MEU PRIMEIRO DIA DEPOIS DA MINHA MORTE

MEU PRIMEIRO DEPOIS DA MINHA MORTE

(Sócrates Di Lima)

Abriu-se uma porta diante dos meus olhos dantes fechados,

O sol encontra-se no horizonte embevecido ao amarelo ouro,

Pincelado com vermelho e azul celeste.

O vento soprava, com efeito, de brisa que roçava o meu rosto.

Trazendo suaves toques perfumados de primavera.

Olhei ao longe, uma vasta campina verde sobrevoava uma nova terra

Onde não se via sua cor ocre, mas sim um verde esplendido,

Como se tudo fosse gramado, um campo de golf.

Senti-me levitar como se içado por movimentos contínuos e oculto,

Como se abrissem asas ás minhas costas.

Olhei ao meu redor e percebi que longas asas brancas emergiram

E tomaram conta do meu dorso me compelindo os movimentos á frente.

O desespero tomou conta da minha alma quando percebi que estava

Muito além daquela relva verde e que se fazia pequena e extensiva a

Todo o alcance dos meus olhos.

De repente fui impulsionado para frente e caindo como de se um precipício

Mas aliviado ao verificar que as asas longas movimentavam harmoniosamente

Fazendo-me voar.

Soltei um grito de felicidade e abusei da minha sorte.

Voei alto, fiz manobras rasantes, desci de cabeça para baixo, sobrevoei a planície,

Apanhei frutos com as mãos.

Havia um lago infinitamente belo, de águas transparentes em tons azulados e esverdeados, com fundo branco e cheios de vidas.

Olhei mais á frente e vi seres como sereias de cabelos ondulados, longos e sorridentes,

Que ao me ver passar, acenaram com as mãos e caldas longas que brilhava aos raios solares.

Era imensamente bela aquela paisagem á frente de meus olhos.

E eu voei, voei na liberdade de ser um ente espírito, mas ainda travestido do corpo nu.

Era o paraíso?

Não vi nada além dos peixes e sereias.

Se fosse o paraíso, onde estariam todos os outros?

Mas não quis me aborrecer com aquelas indagações e continuei voando.

Voava como pássaro, sentia o vento bater em minha face como se eu tivesse penas,

Meus braços e mãos eram livres, minhas pernas pareciam presas a uma extensão das asas que me mantinham equilibrado horizontalmente e às vezes verticalmente.

Voei mais alto, mais alto ainda para observar melhor onde estava e vi que tudo era a mesma coisa, uma vasta planície verde e repleta de flores multicores com o arco-íris vivo como se um portal estivesse pronto para dar passagem a outro mundo.

Alguma coisa me dizia para não ir lá, que depois do arco-íris era proibido, mas como todo ser humano teimoso, arrisquei.

Mas, quando cheguei á porta do arco-íris, uma luz intensamente forte cegou meus olhos

E nada mais vi, tudo se tornou escuro e ao som de trovões e relâmpagos abri novamente os olhos e me deparei sobre uma cama me debatendo como se agonizante.

Então, me toquei e percebi que estava de volta ao lugar de onde havia deixado o meu corpo sobre uma cama fria e solitária.

Daí, compreendi que poderia ter experimentado naquele momento,

o primeiro dia depois da minha morte.

(Escrito em 14/11/2008, ainda vivo).

Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 14/11/2008
Reeditado em 14/09/2010
Código do texto: T1282644
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.