Seo Raimundo e seo Zé das plantas

Seo Raimundo e seo Zé das plantas

Esperança é uma cidade maravilhosa. Daquelas que só existem em conto de fadas, Walt Disney, essas artes fantasiosas. Neste lugar, as coisas acontecem exatamente como devem ser. Há uma lombada? Os carros passam devagar. Tem um semáforo? Os motoristas, antes que o sinal fique vermelho param e sempre antes da faixa. Nos ônibus de transporte público, pessoas mais velhas, mulheres grávidas ou qualquer um, que precise sentar, sempre há alguém disposto a ceder o lugar.

Existem outras particularidades, que só acontecem naquela cidade, as ruas são sempre limpas, bem asfaltadas, largas, os carros rodam nos limites da via.

Suas casas têm água encanada, energia solar, o esgoto é tratado. Há postos de saúde em todos os bairros, nunca faltam médicos, enfermeiras, medicamentos então, basta receitar.

Quem vai a passeio, trabalho ou apenas de passagem, muitas vezes não volta. Ficam por ali mesmo. É muito fácil se encantar com esta cidade, até as praças tem seu diferencial. Não são praças comuns, foram imaginadas por pessoas preocupadas com a população, com a saúde desta. Vislumbre você em uma praça e se depara com plantações de verduras, legumes, até chás compõem a parte verde das praças. E a população contribui, ela mesma cuida das pragas, consome e repõem o que está acabando.

Por ser decorada a base de frutas, legumes e verduras, a cidade tem outra curiosidade, só dela. As ruas, bairros, avenidas, praças, tudo tem nome que lembra saúde, rua dos brócolis, avenidas dos pepinos, alameda das mangas e por ai afora. Os bairros não ficaram de fora, tem o dos cogumelos, vila melancia, setor das samambaias e muitas outras. É comum o pessoal brincar, onde você mora, em uma salada de frutas e de legumes, na rua do tomate com a rúcula, bairro da goiabeira, perto do mercado da mandioca.

E nesta cidade perfeita, seus moradores são também, exemplos de cidadania. Você poderia dar voltas e voltas em qualquer bairro, ou no centro e não vai perceber qualquer espaço vazio. E isto foi incentivado de uma maneira inteligente,

“se você plantar vida em um espaço vazio, não cultivará ratos, insetos e a sociedade agradece”

Sem muitos rodeios, Esperança é o próprio paraíso na terra.

Em qualquer praça da cidade, outra coisa comum são os pássaros. Haviam de muitas espécies, desde o pardal mais comum, até trinca ferros, azulão, pica pau, os lindos canários, estes alegram qualquer lugar, com seus cantos e cores.

Em uma dessas praças, a das mangueiras gigantes, que era acompanhada sua decoração por pepinos, tomates, belas flores, o delicioso cheiro do manjericão e outras delicias de sabores. Em um dos bancos, se encontraram os responsáveis por esta maravilha toda, seo Raimundo, o idealizador deste projeto, tido como coisa de maluco, por algumas pessoas e seo Zé das plantas. Este último, o cara que sabia tudo sobre como cultivar uma árvore, legumes, saladas, flores, até a mandioca, dizem as más línguas, ele sabia plantar.

Muitas pessoas, quando estavam a passeio, faziam questão de conhecer os “pais das crianças”. Ambos eram pessoas simples, de sorriso fácil, tinham uma conversa gostosa. Pareciam estar sempre prontos a “reflorestar”, a qualidade de vida em outras cidades.

Havia com eles nesta praça, pessoas apenas saboreando a beleza desta, outros caminhado com a família, curiosos que apenas curtiam aquela linda tarde de verão. Um desses, tinha motivos particulares para estar com eles. Era Everaldo, político de uma cidade vizinha, que queria aprender os mistérios daquele sucesso. Não era conhecido das pessoas que ali se encontravam, seria mais um a reunião.

As perguntas das pessoas eram muitas; - como conseguiram implantar esta ideia de forma tão eficiente, quem pensou nisto, como surgiu, é fácil manter está estrutura, vocês gastam muita água, quem paga a conta, estás algumas das perguntas. Mas todas eram respondidas da melhor forma possível.

