IMAGINANDO...

Ele a olhava.

Ela estava sentada ao seu lado, no banco do circular.

Como era linda aquela garota!

Os cabelos a lhe descer pelos ombros tão dourados.

Imaginava um raio de sol a bater neles.

Àquela hora o sol não batia do lado direito do ônibus.

Onde moraria?

Estaria indo ao trabalho?

Os olhos negros pestanudos no rosto pálido.

O formato dos lábios: um coração tão bem feito.

O batom dourado.

Nas pálpebras uma sombra dourada deixava ainda mais bonito seu olhar.

As mãos delicadas descansando sobre os joelhos. Anéis em quase todos os dedos. Dedos longos e finos. Um esmalte clarinho.

Marcelo começou a imaginar o toque daqueles dedos em suas orelhas, contornando seus lábios, descendo pelo queixo, pelo peito. Desabotoando sua camisa.

Um arrepio a percorrer seu corpo inteiro.

Faria dezoito anos no final do mês e ainda não tivera uma namorada.

Ficara uma vez com a Helen numa festinha na casa de Mirella e com Maysa daquela vez que fora passar uns dias na casa do tio no interior. Maysa era bonitinha, mas tão imatura.

Os olhos não conseguiam se despregar da garota ao lado.

Por dentro ficava na maior torcida para que ela não descesse quando se aproximava de um ponto.

Sentia um desejo de perguntar seu nome, mas não sabia como fazer isso.

Sempre fora tímido e se havia ficado com duas garotas já considerava isto um milagre. Fora com a força dos amigos, uma ajudinha da natureza.

Ah! Mas como desejava saber seu nome! Ouvir sua voz. Devia ser doce, como aquela carinha de anjo.

Os morrinhos no tórax indicavam que ela era bem avantajada de seios e como ele gostava de seios fartos!

Folheava no banheiro as revistas que comprava com tanto sacrifício. Mas o sacrifício valia a pena.

A mocinha a se mexer no banco o fez voltar à realidade. Ela estava acertando a bolsa. Iria descer no próximo ponto? E ele marcando bobeira!

De repente a voz a lhe causar um tremor.

─ Você poderia me dar uma informação?

Tentando controlar a timidez Marcelo falou:

─ Pois não. Se eu souber...

─ Poderia me informar onde fica o colégio Diocesano?

─ Desço bem próximo dele. Posso levá-la até lá.

Marcelo nem conseguia acreditar que havia dito aquilo. Ele se oferecendo para acompanhá-la!

Os olhos da mocinha o fitando intensamente.

─ Poderia mesmo?

─ Claro. Será um prazer.

─ Está certo então.

─ No próximo ponto já descemos.

Marcelo não conseguia acreditar que estavam conversando.

Ele foi se levantando e era seguido por ela.

Era bem alta. Quase de sua altura e tinha pernas longas.

Era louco por pernas longas. Imaginou suas mãos a caminhar pelas suas pernas, pelas coxas...

O sol a banhava completamente e ele pôde comprovar que os cabelos ficavam ainda mais dourados, quase avermelhados. Ela era linda demais. E conversava com tanta naturalidade. A voz era levemente rouca e ele a imaginou sussurrando seu nome na orelha.

─ Marcelo! Marcelo!

A menina o olhou e ele tremeu. Será que estava escrito em seu olhar que ele a estava desejando?

Envergonhou-se dos próprios pensamentos e seguiu em frente.

─ Está longe?

─ Não. Virando a esquina.

─ Que bom! Estou atrasada para o encontro.

─ Vai se encontrar com alguém?

─ Uma amiga me espera. Vamos nos matricular.

Que alívio! Já estava a imaginar que o encontro seria com um rapaz.

Mas que bobagens lhe passavam pela cabeça. Nunca mais a veria. Uma cidade como aquela era tão improvável alguém se reencontrar.

─ Como se chama?

─ Marcelo. E você?

─ Bruna.

Ele a olhou e não resistiu, falou num supetão:

─ Você é muito bonita.

Tranqüilamente ela lhe falou:

─ Obrigada. Você também é muito bonito.

─ Estamos chegando...

─ Que pena! Gostaria de conversar mais com você.

Apontando uma loja ele falou:

─ Vê aquela loja na esquina? É lá que estarei trabalhando.

─ Se estudar mesmo aqui, passarei todos os dias na frente da loja, não é?

─ Tomara que estude.

Bruna estendeu as mãos e agradeceu. Marcelo se dirigiu à loja.

Nunca mais a viu. Sonhadoramente olhava para o colégio Diocesano. Quem sabe um dia, pensava. Quem sabe... Era tão bom ficar imaginando...

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 15/01/2010
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T2030799
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