal descongestionante nasal tanto quanto preciso de oxigênio, afinal, sem ele o oxigênio não entra direito e parece que vou morrer sem ar. Exagero? Experimente respirar pela boca por um dia inteiro.

Enfim, perdi a hora procurando o Naridrin, mas o achei na gaveta da cômoda. Peguei minha bolsa e fui a pé mesmo, porque o VA fica perto de onde moro.

Cheguei ao local e Pedro me recebeu com um abraço, agradeceu minha presença e disse que esperava que eu conseguisse me recuperar. Ora bolas! Me recuperar do que?

Entrei e tinha muita gente ali, acho que metade da população é viciada em algo e certamente eu não faço parte dessa parcela. Estava ali porque Pedro é meu amigo de anos e não queria desapontá-lo.

Pinguei duas gotas de Naridrin em cada narina, antes de me sentar. Como eu só estava visitando, não era obrigada a falar nada, então só ouvi e observei. Ainda bem! Já pensou se eu tivesse que falar sobre meu vício, sendo que nem viciada eu sou?

Pinguei mais três gotas em cada narina, as anteriores não serviram pra nada. Imagino que seja por causa do ar condicionado. Fiquei lá ouvindo as experiências, tinha gente viciada até em sexo! Uma loucura!

Pinguei mais algumas gotas de Naridrin, esse ar tá ferrando com meu pobre narizinho.

No final da conversa, o responsável pelo grupo deu uma palavra sobre o processo que levaria à superação e coisas do tipo. Achei muito bonito, espero que os viciados tenham guardado a mensagem na mente.

Pedro veio até o local em que eu estava, agradeceu minha presença e disse que me esperava na próxima reunião. Sorri e pinguei mais algumas gotas de Naridrin. Ninguém merece esse ar atrapalhando minha respiração!

Fui embora sem entender o motivo de eu ter ido, mas foi legal ter ouvido as experiências. Já pensou você se tornar dependente de algo a ponto de não conseguir viver sem? Deus me livre!

Fico até afobada ao pensar nisso e pingo mais algumas gotas do descongestionante.

Esse tempo seco acaba comigo, com meu nariz e com meu Naridrin. Tinha pouco dentro da embalagem, daria pra usar só a noite. Tive que comprar outro. Já pensou se acordo de madrugada? Como seria sem ele?

Peguei meu carro, já estava tarde e não havia nenhuma loja ou farmácia aberta. DEUS AMADO! Como faço agora?

Joguei no Google e achei uma loja de conveniência aberta na outra ponta a cidade. Demorei a chegar lá, mas ao menos comprei o Naridrin.

Não dá pra ficar sem!

Pinguei mais algumas gotas e voltei pra casa. Me preparei pra dormir, pinguei mais algumas gotas e agora estou pensando no povo da reunião. Espero que se recuperem, deve ser muito ruim ser viciado em algo.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 23/09/2019
Reeditado em 23/09/2019
Código do texto: T6752190
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