E cada um pôs-se a responder, o assunto que dominava mais, por vez seo Raimundo sobre administração, já sobre as plantas, seo Zé das plantas.

A pergunta mais comum era; como surgiu a ideia, a resposta era por conta de seo Raimundo. Parecia ter o assunto pronto, sempre na ponta da língua e começou a explicar; - um dia em uma reunião de comunidade, parou deu uma risada e disse; - daquelas como de síndico ou de colégios, que ninguém vai, surgiu à preocupação, de como usar o terrenos baldios, de maneira útil ao bairro. Parou, pareceu recordar o momento da reunião e disse; - pois naquele espaço só havia ratos, insetos, cobras e pior, muitos desocupados frequentavam aquele matagal. Então eu dei minha opinião; - vamos transformar aquilo, em uma grande horta, uma plantação de frutas, legumes e outras coisas. E assim a conversa durava praticamente a tarde toda.

Mostravam as vantagens de transformar todo espaço ocioso, em uma horta, ou um pomar em favor da sociedade. Enumeravam muitas, o local primeiramente, ficou mais bonito, saíram os ratos, insetos e outras pragas. Entraram as flores, frutos e os cheiros então, nem se compara.

- Uma que se sobressai, disse seo Raimundo; - a segurança, não há o que discutir. E detalhou o assunto; - antes da transformação, as pessoas evitavam aquele lugar. Hoje é o principal ponto de lazer do bairro. E concluiu justificando, - só isto, já é motivo de orgulho, o que era uma dor de cabeça para a prefeitura, virou um ponto de concentração da população.

O próprio dono da área, rendeu aplausos a iniciativa. E difundiu esta, entre proprietários de terrenos desocupados, por um simples motivo, não era alvo de multas e valorizava o local. Em outras palavras, o que era um pepino indigesto, tornou-se um saboroso doce de abóboras.

Não demorou muito e a cidade toda se transformou em um imenso pomar, uma horta desproporcional. Todo espaço vazio, era uma fonte de energia, vitaminas e outros nutrientes, todos necessários a saúde da comunidade.

Imagine um canteiro central, colorido com alfaces, brócolis, tomates, chás, manjericões e outras delícias. Gostou? Então jogue sobre esta paisagem, lindos abacateiros, pés de limões carregados, laranjeiras se dobrando com seus saborosos frutos, têm também as belas, frondosas e frutíferas mangas. Era um cartão postal a cada esquina. Isso deixava os antigos gramados, apenas áreas verdes.

E terminou; - com uma ideia simples, transformamos esta pequena cidade, em uma referência para outras. Falou também sobre as facilidades de fazer isto acontecer, que a principal bandeira é, todos, de mãos dadas, ajudando a coletividade de uma maneira simples. Cada um ajudava a sua maneira, plantando, cultivando, regando, ou até combatendo as pragas. Outro poderia comprar uma enxada, ceder o espaço. E isto contagiou a todos, em pouco tempo virou febre. Em qualquer lugar onde pudesse ser plantado vida, por menor que fosse, alguém o preenchia.

Feito as devidas explicações, passou a palavra, sem deixar de prestar homenagens a seu parceiro; - a que se enaltecer o pai desta beleza toda, e apontou para Zé das plantas e continuou; - sem suas mãos, não teríamos este sucesso todo.

Aproveitando a oportunidade, Everaldo perguntou; - seo Zé das plantas; - o senhor, quanto cobra para fazer este trabalho, ensina outras pessoas a fazer esta arte? E seo Zé das plantas, com toda calma do mundo, própria de quem admira a vida por seu ciclo, como uma plantinha semeada no campo e que por um milagre da natureza, nutre outras vidas, responde; - filho, o conhecimento é algo que se você guardar, perde. E disse mais; - então repasse tudo que souber e para quantas pessoas for capaz. Apontou para a praça e disse; - veja aqui, nós temos mais que mangas, tomates, frutas, olhe o outro lado da rua, há os alfaces brócolis e demais plantas. Com seu semblante orgulhoso continuou; - aqui temos qualidade de vida, é só olhar a quantidade de cores, sabores e odores e observou; - recebi de graça, é um dom de Deus, não devo cobrar nada. Recebeu algumas palmas e falou com maestria, sobre suas plantinhas queridas. Falava das propriedades de cada uma, os benefícios ao corpo, a saúde. A necessidade de regar, a importância de plantar na lua certa. Por que não deixar “os bichos” tomar conta. Eram tantas as vantagens e curiosidades, que a tarde passou num piscar de olhos.

