Viver, viver, e priu

Sabia que estava enfrentando os achaques da idade, aliados a problemas de grana, algumas decepções e o escambau de adversidades. Mas, mesmo assim, insistia e utava para não entregar os pontos. Achava que deva viver, viver, e priu. Lembrava sempre da orientação de Clarice Lispector: "Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Mas anão se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

Precisava de algum alento, fantasia, sonho e viajar no tapete mágico da imaginação. Nunca desistir. Não se render à raiva, ao rancor e muito menos ao ódio gratuito e de qualquer tipo.Pensando positivo jpa estava de alto astral, mas precisava de mais um complemento. E nao era um cafezinho estupidamente quente. Foi à cozinha e botou uma lapada de Pitu Gold num copinho pesadinho. Depois cortou um limão daqueles bem bonitos e espremeu dentro da lapada, derramou a porção do santo e a do Che Guevara e tomou o resto de vez. Fez a caretinha de praxe mas depois lambeu os beiços. Foi então ao velho gravador e botou uma velha fita-cassete. Sentou na cadeira de balanço e ficou ouvindo. A primeira música que tocou foi "Chão de Estrelas": "Minha vida era um palco iluminado, eu vestia de doirado, palhaço perdido das ilusões...". Depois Dalva de Oliveira sucedeu Sílvio Caldas cantando: "Barracão de zinco, sem telhado, seu pintura, lá no morro...". Mas foi a terceira que fez o homem vibrar e retemperar de vez as forças. Saiu o sabão de Gonzaguinha na voz da Rainha Maria Bethânia: ""Viver e não e não ter vergonha de ser feliz". Ouviu e saiu para a rua, ia dar umas voltas e respirar ar puro. Era ´preciso viver. E priu. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 22/11/2019
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