A Coroação de Jorge I, Tsar da Prússia

Era uma manhã chuvosa e o nascer do sol se ocultava entre as nuvens trevosas daquele domingo de Abril de 1630. Jorge Guilherme, Duque da Prússia e Eleitor de Brandemburgo, agora se aproximava lentamente do Altar do Senhor. Trêmulo e hesitante, não sabia qual passo deveria ser dado a cada momento do ofício, tão longo e repleto de misticismo, e tampouco podia entender qualquer palavra da língua.

Era um momento único, esperado por anos, desde sua conversão à Verdadeira Fé. Conta-se que rezava solitário em uma capela durante uma madrugada qualquer de 1619, inseguro quanto ao futuro que se lhe aproximava com a herança do principado. Um calvinista de formação, tal qual lhe educou seu pai e antecessor, que rejeitou a fé luterana de seus predecessores, o jovem Jorge era um mancebo verdadeiramente despreparado para sua responsabilidade real.

Amedrontado ante uma guerra corrente que lhe excedia às forças, ansiava desesperado por uma resposta dos Céus e por isso rezava segundo lhe ensinara seu pai – em divergência de sua mãe luterana. Diante da Cruz, de joelhos, implorava por uma luz sobre as decisões corretas a serem tomadas, de modo a fazer o melhor para todo o povo sob seu jugo. Terminando suas preces, saía calmamente da capela, cabisbaixo e com um sentimento profundo de vazio e rejeição por parte do Altíssimo. Mas foi também olhando para o chão de pedra que seus olhos ficaram como cegos com o reflexo de fortíssimos feixes de luz.

O trêmulo Eleitor, elevando seus olhos aos céus, ficou como morto, paralisado e caindo de joelhos ante uma visão que julgava só poder advir da loucura ou da santidade que sabia não possuir. No alto dos Céus, acompanhado de uma hoste angélica entoando cânticos cuja beleza seus ouvidos não podiam ouvir sem romper-lhe os tímpanos humanos, brilhava como estrela o Ícone de São Jorge, o Grande Mártir da Capadócia, portando trajes romanos e empunhando à destra a espada erguida ao Oriente. Em um tom misto de mansidão e austeridade, aquela visão que o jovem nobre não sabia julgar loucura ou milagre lhe anunciou o caminho que mudaria para sempre a história de nosso povo: Com o Tsar, vencerás!

É a partir deste momento que, conta a história, Jorge Guilherme da Prússia se converte à Igreja de Cristo. Dizem algumas fontes que de imediato partira o jovem Duque para Moscou, pedindo pela ajuda do Tsar ao Ducado da Prússia num momento de fragilidade e sujeição aos polacos. No mesmo dia, diz-se, contou sua visão ao Tsar Miguel de todas as Rússias, sendo imediatamente batizado, junto de toda sua família, no Mosteiro da Santíssima Trindade.

Retornara a Brandemburgo comprometido, conforme seu acordo com Miguel I, a converter seu país e tomar posição contra os cristãos ocidentais na Guerra. De imediato, o Duque e Eleitor Ortodoxo da Prússia e Brandemburgo outorga lei que considera a Ortodoxia a Fé oficial de seu principado, convertendo todo um povo, iniciando uma era de batismos em massa, construção de catedrais, evangelizações públicas e derrubada dos templos e valores erguidos e legados pela antiga fé protestante.

A recepção, porém, foi controversa, ingressando a Prússia numa era de rebeliões e invasões. Cumprindo seus deveres diplomáticos, viaja para prestar homenagem a Sigismundo III, rei católico da Polônia, em razão de sua subordinação feudal, sendo recebido com uma clara intimação, havendo de optar entre a apostasia ou a guerra. Tomando a decisão correta, com o apoio dos russos e as bênçãos de Deus, venceu os polacos católicos e uma coalizão de principados protestantes, absorvendo territórios e grandeza diante de Deus.

