Passeio na praça

Marcelo estava todo empolgado, pois seria o primeiro final de semana que sairia de casa, não acompanhado pelos pais, mas moveria sozinho. Já estava na idade de quinze anos, ou seja, já se cumpria o período da adolescência.

Muito feliz, vestiu-se uma calça azul de jeans, uma camisa de malha com um desenho na frente, talvez uma propaganda de um novo modelo de aviação, um avião modelo 737. Com o dinheiro recebido do mês, pois trabalhada como menor em uma empresa, ele comprou um lindo tênis na cor preta. O cabelo foi cortado na manhã e o cabeleireiro fez um lindo corte. No braço esquerdo, via-se um relógio da marca “oriente”, o que estava no auge. No pescoço, uma pequena correntinha e um crucifixo na cor prata, recebido de presente da mãe no dia em que completou os quinze anos.

Quando os sinos da igreja Matriz tocavam as seis badaladas e anunciavam dezoito horas, hora do “angelus”, Marcelo dava um forte abraço nos pais e nos pequenos irmãos. Iria tranquilamente para assistir à missa das dezenove horas. Reuniria com o fiel amigo Carlos, amigo deste pequeno e que trabalhava em uma fazenda, mas era o coordenador do grupo de jovens da paróquia.

Os olhos enchiam de alegria, pois já se pensava ser independente. Muito bem educado, um ótimo aluno na escola e que pensava ser professor, Marcelo já se encontrava nas escadarias da Igreja. Logo, o amigo chegaria e os dois iriam providenciar as músicas e a reunião com outros jovens. Após a missa, a reunião foi rápida. Juntos, desceram as escadarias da igreja e puseram a contemplar a praça da cidade.

Uma pequena rua calçada com pedras em calcário separa a entrada da igreja com o início da praça. Algumas árvores de coqueiro, pinheiro, ipê e demais outras cercavam o local. Podia-se ver pequenas sementes e folhas pelo chão, pois a estação predominante era a estação de outono. A praça, também chamada por muitos de jardim, tinha os bancos feitos de cimento. Não eram muitos, mas os poucos que tinham estavam todos tomados por pessoas que ali sentavam. Alguns jovens, casais de namorados em pleno amor romântico, senhores e senhoras, ali estavam sentados. Vários canteiros de flores estavam espalhados por ela. Na grama verde, enxergava-se as plantações de rosas, margaridas, beijos e outras espécies. A iluminação não era de boa qualidade, pois o ano era de 1981. Ano em que a cidade se iniciava um programa de expansão. A companhia telefônica já instalava novas linhas telefônicas, bancos se planejavam construir agências, enfim, o progresso pouco a pouco ia surgindo.

Na metade da praça, tinha sido construída uma fonte de água. De mais ou menos oito metros de diâmetro, ela era admirada por muitos. Uma pequena mureta era a separação da fonte com a praça. O movimento de pessoas era muito grande e vários se sentavam nas muretas. Logo saiam correndo apressados, pois as águas da fonte eram jogadas para cima em várias cores, pois, logo abaixo da saída da água, existiam luzes de muitas cores.

O passeio ia-se estendendo até o final dela. O espaço era estreitado e não tinha muito movimento ali. Para quem estivesse do lado direito, iniciava-se uma longa passarela indo em direção à igreja. Ali, como de costume, era destinado ao encontro de namorados. Altas árvores, mas sem qualquer tipo de banco, a passarela se estendia entre vários canteiros de flores, gramas. Por coincidência, naquele local, a iluminação era ainda mais fraca. Muitos davam nome aquele lugar de lar dos namorados.

O coreto foi construído do outro lado da praça. Perto dele, dois bares com imenso movimento. Lá, eram vendidos deliciosos pastéis de queijo, carne e refrigerante. Ao lado de um dos bares, tinha o cinema da cidade. Ali, vários filmes eram passados e lindas músicas eram tocadas, pois no auge dos anos musicais, canções de Elvis e outros cantores eram executadas. Lembra-se da música tema do filme “O dólar furado”.

Marcelo se via encantado ao ver que as moças da época passeavam dando voltinhas, indo de uma ponta da praça até a outra, sempre passeavam de duas a duas, de três a três. Para Marcelo, ali era o ponto predileto de todos. Jovens, adultos e outros mais lançavam o primeiro oi em busca de conquistas amorosas. Ele pensava e refletia consigo que muitos namoros, muitos noivados e muitos casamentos eram nascidos ali, naquele local, ao som de boas músicas tocadas no cinema.

A noite foi passando. Logo ouviu-se o emudecer das músicas do cinema, que eram cortadas por um agudo e longo apito de uma sirene que anunciava o início do filme. Alguns ainda corriam e convidavam algumas moças que desfilavam na rodinha para o filme. Uns riam, outros fechavam a expressão porque tinham recebido um não.

Aos poucos a praça ia ficando vazia. Pois já se passavam das onze horas da noite. Marcelo, feliz e rindo junto dos amigos, se despedia de todos e caminhava tranquilamente para a casa e pensando no próximo fim de semana. Será o segundo dia para ir passear na praça.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 17/05/2020
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