🗣️🔹🔷O sabichão

Havia dois bons cozinheiros disputando a mesma vaga de chefe de cozinha em um bistrô grã-fino.

O dono do estabelecimento, que já estava no mercado há mais de quarenta anos, ficou impressionado com a habilidade de ambos, mas realmente ele só precisaria de um colaborador – queria o melhor!

- Rapazes, vocês são ótimos e cozinham de maneira diferente! – disse o Chef-proprietário – Mas não sei qual escolher, então vou observá-los por uma semana!

Abel era o candidato mais experiente, já se sentia o vencedor. Quando o proprietário aparecia naquela cozinha de porte industrial, ela já abordava o seu rival, o Batista, e fazia questão de dar dicas, ser visto pelo chef “ensinando”, mas apenas com o intuito de “aparecer”.

Já o Batista, quando tentava compartilhar, de maneira despretensiosa, algo de seu conhecimento gastronômico, que também não era pouco, Abel fazia questão de desdenhar, menosprezar, toda e qualquer informação. Era chato, arrogante e dogmático naquilo que sabia fazer.

E assim foi durante seis, dos sete, dias de experiência.

No sétimo dia o proprietário não pediu nada que estivesse no cardápio. Disse apenas:

- “Surpreendam-me!”

Surpreender é um dos verbos que rege a alta gastronomia, assim como encantar, degustar. O Verbo alimentar é apenas um bônus nesta arte.

Eles tinham sessenta minutos para prepararem um prato, qualquer que fosse, usando os ingredientes de sua preferência, mas tinham que, acima de tudo, surpreender.

Em quarenta e cinco minutos depois os pratos estavam sobre a mesa. Ambos tinham uma apresentação belíssima, cheiro e sabor equilibrados, mas o Batista conseguiu surpreender muito mais.

- Por quê? – indagou Abel.

- O seu prato está ótimo, como sempre, mas era exatamente isso que eu esperava de você... Seu estilo, em usar ervas aromáticas e raiz forte, eu reconheceria em qualquer lugar do mundo!

- Então, o que há de errado nisso?

- Não há nada de errado, mas o seu colega conseguiu se superar – disse apontando para o prato – quase não reconheço sua maneira de cozinhar, pois havia uma influência de sua técnica na dele, com o toque da doçura oriunda do estilo próprio do Batista.

Abel ficou em silêncio tímido e descobrira ali o seu erro.

O erro não foi o fato de compartilhar conhecimentos, até porque nunca tivera tal intenção, mas o fato de não saber ouvir, pois a sua vaidade não o permitiu aprender algo novo, ver de outra maneira, de outro perspectiva, a mesma situação.

O Batista, além de sua técnica peculiar, aprendeu as técnicas de seu rival durante a semana, pois havia transformado a competição em uma oportunidade de aprendizado. Fez de um “conflito” o seu workshop.

A experiência é algo maravilhoso em nossa vida, mas não devemos engessar o nosso conhecimento em nome de nosso orgulho. O silêncio e a observação também vêm como princípios de algo maior que uma “boa experiência”, pois são premissas da maturidade. Observe as pessoas mais barulhentas em dados momentos, pois, elas são, geralmente, as pessoas que tem menos a dizer, mas podemos sempre aprender algo até com tais pessoas, mesmo que seja apenas de “como não devemos agir”.

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Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo; conheça o terreno e as condições da natureza, e você será sempre vitorioso. – SUN TZU