Ao seu lado

Era uma vez uma mulher solteira, à caça de algo ou alguém que aplacasse sua sede por si mesma, sua sede por sentir-se perto de um corpo ou dentro de uma história. Era, aquela vez, uma mulher faminta de qualquer pessoa, fosse homem, mulher, fosse até animal. Seus critérios estavam rasos, apesar de que até já era, na ocasião, uma moça de finas escolhas.

Na época suas necessidades fisiológicas mesmo de encostar em pele humana confundiam-se com uma mais pura e frágil necessidade: a de se encontrar alguém a quem se ame. Colo e pintos, carinho e masturbação, admiração e desejo, amor e lascívia eram quase tudo a mesma coisa, a mesma possibilidade de se encher um vazio rudimentar, anônimo e horroroso.

Eis que interrompeu-lhe o passo este sujeito.

Não era um troféu, mas era charmoso.

Não era galante, mas esperto.

Não era belo, mas não se importava.

Não era rico, mas estava limpo.

Não era agressivo, mas se aproximava.

Não era romântico, mas era doce.

Não era incrível, mas autêntico.

Não era o máximo, mas estava disponível.

Não era alto, mas era um homem.

Ela entregou-se a ele naquela noite e nas noites seguintes, sabendo que outras mulheres se revezavam na cama dele nas noites em que ele não ligava. De vez em quando ele não a atendia. Ela tinha ciúmes e paciência, frieza e paixão. Ela queria-o tanto que se abstinha de vê-lo. Era uma estratégia dolorosa, mas as mulheres sabem que há, na vida, sacrifícios compensatórios.

Outro dia, esta caçadora nossa debruçou-se na janela e relembrou o tempo em que aquele homem ainda era um simples homem a quem sucedera salvá-la duma amarga solidão. Hoje, leoa humana, achou seu homem galante, belo, rico, incrível, o máximo. Hoje ela não estava mais apenas satisfeita, amando, querendo-o. Ela estava sinceramente admirada dele. Ficou orgulhosa de si por tamanha vitória e descansou, merecidamente, porque naquela noite o melhor homem do mundo se deitaria exatamente ao seu lado.