MUCURIPE

Mucuripe

Mais uma vez aconteceu. Lá estava eu parada,colada,na pedra do porto há tua espera. O olhar perdido nas águas do mar,pois é sina da mulher de pescador esperar,esperar,esperar…

As mulheres de Atenas enquanto esperavam seus maridos teciam longos tapetes e se vestiam de preto e choravam a ausência dos mesmo. As mulheres baianas ao contrário, colocavam seu vestido mais colorido, seu colar de contas de cores variadas e uma flor de maracujá no cabelo, raspavam o xibiu e se banhava em água de cheiro

As embarcações partem pela manhã e ninguém sabe quais são os desígnios de Iemanjá, quantos irão voltar.Quem ficará preso nas redes de Janaina, no canto da sereia ou na luta com o peixe de prata. O mar tem seus mistérios, seus abismos e ciladas e o destino dos pescadores é sempre uma incógnita. E suas mulheres aprendem desde menina a conviverem com a espera pela volta do pescador, primeiro por seu pai,depois por seu irmão e finalmente pelo seu homem.

As embarcações quando apontam na curva do mar, despertam uma dúvida no coração das mulheres, quem estará voltando ? e só quando reconhecem a vela e que um alívio toma conta do coração tão sobressaltado, sedento de carinho que esperou,espera e esperará pelo tempo que for necessário para se entregar a seu homem. Mulheres de pele morena como o sapoti, seios e quadris fartos, com cabelos encaracolados e solto a balançar ao sabor da brisa do mar .

O sol já se esconde no horizonte e a lua formosa e nua desponta transformando em prata o caminho de ouro deixado pelo sol.

Os peixes brilham a luz da lua como se fossem esculturas de purpurina e então os Joãos, Pedros, Antonios e Binos que voltaram do mar, seguram com força sua cabocla e apressam o passo rumo a sua casa, pois sabem que sua estrovenga será engolida pelo xibiu.

E mais uma vez aconteceu. Eu fiquei parada colada na pedra do porto, mas sua chegada fez tudo valer a pena.

aureliano de queiroz
Enviado por aureliano de queiroz em 10/07/2020
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