O Novo funcionário

Foi num clima de sussurros excitados e risinhos nervosos, por parte das mulheres, funcionárias do cartório, que Julião apareceu na vara criminal, com um ofício nas mãos, procurando pelo escrivão.

Dona Marta, uma viúva cinqüentona, que carimbava seus processos, foi quem o recebeu. Sem ao menos ler o ofício de apresentação que o recém-chegado lhe entregava, anunciou alto:

- Dr. Bello, olha o novo funcionário chegando!

Eu, que nesta época era o escrivão, responsável direto pelo pessoal do cartório, aguardava com ansiedade a chegada de um novo funcionário, pois os serviços andavam atrasados por falta de gente. Observei o cidadão que se apresentava. Sujeito alto, tipo atlético, bigode, boa aparência.

- Já não é sem tempo que a Corregedoria nos manda alguém – disse eu, aproximando-me do rapaz. – Você já trabalhou em processamento?

Julião fez que sim com a cabeça.

Após receber o material necessário, pôs-se a trabalhar. Colocando o papel na máquina passou a demonstrar grande agilidade e desembaraço.

Ao final do dia havia produzido vários mandados e ofícios na mais perfeita gramática, com todas as vírgulas, pronomes e crases. Trabalho perfeito, digno de elogios do próprio juiz, que os assinava no final do expediente.

No dia seguinte, todos aguardavam a chegada do Julião e ele nada de chegar.

No final do expediente, recebemos um ofício vindo da direção do Instituto Penal Romeiro Neto informando que “... o nacional Julião de Souza, que se encontrava no gozo do benefício da prisão albergue e que tinha sido colocado à disposição da vara criminal, para prestação de serviços, evadira-se, razão pela qual deixou de ser apresentado”.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 20/11/2007
Código do texto: T745201
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