Os porquês de meu filho



Estava, eu e minha esposa, conversando quando meu filho, nove anos, entrou no meio da conversa e, sem meias palavras, perguntou:

----Pai! Porque existe a dor?

Fiquei surpreso com a pergunta, feita, assim, direta, objetiva, havia urgência na resposta, tinha que dá-la imediatamente, respirei fundo pedi sabedoria e calma a Deus e sorri e, assim falei:

--- Filho! A dor é algo ruim em nossa vida, ninguém gosta de senti-la, traz sofrimento, não é verdade? Mas, a dor, por outro lado, pode ser considerada como um bom sinal. À medida que falava contemplava o semblante dele e percebia o quanto estava interessado na resposta, eu não podia falar bobagem, tinha que dá-la de forma simples, direta e objetiva. Então continuei:

--- A dor pode ser considerada benéfica pelo seguinte motivo, já pensou se você não sentisse nenhuma dor, o que poderia acontecer? Vamos lá, me ajude, se você não sentisse dor, então, ao colocar sua mão no fogo o que aconteceria a ela? --- Queimaria, foi a resposta. --- Claro! Muito bem. Aí você poderia até perder a mão, não é verdade? O mesmo aconteceria ao pisar em caco de vidro, num prego enferrujado, só algum tempo depois você ía perceber que existia um ferimento em seu corpo e, poderia ser muito tarde, pois estaria infeccionado, fazendo grandes estragos à sua saúde. Vejamos de outro modo, o que acontece quando você sente uma dorzinha na barriga, na cabeça, na garganta, no dente, ou no ouvido? A dor vai te incomodar, mas, por outro lado, é a maneira do teu organismo lhe avisar que algo está errado com algum desses órgãos. Então você chora, fala para sua mãe ou para o pai, nós levamos você ao médico, ele lhe examina e, cuida de você, tratando-o para sarar rapidamente. Se a dor não aparecesse, como poderíamos descobrir que você estava doente e, assim, não poderíamos levá-lo ao médico para tratar você, não é? Meu filho assentiu com a cabeça, concordando. Imediatamente, tão veloz como um raio, sapeca outra pergunta:

--- Pai! Porque existe o medo?

Respirei fundo novamente e segui o mesmo ritual, pedindo sabedoria a Deus para dar a resposta apropriada.

---Filho! Da mesma forma que a dor, o medo é algo desagradável, ninguém gosta de senti-lo, nem de ser dominado por ele. Por outro lado o medo pode tornar-se uma arma de defesa para nossa pessoa. Já pensou na possibilidade de você não poder sentir medo? Pensemos no seguinte: Caso não sentíssemos medo, estaríamos sujeito a entrar na jaula ou no habitat natural de animais ferozes como o leão, o tigre, o urso, poderíamos colocar a vida em perigo ante grandes alturas, poderíamos querer atravessar rios de fortes correntezas ou tentar enfrentar bandidos armados. O medo nos ajuda a pensar e a medir as conseqüências de nossas decisões. O medo põe um freio em nossa vontade, nos ajuda a fazer as coisas não por ímpeto, mas de forma racional, de forma moderada. O medo nos ajuda a tomar decisões que protegem nossa vida, nosso dinheiro, o bem daqueles de nos rodeiam. O medo também nos ajuda a traçar um objetivo para a nossa vida, para o nosso futuro.

Tentando saber se meu filho tinha entendido a resposta, logo ele manda outra pergunta:

--- Pai! Porque a gente quando ver uma menina sente uma coisa lá dentro do peito, que mexe, que dá vontade de abraçar ela?

Nesta altura nem eu, nem minha esposa conseguimos segurar o riso. Então o abraçamos e dissemos:

---Que bom filho, este sentimento que mexe com a gente, que nos faz querer o bem de outra pessoa chama-se amor. O amor ele se mostra de várias maneiras. Quando eu olho para sua mãe e quero abraçá-la, beijá-la é um tipo de amor que nos convida a namorar e depois casar, que pode ser o que você está sentindo também. Daqui a alguns anos você vai fazer o que eu e a sua mãe fizemos, isto é, casar e ter filhos. Ainda, existe o amor chamado fraternal é aquele que você quer o bem do amigo ou amiga e das pessoas em geral. Também existe o amor filial, que é o amor que você tem por seus pais e existe o amor paternal ou maternal, que é o amor do pai e da mãe pelo filho, mas, ainda, existe o amor de Deus por todos nós, este é o maior amor do mundo, é o amor incondicional, Deus nos ama sem estipular condições e ou barreiras. Deus não limita Seu amor por nós.

Dada estas respostas o meu filho saiu tão depressa de nossa presença como quando entrou. Somente o futuro vai nos dizer se ele entendeu ou não o significado delas.