L'Aurum Passage - Capítulo 2: Convidei, sem saber, um garoto misterioso.

Ao chegar em casa encontrei à mesa, além de minha irmã e da minha mãe, um estranho. Era um garoto de rosto sujo com um manto encardido enrolado no corpo. Pela altura e pelo rosto infantil, devia ter seis anos de idade. Seus cabelos de comprimento quase longo, cobrindo as orelhas, eram loiros e desgrenhados.

- Oscar, coma mais um pouco, ainda parece com fome. - ela notou minha presença quando eu larguei a mochila sobre o sofá - Ah, oi filho! - se virou para a visita - Este é meu filho, Eduardo. Eduardo, este é Oscar.

Não era a primeira vez que minha mãe acolhia um necessitado, não fiquei muito surpreso.

- Oi, Oscar!

- É um prazer conhecê-lo, Sir Eduardo. Sou Osgard, o anão-elfo, a seu dispor.

Elas riram e Lara acrescentou:

- Ele não é uma gracinha, Du? - o garoto corou, ela não pareceu notar e continuou - E pelo jeito é fã dos mesmos contos de fada que você.

- Fantasia, o gênero se chama fantasia, Lara.

- Que seja! - agora sim tinha motivos para me irritar com ela, mas achei que começar uma briga naquele momento seria falta de educação com a visita.

- Filho, mostre o banheiro ao Oscar para que ele tome um banho e lhe dê alguma roupa antiga.

Eu o levei até o segundo andar e lhe mostrei meu quarto e o banheiro. Ele parecia fascinado com o registro do chuveiro, e fez uma observação esquisita:

- Chuveiro, controla uma chuva particular.

Eu o ouvia abrindo e fechando a água várias vezes. Pobre garoto, será que nunca usou um chuveiro? Dei-lhe um shorts e uma camisa velha, achei que as roupas ficariam muito compridas nele; Mas não ficaram, porque ele era estranhamente robusto para idade dele.

- Sou muito grato por me deixar usar seu magnífico controle da água, Sir Eduardo. É incrível ele poder ser usado até por um ser imágico como eu.

- Então, você é um anão-elfo? - eu disse brincando com o garoto para deixá-lo mais a vontade.

- Sim, Sir Eduardo. Sou Osgard, o anão-elfo. Meio anão, meio elfo e inteiramente a seu dispor.

Eu ri, além de imaginativo tinha um jeito de falar engraçado, e estranho para a idade dele.

- Oscar,que nome mais humano para um anão-elfo. Sendo parte elfo, imagino que tenha orelhas pontudas e, sendo parte anão, deve ser mais novo do que sua altura indica. Parece ter 6 anos, mas deve ter 20.

- Na verdade meu nome é Osgard, Sir Eduardo, e, convertendo para valores humanos, tenho 11 anos e meio. E está certo quanto as orelhas - ele colocou os cabelos atrás das orelhas, que se mostraram pontudas como as de um elfo, percebi então que sua estrutura parruda lembra um pouco a dos anões. Ignorei estas características curiosas e continuei a brincadeira:

- Imagino, também, que você não é deste mundo.

Ele me respondia enquanto pegava um tubo costurado no manto em que ele estava enrolado antes.

- Certíssimo, Sir Eduardo. Passei ao seu mundo através do L'Aurum Passage com sua nobre autorização, eis aqui. - ele tirou um pergaminho de dentro do tubo e me estendeu. Era idêntico a arte do e-mail que recebi, inclusive tremeluzia. No rodapé constava, inexplicavelmente, minha assinatura.

- L'Aurum Passage? - balbuciei.

- Sim, Sir Eduardo. Reluzente, colorido, dançante, magnífico portal entre seu nobre mundo e o mundo ao qual pertenço.

- Reluzente ... colorido... dançante... - é como a aurora boreal. É como em meu sonho... Acho que, afinal, isso não é só fantasia de criança.

