A Fada que Amava a Noite

Amanheceu!

A primavera havia chegado, trazendo luz e cor ao mundo.

Em um lugar distante, creio que era na Escócia, as fadas das flores acordaram cheias de ânimo. Elas deveriam começar cedo o trabalho que lhes era atribuído: colorir as pétalas das flores.

No bosque das fadas, seu secreto lar, era um falatório geral; muitas cantavam, outras dançavam. A animação era enorme. Mas, em um canto meio escuro havia uma fadinha tristonha. Era Margherita, uma das menores fadas daquelas paragens, muito bonitinha, com asas diáfanas. Margherita não gostava de seu ofício porque não gostava muito do sol. Ela amava a lua e as estrelas, mas era proibida de sair à noite porque assim determinava o código das fadas pintoras.

Uma fada mais velha, já com cabelos grisalhos foi ter com ela e viu uma lágrima perolada que teimava em descer pelo rosto do belo e miúdo ser.

- Vamos, querida, precisamos trabalhar! Olhe como a primavera este ano chegou mais linda! Como os bosques estão luminosos! Temos muitas flores para colorir...

- Wera, não quero sair! Não gosto da luz como vocês. Acho que sou diferente.

- Ora, minha criança, seu coração é que é muito arredio. O sol é tão bonito!

- Sim, ele é, mas nada se compara à Lua, com seu brilho de prata, e com as estrelas cintilantes, que mais parecem brilhantes engastados no céu escuro como veludo negro. Ah, Wera, como gostaria de poder sair à noite e sentir o puro ar que se espalha pelos bosques!

- Margherita, você sabe que não temos permissão para isso. nosso trabalho é colorir as flores para que possam alegrar a visão dos mortais. E sabe que as fadas que as perfumas precisam de nós, pois só depois que as colorimos, elas podem perfumá-las.

- Eu sei, Wera. Mas será que não há nenhum jeito de podermos admirar a noite?

- É o código, Margherita. Vamos, prepare-se!

Margherita levantou-se e, desanimadamente, foi para a parte do bosque onde deveria colorir as pétalas das flores. Ao chegar lá, depara-se com um grupo de fadas do perfume conversando seriamente com a rainha das fadas. Havia um impasse: elas descobriram uma planta que não poderia ter suas flores coloridas. Margherita aproximou-se e ouviu:

- Majestade, as flores desta planta não podem ser coloridas. Como, então, poderemos pôr perfume nelas?

- Como não podem perfumá-las?

- É que pela regra, Majestade, as flores precisam ter cor antes de serem perfumadas porque quando estão transparentes, o perfume não fixa. E, além do mais, estas flores não abrem durante o dia. Os gnomos disseram que esta planta é uma espécie noturna e suas flores só aparecem durante a noite, fechando-se ao raiar do dia. O que faremos, senhora? Não podemos permitir que estas flores fiquem sem cor ou perfume. Nosso trabalho estaria errado. Não pode haver discriminação.

Ao ouvir isso, Margherita sentiu seu coração disparar! Aproximou-se da rainha das fadas e humildemente falou:

- Eu poderia colorir estas flores, minha senhora.

Surpresa, a rainha das fadas a olhou e perguntou:

- Faria isso, menina? Mesmo tendo que sair à noite?

- Amo a noite, Majestade. Eu faria isso com prazer, se a senhora permitir.

A rainha pensou, pensou, então responde:

- Está bem. De agora em diante, por um decreto meu, você estará encarregada de colorir não apenas as flores desta planta, mas as flores de todas as plantas noturnas deste bosque. E vocês, fadas do perfume, nomearão alguém para perfumá-las. Deve haver alguém entre vocês que possa acompanhar esta menina em seu trabalho.

No mesmo instante apareceram duas fadinhas minúsculas, com rostinhos redondos, gêmeas por sinal, que disseram ao mesmo tempo:

- Acompanharemos a menina, pois também amamos a noite.

- Então está feito.

A rainha das fadas virou-se e perguntou:

- Qual é o seu nome?

- Margherita, senhora.

- Faça bem o seu trabalho, Margherita, e a natureza será sempre grata!

Voltando-se para as fadas gêmeas, fez a mesma pergunta, e elas responderam juntas:

- Somos Gwen e Diana, e faremos bem o nosso trabalho.

Satisfeita, a rainha das fadas se retirou. Margherita e as gêmeas começaram a colorir e perfumar as flores diurnas, ansiosas para ver como eram as flores da planta noturna.

Quando o sol desapareceu e a lua lançou seus primeiros raios sobre o bosque, a planta se abriu. Margherita e as gêmeas ficaram maravilhadas com a delicadeza das pétalas de suas inúmeras flores. Margherita resolveu colori-las de um branco opaco e brilhante, o que fez com que ficassem parecendo que haviam sido banhadas com leite. As gêmeas, num momento de pura emoção, devido à pureza daquelas pétalas, produziram um perfume único que aplicaram com carinho, um perfume inebriante de tal modo que se espalhou pelo bosque, sendo levado pela brisa suave. De repente, elas ouviram um ruído. Esconderam-se e viram um casal que passava tranqüilamente, a cavalo, pela trilha que cortava o bosque. Deveriam ser nobres, pois usavam roupas distintas e os cavalos eram magníficos. A jovem usava um vestido branco como as pétalas daquelas flores que as gêmeas acabaram de perfumar. Ouviram-na comentando:

- Oh, que perfume maravilhoso, Harry! De onde virá?

O rapaz olhou em volta e, fixando o olhar, comentou:

- Acho que vem daquelas flores magníficas que pendem em cachos daquela planta.

A jovem aproximou o cavalo de onde as flores estavam, colheu um cacho e disse, sorridente:

- Sim, Harry, é daqui! Que flores são estas? Nunca as vi por aqui.

- Creio que você as descobriu, Katherine. Então coloque um nome!

A jovem pensou e, sonhadora olhou para a lua cheia. Sorrindo, falou:

- Vou chamá-la de "Dama-da-Noite", porque está aberta à noite, quando não vejo nenhuma outra flor desabrochada a esta hora.

E seguiram seu caminho. Margherita e as gêmeas sorriram e voaram pelo bosque adentro para continuar o seu trabalho.

Assim, Margherita realizou seu sonho e para sempre pôde ver a lua e as estrelas. E até hoje podemos sentir o perfume único da planta chamada de "Dama-da-Noite".

Rita Flôres
Enviado por Rita Flôres em 26/03/2007
Reeditado em 08/04/2022
Código do texto: T427005
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