O Maravilhoso Cabo do Amor

Ela escreveu deitada na praia...

O seu corpo tocou a areia para sentir o calor de cada grão, a rugosidade de cada pequena partícula de matéria acomodando-se, encaixando-se à sua estrutura óssea, moldando-se à sua carne numa atitude de protecção e conforto.

O sol acariciava-lhe a pele com os seus raios quentes, abençoando a comunhão entre a Natureza e o Invisível, permitindo a união entre o real e o imaginário numa benção harmoniosa e única.

A brisa beijava os seus cabelos com doçura e eles esvoaçavam ao vento como se fossem pequenos fios de bronze a pedir ao sol para se transformarem em ouro.

Ao longe ouvia-se o mar, a força enérgica das ondas a embaterem graciosamente nos rochedos, uma melodia que embalava o corpo e a alma numa conjuntura entre o divino relaxe e a eterna magia de uma tarde de Verão. A água era prata e cintilava com tal brilho que encadeava os transeuntes, todos aqueles que percorriam a areia afastados do sonho e da esperança.

Enquanto isso ela deitada na praia escrevia...

Descrevia o seu amor como se fosse uma aranha a tecer a sua teia, como o mesmo cuidado extremoso, com igual dedicação, sedimentando laços que nem o seu peso podia destruir. Sonhava que cada grão de areia era uma palavra de amor envolta em doçura, e que ao caminhar junto à beira mar colhia cascas de mexilhão perdidas na imensidão, vazias de Vida e as preenchia dessas imensas partículas de afecto que dela irradiavam como o calor da estrela mãe. Imaginou que os seus escritos eram colocados em garrafas preenchidas de bivalves e grãos de areia e ficavam ali a deambular no mar até serem finalmente descobertos e vistos como demonstrações únicas de afecto e sentimento. As algas presas às rochas eram as planícies do seu coração por onde vagueavam os seus amores, as suas certezas, as suas recordações, eram o verde da sua Natureza, da sua verdadeira essência, eram o seu Eu unido ao Eu de alguém.

Enquanto a praia esvaziava junto ao cabo Mondego ela escrevia....

“Quando a chuva passar

Quando o tempo abrir

Abre a janela e vê: eu sou o sol

Eu sou céu e mar

Eu sou Tua e fim

E o meu amor é imensidão”

Ela vagueava pela janela dos seus pensamentos e iam refectindo sobre as suas emoções, sobre o seu comportamento e a sua história...

Percebeu que podia não significar nada para o seu príncipe mas estaria em tudo aquilo que ele visse e tocasse porque a pureza e a magnitude do seu sentimento o tornava presente na imensidão. Estava na areia da praia, nos bivalves dispersos pelo areal, no pôr-do-sol, nas ondas do mar, na brisa, nas palavras, nas estrelas, no luar, nas fotografias, inevitavelmente estava nele de uma forma que nem o próprio era capaz de entender. Com a seu Amor ela tinha tecido cordões imaginários de afecto que estavam presos em tudo aquilo que ele cruzava, até no ar que se respira.

Ele puderá conhecer mil pessoas, viver centenas de histórias, trocá-la por todas as pedras que cruzarem o seu caminho, mas ela ficará como marca cravada a fogo na sua pele e nos seus pensamentos...Porque a nobreza dos seus sentimentos a tornará inesquecível, a sua obra o tempo não irá apagar, e neste livro de sentimentos está a água para alimentar tudo aquilo que o coração grita. Na sua imperfeição está a verdade e está a resistência de quem com garras de leão suportou tudo aquilo que lhe ofereceram, perdoou milhares de silêncios, omissões e traições.

Entretanto ela fazia dos seus pensamentos poemas sob a forma de nuvens de ilusão...

“Ainda me lembro

De quando andávamos nas estrelas

Das horas lindas que passamos juntos

Eu só queria amar e amar

E hoje eu queria ter a certeza que

A nossa história não termina agora

E que esta tempestade um dia vai acabar”

De volta aos seus recônditos cerebrais ela divagava sob a possibilidade de ele nunca mais a procurar, ou sequer falar...Talvez ele vagueasse agora em torno de uma pedra do caminho, e a deixasse assim deitada na areia a escrever, sem entender o que estava a fazer com a sua própria vida. Perdendo-se no seu próprio destino numa batalha que não conseguia resolver, procurando o consolo nos rochedos que rondam a sua existência em busca do superficial...

A imensidão estava ali naquele areal, para lhe afagar os cabelos e sussurrar palavras de conforto, enquanto isso ela escrevia no papel, na areia, na Natureza as mensagens e as imagens que ele irá encontrar em todos os locais por onde passar.

Porque o Amor é a mais sublime forma de se preencher o Universo, é a mais poderosa das armas e vence todas as batalhas e preenche todos os espaços, mas precisa de verdade, sinceridade, despreendimento de banalidades e muito oxigênio para voar, bel alto, até às estrelas para irromper pelo Universo dos Sentires em direcção à Via Láctea das emoções, numa guerra espacial contra o infinito da qual sairá sempre vencedor nas asas de um anjo em arco e flecha.

Sonya
Enviado por Sonya em 24/07/2006
Reeditado em 04/08/2006
Código do texto: T201006