Feitiço da Lua

Adorava o filme "Feitiço da Lua", com Cher, ela ganhou o Oscar por seu papel nesse filme. Ficava extasiado com as cenas em que a lua invadia as ruas e praças, emburacando nas casas com sua luz belíssima e mágica, inclusivo alterando para melhor a vida das pessoas, incentivando-as , incitando-as e instigando-as ao amor. Achava arretado o enredo do filme. Era um filme que levantava seu astral.

Havia uma música, tocada no final do filme que levava-o a marejar os olhos e vinha à mente um "cascatear de lembranças. Era uma canção, nao sabia se italiana ou não, mas focada na Itália, no filme era cantada por Dean Martin, That's Amore. Recordava um pedacinho dela traduzido para o português talvez por Haroldo Barbosa: "Quando a lua aparece mais bela é o amore./ Se nu toque de um sino em redor de um espaguete é o amore/ Sio faz tilingue-lingue-lingue, você diz: Vita Bela/ Se a memória não falha, na Itália isso é o amore".

Era mesmo um sujeito fascinado pela lua. Gostava de lembrar um verso de Quintana que definia esse fascínio: "Que haverá com a lua que sempre que a gente olha é com o súbito interesse da primeira vez?". Era pê da vida com os americanos por terem desvirginado a lua. Perguntava: - Para que, hermanos? Para fincar aquela bandeira mercenária e truculenta no deserto lunar onde não há água, ar e nem gravidade? Achava ridídula aquela frase de Armstrong dizendo que era um pequeno passo para um homem, mas um passo de gigante para a humanidade. Afirmava brabo: - Uma babaquice! Bonita achava a frase de Gagarin quando viu o nosso planeta do espaço: - A Terra é azul! Era um poeta. Gostava do que disse Bob Marley: "Seja humilde pois até o sol com toda a sua grandeza se põe para deixar a lua brilhar". Entendia que os americanos deveriam seguir o que disse o cantor.

Na verdade, esse homem ranzinza e esquisito, achava que a lua existia apenas ara brilhar, dar banhos de luar, inspirar os poetas, seresteiros e também para impulsionar e esquentar os amores. Havia uma música que ele tambem vibrava quando ouvia era de Catulo da Paixão cearense: "Não há ó, gente, luar como este do sertão". Mas também havia uma música de Augustin Lara, cantada pela voz aveludada de Nat King Cole, em espanhol, queo emocionava paca, era noche de Roda, vibrava neste verso:"Luna que se quieda sobre la tineba de mi soledad/ Adonde vás? Dime como ela fué e com quien está...". No entanto um clássico de Ari Barroso, "Aquarela do Brasil", que continha uma expressão com qual não concordava. Nao, não era "mulato inzoneiro", mas o verso: "Deixa de novo o trovador , a merencória luz da lua/ Toda canção do meu amor...". Que nadado era merencória? Achava que ele quis dizer melancólica. Mas a lua nao era melancólica, era esfuziante. A lua, pensava, como disse Capiba era dos namorados. Era reserva de mercado dos poetas. Era quase um feitiço. Ficava em estado de graça quando ouvia "Chao de Estrelas", principalmente o verso: "E a lua furando o nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão". Era imbatível. Mas adorava outra que Nelson Gonçalves cantava, se agitava nos versos: "A Deusa da minha rua tem os olhos onde a lua/ cotuma se embriagar". Lembrava outra: "Lua,manda tua luz rateada despertar a minha amada". Mas a música sobre a ua que ele mais adorava que realmente atiçava o feitiço do luar era "Lua Branca", de Chiquinha Gonzaga na voz da Rainha Maria Bethânia, marejava os olhos qando ouvia: "Oh lua branca de fulgores ede encanto/ Se é verdade, que aos que amam dás abrigo/ Vem tirar dos olhos meus o pranto/ Ai vem matar essa paixão que anda comigo". Mas, por motivos muito particulares acusara a a lua certa feita, uma música lembrava isso:"Mas se fui pecador condeno a lua/que abandonando a rua fugiu com o luar...".

Era um cara romântico, mas do seu jeito, detestava efusões exageradas, amostramentos, forçada de barra. Achava esse tipo de comportamento ma babaquice. Quem amava de verdade não precisava de reclame público. Era um sujeito, repito, esquisito, detestava a mentira e falta de caráter. Jamais iria ficar desacreditado, sa palavra virar chacota, ser apontado como cachorro de fateira. Não, não chegava aos extremos de cuidados de um irmão que numa certa época um pé de limão começou a dar um tipo de laranja e o irmão aconselhou a não dizer a ninguém porque poderiam pensar que era mentira. Sim, era preciso ser cuidadoso.

Mas voltemos àvaca fria (com o pardón da Musa Lua). A lua e o seu feituiço. Um feitiço positivo, claro. Gostava de conta, com cuidado, um alumbramento que teve com a lua há alguns anos. Era asmático crônico, nem rir muito podia. Certo dia teve uma crie braba. Era meia-noite, acordou sufocado. Pegou a bombinha e deu uma cafungadas e nada. Aperreado, foi até a janela do quarto e, aí, hermanas e hermanos, tentando dar uma respirada para engolir o ar da noite para ver se dava uma aliviada na crise de asma, então olhou para o céu instintivamente, quem sabe para pedir proteção. Foi quando deu de cara com uma lua enorme no céu. Linda, alegre. parecia estar fazendo cabriolas no céu, se divertindo, mangando dele. Naquele alumbramento- iguala de Bandeira quando viu a moça tomando banho no rio nua - esqueceu da asma. A danada desapareceu. A visão da alua fora remédio santo. Foi um feitiço lunático danado de bom. Voltou a cama feliz e sem asma.

Desse dia em diante virou namorado da Lula, vive tocaiando-a. É um adorador da lua. E sempre lembra do que disse Buda: "Três coisas nao escondemos por muito tempo: o sol, a lua e a verdade". Vai assitir de novo ao filme "Feitiço da Lua". Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 17/04/2019
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