Michael Jackson na Terra do Nunca


Ao largo da costa da Terra do Nunca, um navio sinistro, de bandeira pirata, está ancorado. Um homem, não menos sinistro, espiona, com sua luneta, cada clareira da floresta. Está intrigado com a intensa movimentação de Peter Pan e seus amiguinhos.
_O que será que estão aprontando desta vez? – pergunta-se o capitão Gancho.
O som de um tique-taque desvia sua atenção; descuida-se; a luneta escapa-lhe das mãos e vai cair dentro da boca do crocodilo Tic-tac, que está sempre a sua caça, no mar, ao lado do navio. Da boca, a luneta desliza para o estomago do Tic-tac e vai fazer companhia com os ossinhos da mão do capitão Gancho, que ele havia comido na primeira história da Terra do Nunca.
_Maldito!, ainda vou te fazer de botas, e tua cabeça ornará a proa do meu navio, praguejou o terrível comandante pirata, lançando um olhar de ódio para o gancho de sua mão.
Chamou o imediato e lhe ordenou que descesse um bote para levá-lo á terra. Ia verificar de perto o que Peter pan estava lhe aprontando.
Na Terra do Nunca, Peter Pan, agitado, ansioso, inspeciona os preparativos para a chegada de um ilustre novo morador. Ninguém imagina quem seja; apenas ele e Sininho sabem. Exige primor na ornamentação: muitas flores, coloridas e alegres.
A maior clareira da floresta foi limpa e livre de tudo que pudesse obstruir a movimentação de pessoas; com isso, ela ganhou um espaço amplo e satisfatório.
_Ele vai ficar contente!, comentou Peter Pan.
_Mas para que tudo isso?, perguntavam os meninos perdidos. _Será que Peter Pan está esperando a chegada de um disco voador?
Peter Pan, nada revelava. Media o espaço de norte a sul, de leste a oeste, e balançava a cabeça, afirmativamente, satisfeito. Ensaiava uns passos de dança, desajeitado, e as crianças riam debochadamente. Sininho tilintava alegremente a sua volta, rindo também, disfarçadamente, escondendo a boca com as mãos.
_Acho que é uma companhia de ballet, arriscou um menino em meio de todos os outros, curiosos, que formavam uma ciranda em torno do enorme espaço.
Capitão Gancho e seus piratas, escondidos na mata, espiavam tudo, também sem entenderem nada. O temido pirata estava nervoso, preocupado com uma suposta estratégia de Peter Pan para derrotá-lo. Não podia lhe permitir a vantagem da surpresa: ela poderia decidir a sorte da batalha. Não ser pego de surpresa, pode fazer a diferença entre a derrota e a vitória. Mas, não via nada naquela clareira que pudesse lhe prejudicar.
_Será que ele está blefando? Será que tudo não passa de um truque, atraindo-me para cá, enquanto o navio fica abandonado? – raciocinou com perspicácia o pirata astuto.
_Vamos voltar imediatamente para o navio, esbravejou de repente o capitão Gancho.
Os piratas, estupefatos, acharam melhor obedecer do que perguntar, tamanha a fúria do comandante. Afastaram-se sorrateiramente do mesmo modo que chegaram; entraram no bote e remaram de volta ao navio. Se tivessem permanecido por mais um instante, descobririam o motivo de tanta arrumação.
No solo da clareira, luzes quadriculadas acendiam, alternadamente, simulando passos de alguém.
_Ooooooh!, exclamaram as crianças espantadas.
Ao fundo, o som de uma musica crescia lentamente. Um vulto foi se formando no centro da clareira, tomando a forma de alguém segurando o chapéu caído sobre o rosto, e usando luva branca em apenas uma das mãos.
_Michael Jackson!, gritaram as crianças, fascinadas.
O som da musica encheu a floresta e o rei do pop começou a cantar Billy Jean.
Peter Pan e as crianças puseram-se a dançar, acompanhando Michael Jackson. Sininho dispersou pó de Pirlimpimpim sobre todos, que passaram a dançar levitando no ar. Todos os animais da floresta atraídos pela musica, se aproximavam um a um e entravam na dança.
Quando a musica terminou, Sininho cochichou algo no ouvido de Peter Pan. O semblante de Peter Pan, antes alegre e confiante, se tornou sisudo. Preocupado, pôs-se a andar de um lado para outro, com Sininho voejando ao seu redor; parava e confabulava com Sininho, batia o pé no chão com raiva em desagrado e continuava a andar em circulo, com as mãos para trás e a cabeça baixa.
