O Ritual

Era uma espécie de anfiteatro.

O piso viscoso, de um tom escuro.

O sol, do teto penetrava num quadrilátero

por entre barras de ferro fundido e duro.

As paredes estavam cheias de musgos asquerosos.

Pessoas encapuzadas vestiam túnicas brancas

e assentavam-se empertigadas em cadeiras coloniais,

adornadas por símbolos maquiavélicos, satânicos!

enquanto aguardavam o adentrar dos líderes medievais.

Ao centro, uma maca negra, vigiada por verdugos,

onde hibernava a hidra mumificada e em refugos.

À direita da maca, um esquife abominável,

no cerimonial que precedia o anunciar do Grande Mestre,

que aguardava o instante memorável

que seria o beijar a esquálida hidra inerte,

cuja lenda esse rito mágico a ressuscitaria,

inda que caveirosa continuasse durante a orgia.

Alguns diáconos preparavam líquidos acres

e os repassavam aos Mestres de Cerimônia.

O sabor era como o gosto azedo do vinagre

e os fiéis, ávidos, os bebiam por amônia.

A maca negra, estacionada, estava entreaberta.

Um manto escuro descerrava a cripta repugnante!

Do palco superior, onde ficava um mirante,

descia uma harpia que, lânguida, rasgava-se-lhe o véu.

Nos seios nus cintilavam pérolas de uma corrente

e nas mãos conduzia uma taça com bebida igual ao fel

que me induzia a ingeri-la, irritando o Grande Mestre que

fantasiava em meus braços a sua amada hidra.

E quebrando as tradições do ritual, da ante-sala saiu.

Enquanto se dirigia para mim, numa fúria bestial,

notei que me debatia para acordar e sair daquela enrascada,

deixando para si o platônico amor da sua amada...