A Consciência do Verde

Manhã fria, sábado. De pantufas, roupão sobre o pijama de flanela, ele abriu a porta da frente para apanhar o jornal que o entregador atirara a pouco com precisão de arremessador de beisebol. "Aumenta o buraco na camada de ozônio", leu na manchete principal, antes de fechar a porta e voltar para o interior aquecido da casa.

Sentou-se no sofá, cenho franzido. Essa história da camada de ozônio já não tinha sido resolvida? Algo a ver com os gases CFC ou algo assim, recordou-se. Abriu o jornal para ler a matéria; haviam entrevistado alguns especialistas importantes em conservação e recursos naturais. Falavam que até mesmo a produção de alimentos poderia ser afetada, além de poder acarretar uma série de problemas de saúde como câncer de pele e favorecer a ocorrência de herpes. Credo!

Os grandes conglomerados da indústria química, que pareciam ser os responsáveis por aquela situação, estavam pedindo paciência à população. Como assim, paciência? Precisavam mudar os procedimentos na cadeia produtiva, encontrar novos gases que substituíssem os CFCs, essa espécie de coisa. Bela alegação, mas enquanto isso, o tal buraco só fazia crescer.

E o que ele poderia fazer, objetivamente? Talvez pudesse listar os produtos que ainda usavam CFCs, e verificar se havia substitutos. Talvez pudesse fazer uma campanha na imprensa para conscientizar as pessoas do perigo que a destruição da camada de ozônio representava para a vida na Terra. Reconfortado por essa ideia, dobrou o jornal e o colocou sobre a mesinha de centro da sala.

Depois, voltou para a cama, dormir mais um pouco. A geladeira, pensou; podia trocar a geladeira por uma que não usasse CFC. Talvez conseguisse convencer a rede de lojas para a qual fazia o marketing a adotar a ideia.

Uma consciência verde talvez acabasse por se converter num outro tipo de verde, o que faz retinir a caixa registradora, pensou antes de adormecer.

- [07-07-2020]