Michael se aproximou de Peter Pan e quis saber o porquê de tanta preocupação.
Peter Pan, então, lhe explicou que ele veio como adulto e não poderia ficar na Terra do Nunca onde só era permitido que crianças vivessem lá. Se ele ficasse ali por mais de 72 horas, seria transformado em um pirata e faria parte da tripulação do capitão Gancho; este foi o destino da maioria dos subordinados do capitão. Teriam que encontrar uma solução urgente para tamanho problema.
Michael, amargurado, afastou-se sem ser percebido e foi caminhar na praia, chorando silenciosamente. Ainda não assimilara mudanças tão radicais que lhe aconteceram em tão pouco tempo: um dia antes, preparava-se para vários shows que se realizariam na Inglaterra, e, agora, estava na Terra do Nunca, seu sonho de criança, mas não poderia ficar porque é adulto; e o pior, não tinha onde ficar, correndo o risco de virar pirata, se não saísse dali antes de 72 horas
No navio pirata, o capitão Gancho ordenou à tripulação inspecionar o navio de proa a popa, de bombordo a estibordo, do convés aos porões, a procura de qualquer coisa estranha que Peter Pan poderia ter colocado enquanto estiveram fora. Capitão Gancho era muito desconfiado e só se deu por satisfeito quando a tripulação, extenuada, garantiu que não havia nada de diferente no navio.
Então, o capitão relaxou e se retirou para o seu camarote. Lá, pôs-se a pensar no motivo de tanta arrumação na Terra do Nunca: o quê aquele moleque atrevido pretendia com aquilo; só podia ser algum plano para derrotá-lo. De repente, ouviu o som distante de uma musica, e o navio começou a balançar na mesma batida da musica. Curioso, saiu do camarote e ficou perplexo ao ver toda a tripulação dançando no convés ao som da musica que vinha da terra. Pegou uma luneta e procurou a origem da musica tão contagiante; ela provinha da Terra do Nunca. Descobriu, então, o porquê de tanta arrumação. A música era tão contagiante que ele não resistiu e também entrou na dança.
Depois que a musica terminou, capitão Gancho voltou a si e, revoltado consigo mesmo, por tamanho vexame, descontou nos seus subordinados, distribuindo castigos e tiros de escopeta em todos os insubordinados. Apanhou de novo a luneta e desconfiado com a presença de Michael Jackson, voltou a escanear a Terra do Nunca. Observou uma figura cabisbaixa, solitária, caminhando na praia; reconheceu Michael Jackson e teve uma idéia sinistra. Mandou descer um bote ao mar, com os três piratas mais sanguinários, e seqüestrar o carismático cantor. Michael, surpreendido, não teve como reagir frente a três piratas fortes e violentos. Foi levado a bordo do navio pirata e apresentado ao capitão Gancho.
Capitão Gancho, não quis revelar-se fã de Michael, mas pela insistência da tripulação, obrigou-o a cantar “Thriller”.
Na terra do Nunca deram, enfim, pela falta de Michael. Procuraram-no por todos os cantos e não o encontraram. Na iminência de desespero, as ondas do mar lhes trouxeram o som de “Thriller”. Ao longe, o navio pirata balançava ao ritmo da musica.
Peter Pan e Sininho voaram até o navio e constataram a presença de Michael. O que fazer agora com dois problemas gravíssimos a resolver: resgatar Michael e encontrar uma solução pra a permanência dele na Terra do Nunca.
Para resgatar Michael, teriam que esperar que os piratas, cansados de dançar, o amarrassem ao mastro, como costumam fazer com todos os prisioneiros, e fossem dormir nos seus alojamentos. Aí, então, Peter Pan o livraria das amarras, Sininho polvilharia pó de Pirlimpimpim nele e voariam de volta para a Terra do Nunca. Peter Pan e Sininho esconderam-se na vigia, que fica no alto do mastro do navio, e aguardaram pacientemente que os piratas se recolhessem, cansados.
Peter Pan e Sininho estavam já há 24 horas escondidos no alto do mastro e nada de os piratas se cansarem. Michael já cantara todo o seu repertório por duas vezes, Trhiller, então, perdera a conta, mas os piratas o obrigavam a continuar cantando.
Michael estava a 36 horas na Terra do Nunca, restavam-lhe as mesmas 36 horas para que Peter Pan descobrisse uma maneira de ele ficar ali, junto com as crianças, sem virar pirata.