- Eu te vi, Sir Eduardo, mais cedo, mas não quis atrapalhar sua jornada aonde quer que fosse. Fiquei esperando na frente de sua casa, até que sua nobre mãe e nobre, e adorável, irmã me convidaram a entrar e me ofereceram deliciosas iguarias. Peço desculpa por eu ser um humilde mestiço, anão-elfo, e não um nobre, como o senhor deveria esperar. Eu fui o primeiro a passar para assegurar que não haveria riscos a alguém importante.

Acho que só prestei atenção a metade do que ele falou, porque eu ainda estava ocupado tentando achar alguma lógica comum para tudo aquilo, mas acabei me rendendo aos fatos.

- Me chame de, Du. Mas como você pode ser um meio elfo e meio anão? Eles não se odeiam? - perguntei, legitimamente curioso desta vez.

- De fato, Sir Du, mas a história de meu nascimento é um caso a parte.

- Show! Uma história de fantasia de verdade! Por favor, Osgard, me conte a sua história. - Ele me olhou espantado por alguns segundos, e baixou a cabeça rapidamente quando encontrou meu olhar. - O que foi?

- Suas nobres irmã e mãe me trataram tão bem, pensei que fosse característico da nobreza feminina de seu mundo. Mas o senhor, sendo nobre e homem, também me trata como se eu fosse... alguém. Até usou essa expressão da sua língua... "por favor", nunca alguém... me... pediu algo. Ninguém pede nada e nem trata bem a escória. Todos, principalmente sendo nobres como vocês, têm o direito de exigir o que bem entenderem de um mestiço filho de renegados da ordem social, sem nunca oferecer nada emtroca. bem, nada agradável... - ele falou com a voz embargada e de cabeça baixa como sempre. Enquanto falava a última frase, tocou sem perceber a lateral de seu pescoço onde havia uma queimadura com formato de dedos, que até então eu não tinha percebido.

Eu sabia como era se sentir desprezado e solitário, claro que, provavelmente, nada comparado ao que ele deve ter passado. Nunca fiz amigos porque nos mudávamos com frequência de cidade, só paramos quando eu tinha 9 anos. Foi quando meu pai nos abandonou, lembro que eu adorava as incríveis histórias de fantasia que ele me contava antes de eu dormir. Foi muito difícil aceitar seu abandono sem um amigo. Não queria incomodar minha mãe com meus problemas, ela também estava muito abalada e ainda tendo que cuidar da minha irmã, que tinha só 3 anos. Assim, eu busquei consolo nos mundos dos livros de fantasia. Com tudo isso, acabei me tornando tão introspectivo que, mesmo estando 7 anos, nessa cidade não tenho amigos.

- É melhor ir se acostumando a ser tratado como da família, maninho! - eu disse bagunçando seu cabelo.

- Maninho. - Ele repetiu a palavra levantando a cabeça e deu um singelo porém radiante sorriso. Penso que só alguém com sangue elfo consegue sorrir daquela maneira.

- Osgard, como você entende nossa língua? - só então me dei conta de que isso não se encaixava.

- Acredito que seja um mecanismo dos portais. Gantzua tinha a teoria de que os portais possuem um "mecanismo de intercâmbio". Como se ao passar para outro mundo o viajante recebesse uma bagagem de significados das palavras, é assim que eu sei o que significa "chuveiro" mesmo vendo um pela primeira vez, o que não torna menos impressionante. O mecanismo permiti até saber qual tipo de linguagem é mais adequado usar. Por exemplo, enquanto eu procurava palavras para te explicar isso, me constou até o termo "semântica", mas sei intuitivamente que você não entenderia.

- Semântica? Já ovi isso na escola, mas realmente num tenho idéia do que seja. Quanto a esse Gantzua, é o mesmo que é remetente da mensagem que recebi? Me fale sobre ele.

- Não queria saber minha história?

- Sim, é que é tudo tão interessante. Pode contar.

- Meu pai era um anão guarda-costas e minha mãe uma elfa de poder raro, controle de plantas, eles viviam em Narancia, uma cidade extremamente aristocrata baseada no cultivo de laranjas.

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Continua

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Cayyan
Enviado por Cayyan em 08/10/2010
Reeditado em 08/10/2010
Código do texto: T2545159