Cais

Essa época, eu estava a serviço em uma empresa na grande São Paulo, uma experiência nunca antes ocorrido.

Nessas rotinas de trabalho, tive a oportunidade de conhecer pessoas de todos os cantos do Brasil, como também de prestar serviço no litoral de Santos, onde tínhamos de ficar hospedados em um hotel que estava locado em um lugar, que por muitas vezes era recusado por outras empresas, por ser exatamente na ""boca do lixo"" em Santos, no litoral Sul, da Grande São Paulo.

Aqueles tempos, ocorrências ganhavam sentido, eu achava a vida uma breve viagem, onde o calor humano, bondade, sinceridade das pessoas, se faziam valer. Havia aprendido que entre uns e outros, sempre há uma boa pessoa e que a amizade, era maior valor. Certamente que entre os bons, haviam também os espertalhões, querendo tirar vantagens dos mais simples e humildes. Ocorre que, entre os companheiros da empresa, eu ir dividir o quarto de hotel com um Paulistano , que de momento passava por crise emocional, isso era visivelmente claro, somente observa-lo, vê-lo, e os sinais estavam visíveis. Sua ansiedade, modos entregavam-lhe , dizendo que algo realmente estava fora de controle. Durante o percurso, falou pouco, manteve-se quieto, ao chegarmos, fomos para o hotel descansar. Já alimentados, ficamos conversando, ele parecia perturbado, tanto e tanto, que não parou de falar dos problemas conjugais, notei que precisava desabafar e que as vezes em suas questões mal resolvidas, ele mesmo tinha respostas, observando-o, notei que estava paranoico.

Tentei deixa-lo distraído, porém, ele se aprofundava em seus discursos, choramingando, entristecido, cabisbaixo e arruinado.

Eu que também estava longe de casa, ouvindo aquele lamento refleti sobre coisas conjugais. Certamente acuado ao vê-lo desferir palavras amorosas ditas para esposa, mas não reconhecidas pela amada. Aquela conversa estava ficando descabida, homens cometem façanhas e o que esta feito, esta feito. Havia muita lenha para queimar e se me permitisse continuar ouvir aquela história, chegaria há um stress também, homens casados recusam velar por falhos momentos. A pressão foi aumentando tentei mudar o rumo da conversa, as horas se aproximavam do fim do dia . Estávamos no final de ano o sol demorava se esconder, ainda estava claro e a cidade acontecia.

Num pulsar repentino me ocorre de lembrar que o hotel estava locado em ruas no centro da cidade, tinha por hábito de chamar ""Boca do Lixo""" por motivos que marujos, comandantes e tripulação, aos desembarcar no Porto de Santos,

em madrugadas dirigiam -se para esses hotéis, bordeis e botecos, causando maior movimento de prostitutas, viciados, loucos e boêmios desajustados. Ao olhar pela janela lembrei-me de que haviam comentado sob os riscos de caminhar pelas madrugadas. Recém chegados deveriam manter-se em equipes, devido risco de assaltos e crimes constantes. Vendo que ainda estava claro, convidei meu parceiro para fazer uma caminhada, acalmar os sentimentos abalados esfriar a cabeça, relaxar. Enquanto ele profundamente mergulhado em seus pensamentos e tenta achar um oásis para se acalmar, eu o convido a sair. Olhando dentro de seus olhos pude ver o desequilíbrio, estampado em seu rosto jovem.

- Hei Sergio!! você conhece Santos? ele assustado, responde-me que não.

Novamente interrogo-o .

- Cara vamos sair, dar uns giros ahi? Ele com olhar triste desanimado, disse:

- Meu irmão a cidade é violenta, você não ouviu eles avisaram cara!!! Se tá louco!!!

-Respondi a ele, que não era tarde. Olhe você mesmo! disse.

Ele se dirigiu até a janela que dava para a avenida Gloria, observando que ainda era dia, fim de tarde, pouco sol ainda com claridade solar.

Sim!!! Disse a mim, vamos dar uns giros...

Ao por os pés na avenida, não sabia onde íamos, eu também não conhecia o centro da cidade, me pus andar, deixei que o momento nos revelasse o destino. Ele ao meu lado cabisbaixo triste, caminhamos sem norte, vendo as pessoas em suas rotinas diárias, o sol estava com últimos raios solar se derramando no asfalto. E chegamos no fim da estrada.

Lembro-me de ver no ancoradouro instrumentos náuticos, pinos da lançante da proa, estátuas de marinheiros, boias, e uma calçada lindamente construída, meus passos não podiam mais definir nada.

Ao olhar para o lado, o Sergio estava com o olhar perdido no oceano azul bem em nossa frente. Então eu entendi, que ali não havia mais nada a dizer, mais nada a fazer. Simples como a brisa que tocou nosso rostos ao admirar tão bela paisagem.

O Cais estava em nossa frente, em silêncio ficamos ali até que a noite veio sem que percebêssemos, e mais um dia chegava ao fim. Voltamos para o Hotel em silêncio, chegamos e fomos descansar , todo o sentimento de fracasso havia se dispersado, e dormimos o sono dos justos.

jrobertomxnomvm
Enviado por jrobertomxnomvm em 04/07/2022
Reeditado em 28/10/2022
Código do texto: T7552362
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