AMAR DÓI

Ninguém nunca me disse. Eu sempre soube. Quando anunciei que iria me casar com o Alex, escutei desaprovação por todos os lados. O mais suave que ouvi foi de que “ele não presta para você”. Mas eu insisti mesmo assim. Quem pode discutir com uma mulher terrivelmente apaixonada? O que consegue escutar uma mulher que enxerga o homem que ama até quando pisca os olhos?

Sim, eu sabia que ele não era o típico príncipe encantado que todas nós procuramos. Muito antes pelo contrário. O Alex era galinha, mulherengo e adorava um futebol, seguido de um churrasco com os amigos. Mas o que podia eu fazer contra isso? Os homens são assim mesmo. Podem amar você, mas se passa uma bunda ao lado deles, não tem quem segure o olhar. E eu casei. Casei, sim, com o Alex. Casei achando que conseguiria mudá-lo, que meu amor seria o bastante e que a idade poderia trazer mais maturidade a ele.

Ah, eu me enganei. Nos primeiros meses de casamento, eu percebi que não tinha controle algum sobre a vida dele. O Alex ainda pensava que vivia a sua vida de solteiro. O churrasco e o futebol com os amigos continuaram, sem hora para chegar em casa. Eu escondia essas coisas da minha família, dos conhecidos e dos amigos, mas era lógico que todo mundo sabia das escapadas dele. Até então eu achava que não havia mulher no meio e com isso me tranqüilizava. Alex continuava carinhoso. E eu sei que ele me amava. O problema é que meu amor por ele era maior do que o sentimento que ele nutria por mim. Até isso eu relevei.

E o tempo foi passando e nunca nada ele deixou faltar em casa. Só ele que faltava. Quando não era churrasco, era pagode com os amigos. E quando não era pagode, eu nem queria saber o que era. Acostumei a esconder as coisas da minha família, de pura vergonha. Até que uma noite meu irmão me ligou para dizer que estava em um bar e que três mesas adiante, o Alex se refestelava com uma loira de farmácia.

Eu pensei que fosse enlouquecer. Mas não tive dúvidas. Peguei o primeiro táxi e desci um quarteirão antes do bar. Cheguei nas proximidades com as pernas bambas e eu vi exatamente a cena que meu irmão descreveu. Meu mundo terminou ali. Senti meu estômago se revoltar, minha cabeça parecia que ia explodir e eu quis sumir do mundo. Felizmente meu irmão apareceu do nada e me levou para a casa da minha mãe. Lá só dormi à base de calmantes e quando me acordei no outro dia, ao meio dia, já fiquei sabendo que o Alex estava feito louco atrás de mim.

Me acordei tão seca, que me perguntei como um dia havia amado o Alex. De repente meu coração parecia ser feito de pedra. Não acreditei que pudesse amar tanto uma pessoa e no outro dia, ela me ser tão indiferente. Fui com minha mãe buscar minhas coisas no apartamento em que vivi com ele. Alex fez um escarcéu, queria que eu voltasse. E eu não podia mais nem olhar para a cara dele. Peguei o que eu pude e saí correndo de lá.

Ele bem que tentou se reaproximar de mim, mas eu o rejeitei todas às vezes. Não passou muito tempo, descobri que ele já estava com outra mulher. Homem não fica sozinho nunca. Eu fiquei. Fiquei sozinha, fiquei decepcionada, fiquei frustrada. Desde aquela vez não consegui me relacionar mais com homem algum. Não quero mais sofrer, não quero mais amar. Se amar é tão doído assim, por que inventaram o amor?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 20/04/2008
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