Inesquecível mesmo!

26.04.2021

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Paulo Eiró Gonsalves, Pediatra formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1953, sempre esteve envolvido em estudos e meios alternativos ao tratamento à saúde, baseados na boa alimentação, na homeopatia e na qualidade de vida. Conhecido como Dr. Bororó pelos seus pequenos pacientes escreveu 12 livros, entre eles “A Criança: Perguntas e Respostas”, que esteve entre os dez livros mais vendidos em 1971, e o “Livro dos Alimentos”, ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Ciências Naturais em 1993.

É essa a biografia resumida do pediatra dos meus filhos quando pequenos, que encontrei na Wikipédia. Lembrei-me dele agora, pois o meu filho mais novo irá ser pai e foi seu paciente, como o mais velho. Foi indicado por um casal amigo. Tínhamos o seu livro A Criança: Perguntas e Respostas mesmo antes de consultá-lo, que nos servia de bíblia e muito usado naquela época e até hoje.

Dr. Paulo Eiró era uma pessoa peculiar, gentil e tranquilo, alto, magro e de pele bronzeada, fala calma e compassada, com cabelos brancos e olhos azuis muito claros. Suas consultas eram abrangentes e longas, fazendo-nos perguntas sobre os nossos hábitos de vida, de alimentação, de lazer e demais.

Em uma delas, nos apresentou uma receita totalmente inusitada:

Depois de fazer todo o ritual de pesagem, medições, escutando pulmões, coração, fora as conversas que mantinha com eles, perguntando-lhes sobre vários assuntos, divertindo-se com as respostas que recebia, comentou conosco:

-Estão precisando de um reforço de ferro no organismo.

-Podemos fazer com que eles comam fígado, mesmo eu não gostando, pois sei que possui bastante ferro, como o feijão, não é doutor? – disse-lhe a mãe, sabedora que não receitaria nenhum complemento vitamínico alopático, por ser um homeopata ferrenho.

-Perfeito! Mas o ideal seria de um animal selvagem, pois os de mercado acumulam muitas substâncias ruins no fígado pelo confinamento em que vivem – completou na sua calma bovina e sem cerimônia, como se fosse a coisa mais normal do mundo obter esse alimento.

Entreolhamo-nos eu e ela estupefatos e surpresos, pois aonde e como iríamos encontrar fígado de animal selvagem?

-Mas doutor, como encontraremos esse fígado selvagem? – perguntei-lhe espantado.

-Olha sei que é difícil, mas ir a um sítio onde tratem os animais sem ração industrializada, só pasto sem nenhum defensivo, totalmente natural, seria o ideal.

-Vamos ver, mas se não encontrarmos, pode ser o fígado normal que temos nos açougues? – retruquei.

-Sim claro, mas não será igual ao selvagem.

Saímos da consulta questionando o Dr. Paulo Eiró:

-Ele esta caduco! Tem cabimento essa indicação de fígado selvagem? Acho que é hora de mudarmos de médico, pois daqui a pouco vai falar para os meninos comerem rim, coração e tudo o mais de bicho selvagem – ela comentou inconsolável.

-Pois é, fígado de animal selvagem, essa é boa. Talvez eu tenha que sair caçando por aí – respondi rindo.

Não conseguimos claro o fígado selvagem e começamos a fazer o não selvagem, frito com cebola, batido na sopa e de outras maneiras para disfarçar a sua consistência e gosto, mas os meninos descobriam e não comiam, detestavam. Eu nunca fui fã dessa carne, mas depois de tentarmos comer com eles, comecei a gostar, apesar da consistência estranha que tem essa víscera. É bem saborosa.

Mudamos tempos depois para outro pediatra alopata, acho que foi o que fez o parto do meu filho mais novo, complicado, com a necessidade do uso do fórceps de alivio, ficando ele mais de 15 dias na incubadora. Hoje é um belo homem e logo vai ser pai; vingou!

Assim, foi a nossa passagem pelo querido e pitoresco Dr. Paulo Eiró, que muito nos ajudou no inicio da vida dos meninos. Faleceu em 2010 aos 83 anos. Gostava dele, com boas lembranças daquelas sessões, onde aprendemos muito com a sua sabedoria e gentileza, mas essa de receitar fígado de animal selvagem é inesquecível, querido Dr. Paulo Eiró, inesquecível mesmo!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 27/04/2021
Código do texto: T7242311
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