Qu4tro

1, 2, 3, quatro... 4, três, dois, um.

O amor por um número deixa qualquer um louco, e este amor sucedeu-se em completo e próspero o coração de Dna Tetronéia, quando nasceu sua filha, Catrina e criou a menina a base do quatro.

A menina nasceu no dia quatro de abril de 1964, e viveu boa parte de sua vida, completamente toda sua infância e adolescência na praia de 4 ilhas, na quarta quadra, rua 404, casa nº 44. A mãe queria que estudasse fora pra desde cedo ir crescendo com espaço no lugar dos que são algo na vida. Acordava as 4 da manhã e comia 4 pãezinhos de mel, no café amargo da mãe amarga pingava 4 gotinhas de adoçante. Depois que chegava dormia até as 16h, então eram mais 4 pãezinhos de mel, e no pezinho 34 calçava as melissinhas e ia brincar com as 4 amigas que a esperavam, gostava das amigas, mas queria era irmãos, se possível 4!

Formou-se no Ensino Médio dia 4 de dezembro, e com a economia que tinha já de quatro anos promoveu uma grande festa que durou até as 4 da tarde do dia seguinte, quatro bandas tocaram loucamente para seus familiares e mais 40 convidados. No dia 4 de fevereiro descobriu pela internet, após a 4ª vez que entrou no site, que fora aprovada em 4º lugar para o curso de medicina para a faculdade que ficava em outra cidade, á quatro horas de viagem. Por sorte, poderia até escolher: tinha 4 tias que moravam lá, e conforme 4 telefonemas, tudo estava certo para que morasse na casa delas. Do ônibus em que foi, apenas 4 pessoas eram conhecidas, conversou com uma delas não mais que 4 minutos, depois tentou dormir contando carneirinhos, adormeceu quando chegou ao quarto, o quarto era bonito e limpo... Era o que a tia, doce ao contrário de sua mãe, podia oferecer, estava contente ao quadrado com a chegada da sobrinha. Como resto das economias levara 444 reais para ajudar na própria despesa, e também já havia um trabalho esquematizado, de apenas 4 horas por dia. Os primeiros quatro dias foram bem puxados. Mas logo fez amigos, algumas meninas que já estavam no quarto período da faculdade. Juntas iam ao cinema, fazer compras na quarta avenida, os primeiros filmes que assistiu foi o quarteto fantástico, Todo mundo em Pânico 4, e uma sessão especial em homenagem ao cinema brasileiro, relançando O Quatrilho. Tomou porres, o mais tarde que chegara em casa fora as quatro da manhã, porém depois dessa nova fase de sua vida, passara a chegas as vezes as 4 da tarde, e a tia nem falava nada, desde que ela avisasse. Os presentes nas datas comemorativas sempre ganhava 4: um da mãe e pai que enviavam, um da tia, e as amigas se juntavam e compravam dois. Depois de árduos 4 anos na faculdade, formou-se, no dia 4 de fevereiro foi sua colação de grau e estrondosa festa com 400 convidados. Pouco tem depois casou-se com um colega de faculdade, Torquatto, seu primeiro e grande amor. Ela era virgem e na noite de núpcias, de tanto tesão quase quebrou os quatro membros do marido, e descobriu que sua posição favorita era de quatro. Na profissão era bem sucedida, eram muito bem vindos os 4 mil que ganhava por mês. Compraram ela e o marido, uma bela casa quatro ruas depois da tia, mas todas as quartas-feiras jantavam lá. Teve quatro filhos, na verdade quádruplos: todos de uma vez só, quatro lindas meninas. Porem uma faleceu aos quatro anos. Ela ficou depressiva, e depois de quatro anos de casada, separou-se do marido, deu a guarda de todas as crianças pra tia, e colocou-se a viajar pelo mundo, passou por quatro países, em quatro continentes, até que adquiriu um tipo raro de câncer, e depois de quatro meses internada num hospital de quarta categoria, morreu! foi enterrada depois de quatro dias, á apenas quatro palmos abaixo de terra, no dia 4 de agosto de 1994.

“Jaz aqui Catrina” assim fala a lápide do quarto túmulo, da quarta fileira, de toda uma quadra que ocupa o cemitério, quadrado.

Douglas Tedesco – 03/2008

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 03/03/2008
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