LET ME TRY AGAIN (CONTOS EVANGÉLICOS)*

Poucas vezes tinha sentido o corpo tão pesado. Cada passo era dado com dificuldade, sendo obrigado a parar várias vezes. Havia decidido voltar depois de muito pensar, muito refletir. Mas levantar-se, se arrumar e sair tinha sido em um impulso. E este perdia sua força a cada instante. Chegava a sentir um mal-estar físico, suando frio e com a barriga parecendo um caldeirão.

Buscava forças tentando recordar quando a conhecera, a paz que sentira. Na felicidade de se sentir amado e protegido. Nas palavras de sabedoria que estavam ali para que ele usasse quando quisesse.

Mas as dúvidas eram horríveis. Praticamente as que tivera no início, só que agora muito mais fortes. Adorava o mundo. Mesmo que não fizesse parte de suas expressões, mergulhava com gosto no estudo e compreensão de todas as facetas dele que podia, tal um antropólogo em uma tribo de índios.

E se fosse só isso. Tinha aprontado tanto! Como um porco, voltado a lama mais suja da vida e lá se chafurdado com gosto! Arrastado seu corpo, cada centímetro, nas partes mais sujas de cada chiqueiro que procurara e encontrara. A cada passo a imagem ia se tornando mais clara em sua mente. Lá de cima ele sendo apontado: Você não é digno de pisar este chão!

Quase por mágica, quando dobrou a esquina, ela apareceu. Enorme, imponente! Dez vezes maior do que se lembrava... A igreja; que há tantos anos abandonara. Toda iluminada, os fiéis entrando, felizes e se cumprimentando. Permaneceu estático, olhando-a. Tremia. Toda coragem que procurara reunir por tanto tempo simplesmente desapareceu. Não conseguia subir nem ir embora. Já ouvia a melodia do primeiro hino sendo tocada.

Tentava desesperadamente orar ou conversar com Deus, mas as palavras não se formavam em sua mente. Da sua boca saiam apenas grunhidos sem sentido. Tentou uma oração pronta, o Pai Nosso. Acompanhar os hinos vindos de dentro do prédio. Nada funcionava! A consciência de quão patético era o seu estado só aumentava a sua aflição.

Como um raio de luz surgiu o refrão de uma canção em seus pensamentos. Passou a cantá-la, no início baixinho, depois à todos os pulmões, sempre olhando para o céu:

" Let me try again

Deixe-me tentar de novo

Let me try again

Deixe-me tentar de novo

Think of all we had before

Pense em tudo que tivemos antes

Let me try once more...

Deixe-me tentar mais uma vez

...Just forgive me

Me perdõe

Or I`ll die

Ou eu vou morrer

Please me let me try again "

Por favor me deixe tentar de novo

Lentamente chegou ao portão. Acima, depois das escadas, a porta iluminada da entrada. Degrau por degrau, subiu e entrou.