Carta Para Alguém
Assim que ela fechou o envelope, pensou novamente se não se arrependeria do que havia escrito . Não, não...aquele alguém haveria de saber.
Quantas vezes tinha pensando em dizer tudo aquilo? Inúmeras...o sentir silenciava suas palavras na voz, mas não no papel. Na noite anterior, sentou -se em frente à uma folha em branco e deixou que sua mente e seu coração guiassem suas mãos. As memórias iam e vinham no movimento da maré , e ela transformava a força dela em ondas que balançavam a água do seu sentir. Materializava essas ondas em palavras que corajosamente espumavam e se jogavam na beira da praia....para serem admiradas e sentidas.
A cada linha escrita, ela repassava o íntimo do seu coração.
Não tinha certeza se a carta ao ser lida causaria o mesmo impacto de onde ela nascia, mas certamente o seu coração estaria livre de qualquer esconderijo de sentimentos.
Aquela carta era o início de um precipício para qual ela iria se jogar, não sabendo ao certo onde iria cair...talvez em pedras brutas ou em um campo macio com luz e flores. Talvez seria lançada em uma correnteza, num rio de águas leves, ou apenas ficaria pairando sobre as árvores ao sabor do vento de outono, somente esperando o momento de se lançar.
Ela abriu os olhos e decidida com a carta na mão, se levantou. Pegou a bolsa, chaves e foi andando até a porta. Num relance, percebeu que embaixo, no chão, havia um envelope.
Curiosa abaixou-se e pegou aquele envelope nas mãos. Sem remetente. Só havia o destinatário, Para Você.
Com as mãos trêmulas foi abrindo devagarinho. Desdobrou o papel e reconheceu de imediato a caligrafia. Com a respiração rápida e o coração aos pulos, leu devorando cada palavra. Ao final deu um longo suspiro e sentiu uma lágrima caindo...sua carta já havia sido respondida, sem sequer ser enviada. Aquele Alguém já havia se atirado junto com ela para o precipício e caído no campo macio de luz e flores.