Tempo (22.02.2018)

Comecei a olhar a parede verde claro em minha frente, lotada de anotações coloridas. Gosto de coisas coloridas. Completava 3 dias consecutivos sem dormir, sentia medo de me olhar no espelho.

Precisava estudar, mas tinha esgotado todas as energias do meu corpo. Relógio passa a marcar exatos 04:00 da manhã.

Começo a entrar em pânico. Deveria estar mais focada. Abro mais um litro de energético e misturo com guaraná em pó. Sei que isso seria uma bomba para o meu corpo, mas precisava. O corpo pedia e a mente gritava.

O pensamento em gritar faz minha mente viajar novamente, há dias que não possuía mais controle dos meus próprios pensamentos.

Quando me dou por conta estou de volta aos meus 7 anos de idade, minha mãe gritava. Ela gostava de gritar. Raramente me batia, mas foi diferente aquele dia. Tinha uma marca vermelha latejante em minha perna. Já não sentia tanta dor, talvez fosse por estar assustada com a situação e apenas ela gritava palavras e mais palavras. Na época não conseguia entender o que significavam, hoje gostaria de continuar não entendendo.

Lembro-me de seu olhar verde, sentia a raiva emanando dele, seus cabelos escuros caíam pelo ombro. Ela tinha um belo cabelo.

Finalmente consigo focar no presente. Sentia raiva por não conseguir controlar meus pensamentos e por não conseguir entender tudo o que estava acontecendo.

Levanto e vou até a cozinha. O apartamento se encontrava em total silêncio, todo o condomínio dormia de forma serena. Encho mais uma caneca com um fluído negro de cafeína. Penso então em toda aquela substância em meu corpo e em suas consequências. Passo longe dos espelhos.

1,2,3... Conto meus batimentos cardíacos, 120 bpm. Volto para a mesa e recomeço os estudos, mas não demorou muito para que perdesse os sentidos novamente. Agora tenho novamente 6 anos de idade.

Era uma manhã quente, sentia um aperto no peito, mas não sabia explicar o motivo. Corri até a cozinha e comecei a abrir todos os armários. A caneca dele já não estava mais lá. A caneca que eu dei. Minha garganta doía e eu não conseguia mais controlar as lágrimas. A presença dele já não estava mais naquela casa e minha mãe chorava.

Era como se eu estivesse sendo engolida pelo espaço vazio no armário da cozinha, no armário do quarto e até mesmo no espaço entre o sofá e a parede.

Foi naquele dia que ela passou a me olhar diferente. Argumentava que eu a irritava, pois era muito parecida com meu pai. Não conseguia entender como ela considerava aquilo como algo ruim. Ainda não entendo.

Em algum momento após o sol nascer acabei adormecendo por cima dos cadernos de rabiscos inacabados, com uma caneca vazia em uma das mãos e vídeo aulas em andamento. Mergulhei em um sono tranquilo, sem sonhos, medos, pressões ou ansiedade. Era como se tivesse voltado no tempo onde era apenas uma pequena semente de vida em formação.

caroltell
Enviado por caroltell em 08/07/2020
Código do texto: T6999805
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