Mais 12 horas se passaram. Michael estava extenuado, mas os piratas continuavam firmes e fortes. Michael executando o passo do robot, não resistiu ao cansaço e caiu no piso do convés e ali ficou, exaurido. Os piratas, que copiavam todos os seus passos, caíram também, e também ficaram deitados no chão, imitando o ídolo.
Era o momento certo para Sininho agir. Voejou sobre Michael e borrifou-lhe o pó mágico; Peter pan agarrou-o por baixo dos braços e voaram para a liberdade. Os piratas não tiveram tempo nem de levantar, viraram a cabeça e ficaram olhando o trio fugir, sem forças para qualquer reação.
Enquanto aguardava o resgate de Michael no alto do mastro do navio, Peter Pan teve a idéia de pedir ajuda à Wendy. Ela sabia de todas as histórias de magias e talvez soubesse de alguma que fizesse Michael permanecer na Terra do Nunca, mesmo não sendo criança. Sininho com ciúmes, não gostou muito, mas o motivo da vinda de Wendy era mais importante que os seus queixumes, e acatou a vontade de Peter Pan.
Agora, tinham apenas 24 horas para resolver o problema e Wendy era a última esperança.
Wendy, João e Miguel foram levados para a Terra do Nunca. Quando eles viram Michael, ficaram eufóricos, levaram um bom tempo para acreditar que não estavam sonhando. Wendy, a par da situação, tentou se lembrar de qual das historias de fadas haveria uma magia que resolvesse o enigma.
Sininho é uma fada, mas só tem poder para fazer voar quem tem pensamentos felizes. As demais fadas realizam outros desejos, mas não há nenhuma, de que se lembre, que faça alguém voltar a ser criança. Pan, o mago da floresta, realiza o desejo de Peter Pan de permanecer criança.
Todas as personagens de “Era uma vez...” foram chamadas para ajudar. Estavam presentes fadas e magos, Gepeto e Pinochio, Cinderela, Branca de neve e os sete anões, Chapeuzinho Vermelho ...
Já havia passado 71 horas e 45 minutos desde que Michael chegou à Terra do Nunca e ainda não haviam descoberto uma solução. Michael estava desesperado, chorava como criança, não queria virar pirata, nunca teve pensamentos maléficos. Todos o consolavam, mas à medida que o tempo foi se aproximando do prazo fatal, se afastavam, temerosos do momento em que ele se transformaria em pirata. Michael ficou sozinho no meio da clareira.
Capitão Gancho do seu navio observava tudo e torcia para que ninguém encontrasse a solução; aí, Michael só cantaria para ele e o ajudaria a combater Peter Pan.
O prazo se esgotou. Na Terra do Nunca, todos se mantinham longe de Michael, aterrorizados com o momento da transformação. Michael sofria calado, cabisbaixo, suas lágrimas rolavam pela face e pingavam no chão, emitindo notas musicais, como, se ao cair, tangessem as teclas de um piano. Ele pensava sobre o que poderia ter feito de tão grave, para merecer tamanho castigo.
Capitão Gancho deu salva de tiros de canhão ao final do prazo, ordenou que baixassem um bote ao mar e foi em busca do seu mais novo e ilustre tripulante.
Michael ajoelhou-se no chão com a cabeça entre as mãos e pôs-se a rezar.
Sininho, guiada por um instinto de fada, voejou sobre a cabeça de Michael e polvilhou-o com pó de pirlimlimpim.
Michael, naquele momento, pedia a Deus que lhe desse todos os castigos, menos aquele de transformá-lo em uma entidade do mal.
O pó de Pirlimpimpim se sedimentou suavemente sobre o corpo de Michael, que se iluminou de um brilho divino e se elevou no ar, como nenhum pirata é capaz desse privilegio. Então, todos entenderam que Michael, apesar de adulto, permaneceu com o espírito de criança, assim como Peter Pan, e poderia ficar na Terra do Nunca para sempre.
Capitão Gancho se aproximava da praia, tendo o crocodilo Tic-Tac em seu encalço, como de costume. Sininho voejou sobre o Tic-Tac e borrifou-lhe o pó mágico. O enorme crocodilo, que sempre teve o feliz pensamento de comer o capitão Gancho, ergueu-se do mar, levitou sobre o bote, abocanhou o espantado pirata e submergiu no mar novamente.
Todos na Terra do Nunca vibravam com o desfecho feliz e dançavam ao som de Billy Jean.