As Duas faces de Odin Sete Vidas

Quando ele abriu a bocarra devorada e soltou um mugido pavoroso, coberto por uma névoa densa jamais perpassada pelos raios de sol, os vales, baixios e rincões encolheram-se, fecharam-se em copas. Adormeceram sob profundo breu.

Após muitos anos, arqueólogos descobriram a ossada do Dragão Odin. E ao removê-la das entranhas do solo, o voo cintilante do rabo de Odin cobriu o céu com as sete cores do arco íris. Daquele momento em diante, sete cores em sete brilhos, estabeleceram-se na Terra sobre sete vidas, gerando sete filhos iluminados. Eles prediziam, os 14 filhos indiretos de Odin, que a Terra é ouro puro! O dragão ouvia esse aforismo com ares de desconfiança.

O tempo foi passando e coisas novas foram sendo descobertas. Derivado das Sete Famílias, a Terra foi se enchendo, originando os Sete Povos. E até os dias do aço forjado, os vales, rincões e cercanias permaneceram sob a diplomacia de Odin Sete Vidas. Contudo, a alquimia de malhar a matéria prima e transformá-la em metais preciosos, mudou completamente o cenário dos rincões; levando as sete famílias ao desentendimento. Durante décadas e mais décadas, o contínuo desentendimento pela dominação de territórios e busca pela inovação nos meios de produção bélica, desencadeou a Guerra dos Sete anos.

Dessolado, Odin presenciava a falência de seu reino; e como não havia meios de negociação para a restauração da paz entre as Sete Famílias, espera-se que os tempos vindouros sejam de Sete Mortes. Caso o prognóstico se confirme, Odin Sete Vidas mudará seu nome para Nido Sete Mortes; e quem sofrerá nas mãos do novo Rei será seu povo, que um dia possuiu sete fontes de água pura e cristalina, as quais, as sete cores do arco iris desceriam do céu, para cada uma delas, tomar sete goles de água.

Contando com o solo rachado e as labaredas de fogo incendiando os paios abarrotados de provisões, provavelmente, o mundo voltará ser o que foi antes da descoberta da ossada de Odin; transformando-se dessa vez em seca absoluta e desilusão. Em condições extremas, fome, miséria e mortes entre irmãos habitarão a Terra para sempre!

Tornando as profecias realidade irrefutável, sem mais o que fazer, a não ser aceitar a derrota, Odin Sete Vidas entregou o reino que o pertenceu por eras, à sua versão ao contrário. Odin nunca se apercebeu que uma moeda compõe-se de cara e coroa, assim como o arco iris é um fenômeno físico das ondas espectrais do sol incidindo no salpicado, cortando os filetes de água em queda livre.

Odin, que era Sete Vidas, ao notar a perda e esgotamento de seu fôlego, agora amarga as Sete Mortes. Não há fortaleza, não há reinado, que reine mais que o tempo. Tempo é Poder, Odin! Não é essa a máxima que o seus povos aprenderem com o próprio tempo? O viés, é que o tempo pode ter quantas vidas possuir, mas não passa de ilusão de quem insiste em vivê-las. Destarte, fracassado Odin, o tempo, perante o próprio tempo, é ganho ou perda de Poder.

"Adeus Odin. Durma em paz! Espere na ciência arqueológica o seu ressurgimento, porque em nosso reino, jamais haverá ave Fênix"! - Nido zombou da cara de sua sombra, às avessas.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 15/02/2018
Reeditado em 18/02/2018
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