Eldorado

A floresta era densa e quente, com poucos focos de claridade.

Ouro: o único objetivo de Cortez e dos homens que o acompanhavam, que pretendiam retornar o mais cedo possível para a Espanha. O comandante, em maior grau do que os outros, não suportava os insetos e a alta temperatura. Grande seu mau humor porque desde que haviam deixado a Europa só via homens. Nenhuma donzela para apaziguar seu calor interno, que ao se fundir ao calor externo gerava em seu corpo a sensação de um insuportável vapor aprisionado. Ouvira falar na Europa dos chefes indígenas que ofereciam suas próprias mulheres e filhas aos forasteiros, mas até aquele ponto só se deparara com tribos hostis, que haviam matado alguns de seus homens a flechadas.

Ao encontrarem cavernas, procuravam explorá-las, pois a primeira que haviam achado abrigava artefatos nativos de ouro e muitas pedras preciosas. No entanto, as seguintes nada tinham a oferecer além de morcegos e goteiras.

Continuando, entraram numa que se abria às trevas. Era extremamente espaçosa. Seguiram descendo, até se depararem com um corredor em que havia tochas nas paredes além das que os exploradores carregavam, um grande portão metálico ao término.

“O que vamos fazer agora?”, indagou um dos homens.

“Ainda pergunta? Viemos aqui encontrar tesouros, e é o que acredito que haja atrás desta porta.”, respondeu Cortez.

“Pode ser perigoso.”

“Não seja covarde. Devemos ir em frente. Ou nem terá valido a pena deixar a Europa. Se eu voltar sem abrir este portão, ficarei me lamentando pelo resto dos meus dias, me perguntando o que poderia haver.”, os demais acabaram dando razão ao líder, o portão se abrindo quando o empurraram. Havia uma escada, pela qual desceram, deparando-se ao final com uma saída para a luz.

“De nada adianta irmos adiante. Iremos parar em outra parte da floresta.”

“Não vê que é diferente, homem? Onde estávamos quase não havia luz!”, ao avançarem, perceberam que a claridade do lugar não se devia à presença do Sol, e sim às ruas e aos imensos palácios de uma cidade em ouro e pedras preciosas. Cortez nem deu importância aos habitantes que circulavam, absorvido por completo pelas riquezas que se deslumbravam ao seu olhar. Seus companheiros ficaram paralisados.

Os moradores locais, em sua maioria loiros e ruivos, eram bem distintos dos indígenas costumeiramente encontrados, mais pálidos do que os próprios espanhóis.

“Sejam bem-vindos.”, disse uma bela ruiva, retirando Cortez e seus homens do transe.

“Sabe falar a nossa língua?”

“Sim, como o senhor já pôde perceber.”, usavam roupas leves, adornadas com colares, brincos e anéis, tanto as mulheres como os homens.

“Então será que poderiam nos levar ao seu rei? Viemos em paz.”

“Nós também somos pacíficos. Mas antes que vejam nosso soberano, que é muito ocupado, terão que aguardar alguns dias. Enquanto isso, oferecemos nossa hospitalidade.”

“Poderia nos dizer seu nome?”

“Sou Tiuana, sacerdotisa encarregada da recepção dos forasteiros. Venham comigo.”, no templo para o qual foram levados, experimentaram por dias toda espécie de delícias: frutos, carnes, sucos, vinhos, os melhores leitos e mulheres. Cortez pôde ter em seus braços a própria Tiuana. Até que chegou a manhã (entendendo-a como o período posterior às horas de sono, já que no Eldorado, como os espanhóis chamaram o lugar, não havia noite) em que seriam levados à presença do rei.

Este se encontrava em um imenso palácio, de colunas ricamente esculpidas. Contudo, ao chegarem, não havia ninguém no gigantesco trono.

“Onde ele está?”, indagou Cortez.

“Relaxe, meu querido Cortez. Ele está vindo.”, disse Tiuana, fechando a porta atrás de si. O salão e o assento reais eram muito maiores do que qualquer outra coisa na cidade, como que feitos para gigantes. Cortez estranhou isso, afinal os habitantes de Eldorado não eram tão grandes.

Seria o rei um gigante, diferente dos demais? Um homem comum desapareceria no trono em vista, seria como um rato no trono de um rei europeu. Caso se tratasse apenas de megalomania, seria ridículo. Cortez acabou por sentir um pouco de medo, enquanto via seus homens despreocupados, rindo e conversando, ainda “bêbados” devido aos prazeres experimentados nos últimos dias.

Seu mau pressentimento revelou-se acertado: a porta não se abriu, e sim uma parede, emergindo das trevas um colossal homem-dragão, de escamas afiadas e olhos vermelhos. Podia-se divisar na face daquele monstro bípede um certo deboche.

Apavorados, os homens gritaram, correram e tentaram derrubar a porta para fugir, em vão; Cortez não conseguia se mover, e a criatura os esmigalhou com suas mãos e os estraçalhou com seus dentes e garras, revelando-se invulnerável às armas dos espanhóis quando estes tentaram se defender.

Era o fim da descoberta.

Marcello Salvaggio
Enviado por Marcello Salvaggio em 13/12/2019
Código do texto: T6818330
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