INVENTÁRIO

Nos últimos tempos existe uma coisa que está me preocupando, esta preocupação assim, constante, não importa se de dia ou, mesmo a noite, se por acaso me encontre no aconchego do lar, perambulando pelas agitadas ruas da cidade que tanto amo e bem conheço.

Esses tempos, era noite alta, estava no aconchego do leito, o sono não vinha. Decidi me levantar da cama. Levantei sem oferecer qualquer resistência. Apanhei meu caso no velho guarda-roupa, vesti-o, e deixei o quarto.

As luzes estavam apagadas, nas mãos um antigo candelabro, de prata, torneado a ouro, com quatro enormes velas.

Subi as escadas, vagarosamente afim de não fazer barulho, para que não viessem a despertar os que dormiam.

A escadaria conduzia ao sótão, onde se encontravam guardados todos aqueles pertences de valor inestimável.

Lentamente levantei a tampa, e subi. No sótão, eram possíveis de se encontrar de cadeiras, e quadros tapados até um velho berço, caixas de madeira, imagens insculpidas em pedra sabão.

Sentei-me sob um velho tapete persa, não antes de apanhar três grandes caixas em cima dum velho baú.

À primeira vista, aquela noite tudo tinha certa estranheza, porque afinal de contas -, por que raio havia escolhido aquele horário, para remexer em velhas lembranças que há muito jaziam esquecidas -, ainda mais, que, isto representava uma viagem ao passado.

Voltando as caixas, estava determinado a abri-las, de fato assim procedi. A primeira deles, haviam dentro velhos brinquedos, bilboquês, bolinhas de gude, e um estilingue.

Ao rever todas aquelas coisas, de certa forma acabou me causando uma comoção, pois, era como se voltasse a ser aquele menininho de seis ou, sete anos.

Uns minutos mais tarde, os objetos que estavam sob o velho tapete, os foram guardando um a um. Quando o último estava devolvido ao interior da caixa, fechei-a novamente, colocando-a no meu canto à esquerda.

Dentro da segunda caixa encontrei apenas figuras, quase que apagadas, um lápis e, um pequeno caderno.

Desta caixa, tão só o caderno despertou o interesse.

Às surpresas não pararam por aí. A última caixa, á mais leve, com certeza. Quando tirei a tampa, qual não foi meu espanto ao constatar que se tratava de uma caixa vazia.

Embora aparentar perplexidade, ao mesmo tempo em que não conseguia entender o porquê de estar ali, no sótão, revendo todas aquelas coisas, algo me dizia bem lá no fundo – e, com tamanha intensidade, que minha presença naquele lugar, horário e tudo mais, tinha razão de ser. À explicação é que a intenção era fazer um inventário, dos meus objetos tão estimados. Inventário? Mas, qual motivo de um inventário?

Na verdade, não era um inventário tipo aqueles que são feitos, após a morte de um dos titulares de determinado bem móvel ou, imóvel.

Um clima de mistério se fez sob o que estava esquecido naquele sótão.

Não podia precisar quanto tempo já estava naquele recinto, pois, inexistia qualquer relógio ou, qualquer outra coisa que, fizesse perceber o tempo passando, mesmo que fosse com mais vagar que de costume.

O caderno continuava em minhas mãos

De repente, assim numa ação mecânica, para não dizer oriunda de um instinto, ergui-me com pouco de dificuldade, dei dois passos curtos na direção de um armário. Levantei o lençol que o cobria, deixando-o cair no chão.

Por sorte a chave permanecia intacta na fechadura, bastaria uma simples volta, e logo a porta estaria destrancada.

No interior do armário, um taco de beisebol dependurado, logo abaixo uma luva, três bolas.

O taco, as bolas e a luva não me chamaram tanto atenção. Fechei às portas.

Andei tranquilamente na direção da escada. Nas mãos o velho caderno, de capa verde, as folhas amarelecidas pelo tempo.

Fechei a tampa do sótão, tornei a descer vagarosamente a escadaria, atravessei o corredor, habitado pela penumbra

No quarto outra vez, sentado próximo a escrivaninha. Abri o caderno, peguei uma caneta tinteiro, baixei a cabeça, me pus a relatar naquele caderno, o acontecido.

Não obstante a todos os fatos que foram descrito de maneira detalhada, tudo levaria a crer que, as colocações ali feitas, em verdade, acabariam por ser enriquecidas de informações, às quais, sem dúvidas, não passassem apenas do fruto de minha imaginação.

Finalmente, esses relatos, descritos consistiriam num grande inventário este que objetivava reescrever minha própria história de vida. Sendo que essas recordações, eram pura e simplesmente passagens da minha infância, já quanto ao caderno com as folhas amareladas, simbolizavam o marco temporal desta etapa de vida, à qual se encontrava em algum recanto, donde não era possível de ser alcançado pelas minhas mãos.

Carlos Boscacci
Enviado por Carlos Boscacci em 08/05/2009
Código do texto: T1583048
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.