EXTRA, EXTRA

Extra, extra!, Acabou a Pandemia, acabou a Pandemia! Gritava um garoto. De repente a rua ficou cheia. Algumas pessoas ainda estavam de pijama, outras com o cabelo despenteado, outros com o prato na mão. A velha Tonha correu sem roupa de dentro de sua palhoça que ela chamava de "mirtoro", mas era na verdade um banheiro improvisado. A multidão já tomava a rua e espremia o entregador de panfletos. O garoto ficou assustado com tanta gente ao seu redor. Temeu por sua vida e sem entender, ofereceu a todos um panfleto. Mas o povo cada vez mais curioso se aproximava dele. O velho Marquise foi o primeiro a perguntar: - Ô menino, repete aí o que cê falô. Repete aí, vai. O semblante do garoto se modificou e neste instante saiu em desabalada carreira ladeira abaixo. Mas foi perseguido pela multidão curiosa. O garoto já tinha perdido as sandálias naquela confusão, o boné, mas os panfletos ainda estavam debaixo do braço. Quando se deparou com uma rua sem saída, logo pensou: - Estou perdido!. Então subiu em uma cano colado à parede do galpão da velha fábrica de agave. A turba já tinha chegado aquele beco e gritava bastante. O garoto conseguiu chegar ao primeiro andar e procurava um esconderijo naquele galpão abandonado. Um dos perseguidores, Zé Tripa, se ofereceu para subir até onde estava o garoto. Então depois de algum tempo conseguiu alcançar o entregador de panfletos e o exibia como um troféu para toda a multidão. - Óia aqui o travesso pro cês. O garoto assustado já estava todo sujo e desanlinhado. Então Quinca Pé de burro perguntou: - Antã é verdade que essa tal pandemia cabô, mermo menino?. O garoto olhou a todos com um ar de medo e desespero e depois de alguns segundos, disse: - Sim, cabô mermo. Premero foi a Pandemia do arroi, e agora o seu Duda pediu para eu falá da Pandemia do milho. Fartou dizê pro cês qui dispoi de manhã vai cumeçá a pandemia do feijão no mercadin do Duda. Tá qui o foieto. O garoto jogou todos os folhetos que estavam encartados no jornal. A rua ficou coberta de papéis e deserta também. Todos esperavam o grande momento do fim da quarentena e da pandemia, mas se decepcionaram com aquela revelação do garoto. Então voltaram para as suas casas cabisbaixos e tristes. Mas não perderam a esperança que iriam comemorar a festa da padroeira Aparecida muito em breve.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 10/07/2020
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