O Gênio do Mal

Quando os guardas trouxeram a princesa Thula, disfarçada de mensageiro, à presença de Lorde Zaphar, aboletado em seu trono de granito no salão de audiências, este soltou uma gargalhada demoníaca.

- Princesa Thula! Há quanto tempo não nos víamos... e em nosso último encontro, vossa alteza não estava vestida de homem.

- Dei uma repaginada no meu guarda-roupa - replicou gelidamente a princesa. - E vejo que está usando cores quentes... o que houve com o preto e o cinza dos seus trajes habituais?

Lorde Zaphar apoiou um cotovelo no braço do trono, a mão apoiada no queixo numa atitude descansada.

- Não sei se a princesa tomou conhecimento, mas eu tinha problemas sérios de depressão... tudo isso mudou quando comecei a fazer terapia com a Dra. Soraya. Uma das primeiras coisas que ela me recomendou, foi: "use cores mais alegres". Imediatamente, joguei aqueles panos fúnebres no lixo. E as minhas tropas agora usam uniformes vermelhos, para não haver problemas com manchas de sangue.

- Você pensa em tudo, Lorde Zaphar - ironizou a princesa. - Como então está curado da depressão?

- Mas não da megalomania - gargalhou o déspota. - A Dra. Soraya também disse que eu deveria encontrar um modo produtivo de ocupar o meu tempo, e o que poderia ser melhor do que conquistar toda a Terra de Rhom? Desde que comecei a perseguir e eliminar meus inimigos, um novo ânimo tomou conta do meu ser!

- A Dra. Soraya poderia ter apenas receitado medicamentos - ponderou Thula. - Você mandou matar pessoas absolutamente inofensivas e eu gostaria de saber o porquê.

- Você fala dos ladrões de galinha, bardos bêbados, desocupados em geral? - Inquiriu Lorde Zaphar, apoiando ambas as mãos nos braços do trono. - Se eu bem me lembro, era entre eles que você recrutava os seus seguidores... deve estar tendo problemas de recursos humanos para repor os quadros que foram eliminados. Aliás, prova disso é que invadiu minha fortaleza pessoalmente.

- Digamos que, se quer um serviço bem feito, faça você mesmo - redarguiu altivamente a princesa.

- E imagino que deve ter contado com ajuda de dentro para realizar isso, não é? - Sondou o déspota.

- Eu agi sozinha - replicou a princesa.

Lorde Zaphar virou-se para uma das entradas laterais do salão de audiências, e gritou:

- Jymur!

Um carcereiro de uniforme vermelho entrou no recinto e curvou-se perante o déspota. Ao vê-lo, a princesa empalideceu.

- Às suas ordens, meu soberano - disse o homem.

- Jymur, é verdade que a princesa Thula insinuou-se de modo capcioso para que lhe facilitasse a entrada na fortaleza?

- É verdade, meu soberano - aquiesceu Jymur. - E eu fingi estar interessado nela para que pudéssemos capturá-la aqui dentro.

Lorde Zaphar encarou a princesa e retorceu o rosto num esgar de ironia.

- Você se julga irresistível, não é princesa Thula?

A princesa permaneceu em silêncio.

- Ocorre que todos os meus carcereiros... são gays! - Exclamou Lorde Zaphar, dedo em riste na direção dela.

E voltando-se para os guardas:

- Podem levar a prisioneira para uma cela do terceiro subsolo... onde os dutos de ar não permitem passar um gato.

Depois da saída dos guardas e da prisioneira, o déspota chamou Jymur e fez uma última recomendação:

- Avise ao cozinheiro da masmorra que adicione suplementos hipercalóricos na comida da princesa Thula. Mesmo na improvável possibilidade de que ela consiga fugir da cela, quero que fique tão gorda que vá ter problemas para subir um simples lance de escadas...

- [14-04-2019]