Natal em Proud

Nevava em Proud, aquela cidadezinha misteriosa perdida na Escócia que, como muitos já sabem, reúne uma curiosa população.

A Letters & Blues estava lotada. Christian Hill, o proprietário, coria de um aldo para o outro, ajudando aqui e ali. Ele gostava de estar presente e trabalhava como qualquer funcionário. Ele estava desfalcado, pois sua esposa tinha ido levar sua filha ao médico. Jane tinha cinco anos e era o raiozinho de sol que havia chegado para iluminar suas vidas. Sim, porque Christian e Joy eram vampiros. Eles haviam adotado Jane, cuja família havia sido assassinada algum tempo antes, e não haviam se arrependido.

O sino da porta tocou e uma linda mulher, de cabelos vermelhos como o fogo, entrou na livraria trazendo pela mão uma pequena menina, de cabelos dourados e rosto rosado. Chistian, sorridente foi até ela. Deu um beijo na esposa e pegou a pequena no colo.

- Oi!!!! Como está você, hein, arteira do papai?

A menina deu um sorriso largo e o beijou. Joy sorriu para o marido. Amava tanto aqueles dois! Mas precisava falar com Christian a sós.

- Podemos conversar em particular? – perguntou olhando a confusão.

Christian suspirou. Conhecia aquele olhar da esposa e sabia de antemão que problemas haviam surgido.

- Amor, eu te conheço e sei que deve ser algo sério, mas agora eu não tenho como sair nem disponibilizar alguém para ficar com Jane. Isso aqui está uma loucura. Não pode ser mais tarde?

- Claro! Não se preocupe. – ela disse dando-lhe um beijo demorado. – Olhe, vou para casa e à noite a gente se fala, ok? Pelo menos posso ficar com Jane um pouquinho mais, já que amanhã vou ter que estar aqui, né? – deu uma piscadinha.

- Ah, Joy, você não sabe como está me fazendo falta! Marcel já aprontou um monte por aqui. – Christian falou dando uma risada, mas logo ficou sério. – O que você precisa falar comigo é sobre a saúde de Jane? – perguntou apreensivo.

- Não! Fisicamente ela está bem... O que está me preocupando é o que ando ouvindo... Ahhh, depois te conto. Te amo, meu gato!

Joy deu um beijo demorado em Christian, pegou Jane no colo e saiu rapidamente da loja, antes que ele a impedisse. Christian havia desenvolvido uma curiosidade enorme por causa dos poderes de Joy. Ela ouvia mais e sentia cheiros que nenhum outro de sua espécie conseguia sentir. Joy não era tão forte fisicamente quanto ele, mas tinha poderes mais profundos.

Ao chegar em casa, Joy troca as roupas de Jane e a coloca em seu cercadinho, com seus brinquedos preferidos e vai preparar ume refeição para a menina. Ao chegar ao quartinho rosa e lilás de Jane, ela ouve a menina conversando. Curiosa, abre vagarosamente a porta, mas não há ninguém ali além da pequena. Joy para, fecha os olhos e consegue ouvir a voz de um menino, bem pequeno por sinal. Porém, onde ele está? A vampira presta atenção ao que conversam.

- Papai Noel vai me dar uma bonequinha, mamãe me disse, Brian. – falou Jane.

- Eu não vou ganhar nada. Eu “to” sozinho, Jane. Mamãe me deixou. “Num” acho ela. Tudo tão escuro e frio... Posso ficar aqui com você?

- Pode sim. Mamãe e papai deixam.

Joy entra no quarto devagar.

- Jane, filha, com quem você está conversando?

- Com o Brian, mamãe. Você não está vendo ele? Bem aqui sentado do meu lado.

Joy firma os olhos, mas não consegue ver. Esse poder ela ainda não desenvolveu, no entanto, ela sabe que ele existe, pois pode ouvi-lo.

- Olá, Brian.

No mesmo instante uma vozinha infantil responde.

- Oi.

