A Borboleta e o Mágico

Porque quando a saudade me esmaga e quando o silêncio é fecundo esta é a única forma de fazer transpirar o que sinto por Ti.

“Queria tomar-te nos braços e preencher a saudade que pulsa dentro do meio peito. Como quem lambe uma ferida queria juntar o teu corpo ao meu até o calor de ambos se fundir num só. Tal qual areia e mar queria que as nossas bocas se fundissem e que o beijo se prolongasse pela eternidade. Queria acalmar o meu coração cada vez que a tua imagem surge na minha cabeça e o acelera para o abismo da loucura. Hoje gostava de esquecer o Mundo e tudo o que o rodeia e nos cerca de dúvidas e problemas para me entregar ao simples prazer de te Amar. Esquecendo o Universo e os restantes males, me entregaria à maravilhosa sensação de me perder nos teus mundos e de sentir a sublime sensação de felicidade. Hoje adoraria sentir o gosto da tua boca, as tuas mãos a tocarem o meu corpo, a felicidade bailar em torno dos nossos olhos. Hoje e não amanhã gostava de matar a ausência de Ti no meu coração e renovar tudo aquilo que sinto por Ti só ao dizer GOSTO MUITO DE TI.”

Estas foram as palavras que ela lhe dedicou num bilhete que era mais do que um sopro de saudade, era uma declaração de Amor. Palavras de carinho e ternura de um coração apaixonado que queria sentir a presença da chama que o alimenta, que tão somente ansiava por uma luz que guiasse os seus passos cansados de buscar a plenitude dos sentimentos. Foi esta mensagem que ela entregou à borboleta de esperança para entregar ao seu Amor. Ela voou a distância que os separava para levar este amor em pedaços, fragmentado pelos espaços que as frases não conseguem preencher, pelas demonstrações que só a presença é capaz de ceder, pela atmosfera que só a paixão é capaz de criar. Mas ainda assim as frágeis asas da borboleta rodopiaram num labirinto exaustivo e interminável que levaria esta mensagem até ao coração do mágico...

Quando a pequena borboleta chegou até ele observou que ele lia as palavras de um homem sábio, também elas um recado, uma orientação para a vida que o mágico vivia sem magia talvez por de tanto lidar com ela tivesse cegado e deixado de perceber que ela não é só um truque feito de conhecimento, experiência, ilusão e técnica. A magia é vida, intensidade, plenitude, devoção, entrega, emoção e devoção para com aqueles com quem dividimos a nossa essência.

Então a borboleta decidiu pousar junto à janela e ouvir a leitura compassada do jovem mágico...

“...o que fazemos nós quando o tanto que sentimos é um abismo sem fim, que nos queima e consome com uma dor que se torna acutilante e cruel? Como reagir quando tudo o que desejamos é fazer alguém feliz dedicar-lhe o nosso carinho e construir algo que não seja apenas um nada com alguns momentos de felicidade? De que forma se explica que a vida deve ser vivida em cada momento de forma intensa? Como é possível mostrar que amanhã um de nós pode morrer sem ter dito aquilo que queria dizer, sem ter feito aquilo que queria fazer, sem ter conseguido dar o que queria ter dado? Como exemplificar que o Amor não é uma dependência vã e absorvente que retira espaço à nossa vida, mas antes uma dádiva tranqüila que apenas nos completa e nos preenche? ... “

A borboleta estava anestesiada...Eram mais do que simples perguntas eram ensinamentos, eram pertinências densas e lógicas, eram mensagens de vida. Calada a tentar digerir o submundo para o qual tinha sido remetida ela ouviu o mágico dizer...

“ Eu não quero preencher as nossas vidas de silêncios, de frases gastas e com cheiro a lugar comum, com momentos sem som, com trocas de palavras agressivas e sem cor.Eu queria dar-te aquilo que o meu peito contém e que não é apenas uma história caprichosa e sem brilho que me lembrei de criar no meu peito e no meu coração. Eu sou apenas a figura que alimenta a esperança que um dia Tu poderias trazer-lhe a presença e a companhia que tanto desejo...”

Esmagada pelas palavras a carta deslizou-lhe e caiu aos pés do mágico. Ele leu devagar e a cada palavra os olhos enchiam-se de um brilho especial porque ele sabia que as palavras eram sentidas e que tinham uma ternura sem igual. Mas ele não tinha jeito com as palavras e não sabia como lhe responder então pegou no telefone e disse somente o seguinte:

“Se Hoje é tudo aquilo que desejas deixa-me dizer-te que te darei não só esses instantes, mas sim a eternidade pela simples razão de GOSTAR TANTO de GOSTAR de TI. “

A borboleta chorou e voou até à Paz que a enchia de Amor.

Sonya
Enviado por Sonya em 14/06/2006
Reeditado em 04/08/2006
Código do texto: T175529