Anjo da Guarda

- Quer dizer, você ainda vai estar por aqui quando o sol nascer? - perguntou o menino.

- Sim, claro! Não se preocupe - respondeu o urso.

Os barulhos continuaram na cozinha, dessa vez mais fortes.

- Eu acho que eles não estão brincando não - o menino disse.

- Claro que estão! Já se esqueceu da semana passada, quando você e o Dudu quebraram a vidraça da Dona Lurdes jogando futebol? - disse o urso. - Seu pai e sua mãe devem estar brincando de pique na cozinha. Faz barulho mesmo.

- Mas minha mãe sempre briga comigo quando jogo bola dentro de casa.

- Ah, é que é ela que sempre limpa a bagunça depois. Mas ela não se importa com que você brinque. Da próxima, a gente limpa tudo! Ela vai adorar, pode crer.

Um copo se quebrou la no outro cômodo.

- Nossa! A mamãe vai ficar uma fera com o papai!

- Vai ver, faz parte da brincadeira. - disse o urso calmamente.

Alguns minutos se passaram em silêncio. De repente, gritos de mulher e xingamentos de homem começaram em alguma parte da sala.

- Eu estou com medo, Rocky. - disse o menino, com a voz baixa.

- Calma, parceirinho. Devem estar assistindo algum filme violento na televisão. Sua mãe adora o Clint Eastwood, lembra? Você já tem 5 anos de idade, logo começa a gostar desses filmes também.

- Mas parece que a minha mãe tá chorando…

- Ela está é rindo, meu camaradinha! - e deu uma risada. - Olha, não se preocupe com eles. Os adultos têm mesmo um jeito estranho de resolver as coisas. Mas tá tudo bem! E, se não estiver, eu te protejo. Daqui a pouco seu pai vem aqui pra olhar a gente. Se estivermos acordados, ele não vai gostar!

- Tá bom.

O barulho continuou, dessa vez mais distante.

- Rocky, canta pra eu dormir?

- Sim! Claro!

- E jura que não vai embora?

- Não vou. Palavra de escoteiro.

O urso começou a cantar “Over The Rainbow”, imitando a voz daquele gordinho havaiano que tocava ukulele.

De repente, o pai raivoso abriu a porta do quarto, falando alto:

- Que barulho é esse aqui? Ainda não dormiu, moleque?

O menino virou-se, rápido, para o canto.

O ursinho de pelúcia marrom caiu no chão do quarto, inerte.

João Paulo L Tito
Enviado por João Paulo L Tito em 20/11/2018
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