Joy fica pasma, mas resolve saber de onde vem o garoto.

- Brian, quem é você? Onde mora?

- Moro aqui mesmo, em Proud. Meus pais tem uma fazenda na colina. Minha mãe se chama Ann e meu pai, Joseph.

Joy começa a se preocupar. Esses nomes não são estranhos.

- Quantos anos você tem, querido?

- Cinco anos.

Joy fecha os olhos. Ele tem a mesma idade de Jane. Sim, ele foi uma das vítimas daqueles massacres. Mas, o que ele fazia ali?

- Crianças, vocês podem ficar brincando. Vou dar um telefonema.

Joy sai e, pegando o celular, liga para Emma, uma das bruxas mais poderosas de Proud. Ela havia se mudado para a cidade há três anos e tinha o poder de ver o invisível.

- Alô, Joy. – uma voz sorridente cumprimentou do outro lado da linha.

- Você sempre me surpreende, Emma. – Joy ri.

- Já deveria estar acostumada, gata. O que houve com a pequena Jane?

- Ela está conversando com um menininho que já morreu.

- E como você sabe disso?

Joy suspirou.

- Consigo ouvi-lo, mas não posso vê-lo. Você poderia dar um pulinho aqui em casa? Acho que esse menino precisa de ajuda.

- Daqui a pouco estarei aí. Tenho mesmo que comprar os presentes de meus filhos.

- Aguardo você. Vou preparar um chá.

- Tudo bem, mas não se preocupe. Vamos resolver isso.

Joy desligou e voltou para o quarto de Jane, que agora brincava com sua boneca preferida.

- Brian ainda está aqui, filha?

- Não, mamãe. Ele foi pra Igreja.

- Para a Igreja? Para quê?

- Ele me disse que todo final de ano, no Natal, a família dele iá para pedir a Papai do Céu felicidade. Ele não sabe onde a família dele está, então foi lá ver se encontra eles.

,Aquelas palavras comoveram muito o coração de Joy. Ela resolveu mudar de assunto.

- Filha, o que você pediu a Papai Noel de presente?

A garotinha sorriu.

- Eu já tenho tudo. Pedi pro Papai Noel encontrar a família de Brian.

Joy pegou a pequena Jane no colo e a beijou muito. Como aquela menina, ainda em tenra idade, podia ser tão generosa?

- Vou fazer um chá. – disse Joy. – E quero você bem pertinho de mim.

Na cozinha, colocando Jane na cadeirinha, Joy prepara o chá, quando a campainha toca. Jogando um beijo para a filha, ela vai atender a porta e se depara com Emma, sorridente e muito encasacada.

- Está frio pra caramba! – ela entra batendo os pés e fechando a porta atrás de si. – Muito bem, onde está o pimpolho? – disse, tirando o casaco e pendurando no vestíbulo.

- Jane disse que ele foi à Igreja. Pelo que entendi, ele não consegue encontrar a família.

- Ah, vejo que teremos muito trabalho. Esse menino está preso aqui por algum motivo.

- Você acha que um menino tão pequeno tem alguma coisa inacabada aqui? Sei não...

- Joy, entenda, cada um de nós tem sua missão. Pode ser que ele tenha morrido sem terminá-la. Vamos perguntar a ele?

Joy a encara sem saber o que lhe passa pela cabeça. Logo Emma começa a entoar um cântico e Joy ouve a voz de Brian.

- Por que está me chamando, Tia?

Emma sorri.

- Nossa, como você é bonito! – ela se senta no chão da sala. – Eu sou Emma, muito prazer. E você é Brian.

- Sou sim. – Ele sorriu um sorriso onde faltavam dois dentinhos.

- Muito bem, Brian. Você se perdeu de sua família?

- Sim. Não encontro eles, tia Emma. – o menino falou e duas lágrimas correram pelo rostinho pálido. – Eu tenho que entregar o que minha mãe me mandou buscar.

- E o que é, posso saber?

- É uma boneca para minha irmã.

- E você está com ela?