Ordenou que fosse erguida em Brandemburgo uma grandiosa Catedral em nome de seu patrono, São Jorge. Durante mais de uma década, centenas de devotados prussianos se empenharam em construir a mais bela de todas e mais monumental das igrejas. E agora, ali estava o então Duque, prestes a adentrar ao Santuário onde o Colegiado Episcopal de toda a Rússia terminava a celebração da Divina Liturgia – a primeira da recém-consagrada Catedral.

A ocasião aqui narrada – para que jamais se olvide da história de nosso povo – data da Coroação do Pai da Prússia Ortodoxa, a Pátria material nos designada por Deus. O então Duque estava prestes a receber o Sacramento que lhe converteria de um simples nobre subordinado a um reino estrangeiro de outra fé em um Autocrata ungido por Deus, Bispo das coisas materiais, digno da Comunhão no Altar, e Tsar da Prússia. Era também esta Coroa, que agora portava, o selo da dignidade pela Vitória numa guerra que, embora ainda se tenha estendido pelas gerações vindouras, fora a marca da libertação material e espiritual da Prússia.

Os russos, desde a queda de Constantinopla, se mantinham como o único povo cristão ortodoxo de toda a Europa. A conversão de Jorge I fora o marco inicial da inquebrantável e eterna Aliança Russo-prussiana, que hoje consolida o último foco de genuinidade na cada vez mais arrasada cristandade européia. Se a Prússia não se rendeu às inovações heréticas da Europa Ocidental apóstata e hoje não é partícipe da degradação moral e espiritual da modernidade, da qual se manteve isolada, sob um véu de virtudes natas de nosso povo e de valores eternos legados pela Fé Verdadeira que herdamos do Tsarado Moscovita. Se a corrida imperialista do capitalismo do Século XX, responsável pelas guerras mundiais e pelas sangrentas e satânicas revoluções que varreram o Cristo das nações, em praticamente nada atingiu nossa Pátria, não sendo nada além de meros acréscimos ao longo e vitorioso histórico militar prussiano, devemos novamente agradecer a este dia e a este Sacramento.

O então Duque tremia pelo assombro da proximidade com o Altíssimo e gaguejava pela dificuldade em pronunciar orações e juramentos na língua litúrgica antiga dos eslavos. Se o alemão moderno se escreve com o alfabeto de São Cirilo, devemos também graças a esta marca das interações russo-prussianas, que trouxeram-nos a Salvação e partes tão notórias de nosso cotidiano, mas que à época ainda eram grandes inovações e mudanças bruscas, para as quais a adaptação foi lenta e gradativa.

Mas ao sair coroado do Santuário de Deus, contemplar ante sua majestade uma multidão de devotados fiéis, unidos sob a égide do Espírito Prussiano e da Verdade Salvífica da Igreja de Cristo, já não mais lhe restavam temores e tremores, senão o justo e santíssimo regozijo da glória majestática gravada na eternidade.

Já não mais um ducado subordinado, mas um Império soberano, a Prússia perdura. Dentro de seu fardo de temporalidade, prefigura a eternidade que trará de benesses aos justos aquela Fé que a ergueu das profundezas rumo ao Altíssimo.

E se escrevo estes relatos, dos quais jamais tomei verdadeiro conhecimento senão por uns velhos e empoeirados livros de história da estante de minha família, é unicamente para que nosso passado não se perca, e junto dele o nosso futuro.

Hoje, os sinais da influência estrangeira já florescem em nossa Pátria, revelando um pequeno tumor que ainda muito pode crescer se não tratado. Os primeiros passos rumo ao estado atual das coisas fora de nossas fronteiras, que foram dados pelos países vizinhos já há séculos, vêm sendo dados pelo Império. Cristo vem dando lugar o mundo. A Prússia vem dando lugar ao exterior.

Que conhecer estes fatos aqui narrados seja para nós como outrora fora presenciá-los para nossos antepassados.

Vladimir Sokolov
Enviado por Vladimir Sokolov em 10/03/2018
Reeditado em 10/03/2018
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