ERA UMA VEZ... (Capítulo terceiro)

Capítulo terceiro

Os Gnomos drogaram as rosas, e as tornaram obcenas. Pássaros se encantaram de azul e cantaram Blues, e a noite os diluiu no horizonte. O cio dos Sátiros ciganos se antecipou às procelas, surgindo à tona incruento o sol, vertendo borbotões de sangue pela chaga rubra na ânfora de duas colinas azuladas.

A mulher Humana da face sulcada de mágoas, acompanhada de seus Gnomos, era insensível a paisagem. Seus olhos enevoados pelas geleiras dos anos, sua audição desgastada pelos sons de todos os timbres e sua epiderme calejada de sofrimentos e de invernos não davam atenção à beleza do por-do-sol, murmurava uma oração fervorosa e voltava os olhos para à terra muda e fria, enquanto suas mãos desenterravam punhados de mágoas do passado, que ela beijava reverentemente...

O Elfo poeta quando a viu naquela estranha idolatria, pensou que a entendia - ela ensandecera - mágoas, desgostos pesam lhe nos ombros, que dia a dia são lhes acumulados. Sofreu também o Elfo, desejou tomar suas mãos, e depois dizer-lhe, entre palavras calmas, a narração sem par das angustiadas almas que anseiam pelo amor das virgens fugitivas...

...a mulher humana lembrou o Elfo de seu compromisso passado, vagas sombras que já andavam perdidas nas asas do escuro.

O Elfo, também poeta das horas tristes lhe disse:

- Nada nos une mais, ó ansias impossíveis!

Deixe que o choro lácrimal escreva, em letras invisíveis, a muda confissão de que não mais nos amamos. Pede me a vida, a terra, o céu, as esperanças, e eu te darei terra, e morte, e o hades.

Queres que eu morra por uma jura de amor que pela vida afora dura, somos dois mútuos desconhecidos vivendo a contemplar risos descoloridos. Foge de mim, que eu também vou fugir de ti, é melhor que assim termine tudo...

O olhar da mulher apenas humana, distilavam mudas e pressagas convulsões de loucos sentimentos. Sua boca enchia o vácuo com o vento do seu grito e assoprava estranhos vendavais.

Foi com seus Gnomos consultar um oráculo que predisse morte de todos os sonhos, e dias de solidão imensos, capazes de ordenar o caos em suas vidas.

A mulher já acostumada a ir com o vento e visitar os silêncios que moram nas solidões, repousa ventanias em seu útero gerando frutos tempestivos, junta vazios e nadas, juntará também agora,

lágrimas perdidas de um poeta martirizado, pois o sonho meu amor, o sonho acabou...

...CONTINUA

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 08/05/2020
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