- Não. Eu escondi porque ela é muito valiosa. Era um presente de Natal. Mas não me lembro onde.

- Hummm. Acho que nós podemos te ajudar, querido. Você pelo menos se lembra onde estava da última vez que esteve com essa boneca nas mãos?

- Eu estava perto do poço. Aí a pessoa malvada chegou... e eu só lembro da escuridão.

Joy, colocou uma das mãos no ombro de Emma. Em seus olhos as lágrimas ardiam querendo rolar pelo belo rosto.

Emma se levantou.

- Pegue o casaco, ligue para Chris e deixe Jane com Kendra. Preciso de vocês dois. Agora!

Joy fez o que Emma lhe pediu. Kendra logo estava lá e, assim que Chris chegou, todo nervoso, eles saíram de casa e se dirigiram até o poço antigo. Lá, Emma chamou por Brian. O menino parecia assustado, mas ela o tranquilizou.

- Não tenha medo, querido. Estamos aqui para encontrar a bonequinha de sua irmã.

O menino assentiu. Emma, então, começou a entoar um novo cântico. Pouco a pouco uma luz iluminou o interior do poço e começaram a dele sair estrelinhas. Assim que as viu, Brian disse:

- Eu me lembro! Coloquei a boneca num buraco dentro do poço, mas bem na beiradinha porque eu não alcançava muito.

Chris, no mesmo minuto, foi até o poço e, tateando devagar, encontrou a bonequinha de porcelana que ali estava. Foi então que uma luz muito forte começou a brilhar e dela saíram quatro pessoas. Todas sorridentes e muito belas.

- Mamãe! Papai! – gritou Brian, que correu em direção de sua família, sendo por eles acolhido de forma amorosa e benigna.

A senhora, de traços finos e gentis, aproximou-se de Emma, Joy e Chris.

- Muito obrigada por trazerem meu filho de volta – falou com sua voz suave.

Joy e Chris estavam boquiabertos, pois agora conseguiam ver a família inteirinha. Chris, lentamente, estendeu a boneca para uma menininha que se escondia atrás da mãe. Ela sorriu e a pegou, começando a niná-la. Depois foi até Joy e disse:

- Esse é nosso presente para todos vocês. – a menina sorriu e entregou a bonequinha para Joy. – Eu não posso levar minha boneca, mas acho que sua filha vai gostar dela e vocês também!

Chorando de emoção, Joy diz:

- Não, não. Ela é sua.

Dando a mão aos filhos, a senhora sorri.

- Por favor, aceite nosso presente de Natal, Joy. Vai gostar...

E todos acenaram, se despedindo, sendo envolvidos por uma linda luz azul e desaparecendo enfim. No lugar onde estavam surgiu uma bela árvore de Natal. Era a magia do lugar novamente agindo.

Os três voltaram para casa. Lá, diante do olhar curioso de Kendra e Jane, Joy segurou a boneca e descobriu que havia uma pequena bolsa nela amarrada. Ao abri-la encontrou duas lindas pulseiras, uma de esmeraldas e outra de ametistas. Joy entregou a de esmeraldas para Emma.

- Esta é sua. Você foi quem ajudou Brian a se lembrar e sei que você precisa de dinheiro para ajudar sua filha no tratamento médico.

Emma abraçou Joy.

- Obrigada. Eu não sabia que você tinha conhecimento de nossa luta.

Emma, então colocou as mãos sobre a cabeça de Joy e a abençoou, fez o mesmo com Christian e Jane.

- Guarde bem essa outra pulseira. Você vai precisar dela no futuro. Essas pedras lhe protegerão. – disse Emma.

Olhando a todos, olhos felizes, Emma continuou:

- Amanhã é Natal! Que tenhamos paz, harmonia e boa vontade.

E lá fora fizeram-se ouvir cânticos de Natal. Brian e sua família estavam juntos e tudo era, enfim, paz.

Fim

Rita Flôres
Enviado por Rita Flôres em 05/02/2017
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