Por fim, Everaldo depois de escutar tudo, se identificou e perguntou; - quais outras vantagens, poderiam ser percebidas por intermédio desta atividade comunitária?

Nisto Manoel, funcionário público que se encontrava entre as pessoas disse; - olha, eu trabalho na prefeitura, na vigilância sanitária e posso responder com conhecimento. Lembrou alguns números e disse; - antes desta maravilhosa ideia, as pessoas ficavam facilmente doentes por conta da dengue, leptospirose, as lombrigas incomodavam as mães, então, agora sem elas, o dinheiro gasto na prevenção, pode ser remanejado e por exemplo, ser gasto, como foi, na aquisição de aparelhos comunitários para ginástica.

Houve um breve silêncio e seo Raimundo disse; - pois bem Everaldo, se você fizer isto em sua cidade, logo outras vão aderir. Nesta corrente, transformamos um país, imagine isto que Manoel acabou de falar, sobre as vantagens para a economia do município, quanto à saúde da população ganharia? O retorno é visível, não apenas nos cofres públicos, também nas academias que geram pessoas mais saudáveis e educam crianças a se alimentarem melhor. Copiando as atitudes dos pais e assim ter uma vida mais saudável.

E foi assim que em pouco tempo, um país que estava “mal das pernas”, reabilitou toda uma população, gozando estes, de uma vida muito melhor.

- Os números desta melhora, comentava Everaldo em rede nacional; - é o diferencial da atual fase econômica que vive o país. E continuou; - a pouco mais de dez anos, nossas praças, avenidas, terrenos baldios, alamedas, canteiros centrais, continham grama. E emocionado lembrou as sabias palavras de seo Zé das plantas, ele devia parte de seu sucesso, aquele senhor simples e sábio que uma vez disse:

“todo conhecimento que você guarda, na verdade perde, pois alguém deixou de desfrutar deste”.

Com a voz trêmula e engasgada, deu sequência a seu discurso; - hoje aqueles locais contém vida, saúde, alegria, cores, cheiros e odores; neste momento ninguém percebeu a lágrima solitária, ao lembrar-se de seo Raimundo e Zé das plantas, que os deixou há pouco tempo.

E continuou enaltecendo os ganhos do país. Falou sobre a violência que diminuiu drasticamente, por um motivo simples. As pessoas começaram a se ajudar mais, não apenas a plantar, colher, adubar uma vida na forma de planta. Porém a proximidade de um vizinho com o outro, deixava as pessoas mais amigas, parceiras e isto no efeito dominó, fazia bem a todos.

A interação das famílias, tornava o problema de um, algo a ser resolvido por todos, assim, algo que nascia pequeno, não tomava dimensões maiores, ou como diria seo Zé das plantas; - é de novo que se torce o pepino. Por isto, problemas socias de dimensões absurdas, começaram a facilmente ser solucionados.

Um jovem que não queria estudar e gostava de ficar as ruas, era incentivado a praticar esportes, ter uma profissão, fazer trabalhos comunitários. E assim, perceber a necessidade de conviver em sociedade. Este apenas um exemplo, haviam muitos outros. Afinal de contas, mudou uma nação.

E isto virou uma febre no país. Tomou tamanha proporção, que fez de Everaldo, um vereador de uma pequena cidade, presidente da república.

E outra lagrima desceu, está algumas pessoas perceberam, entretanto, poucas sabiam o motivo.

Chorou por seo Raimundo e seo Zé das plantas.

Pessoas que ele gostaria que estivessem junto dele, para comemoração do seu feito.

Pois foi eleito, presidente da nação.

Paulo Cesar

Paulo Cesar Santos
Enviado por Paulo Cesar Santos em 13/02/2019
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