Dafne e Os Guardiões Espaciais - Cap 2: Ataque Pirata

Cassian sentiu um grande alívio quando Dafne finalmente abriu os olhos, pois não sabia o que tinha feito a filha perder a consciência. Embora a leitura da câmara de suporte médico da nave não indicasse nenhum problema orgânico, sua preocupação era com a mente da garota. Será que aquela estranha energia dourada tinha prejudicado seu cérebro de alguma forma?

Mas assim que a filha despertou, não deixou de dar-lhe uma tremenda bronca por ter se afastado dele nos túneis e a encheu de perguntas sobre como estava se sentindo. Dafne ficou um tempo tentando se localizar até que percebeu que estava dentro da nave do pai, deitada numa maca e coberta por um lençol. Quanto mais ficava calada, mais seu pai lhe fazia perguntas.

- Calma, pai, eu estou bem, não precisa ficar desse jeito.

- Não preciso ficar desse jeito? - reclamou Cassian – Sabe por quantos minutos intermináveis eu estou aqui esperando você acordar, preocupado com seu estado de saúde?

- Desculpe, não queria preocupar você – falou Dafne - Não sei o que deu em mim, só senti uma vontade de explorar aqueles túneis, até que acabei caindo naquela caverna. Se não fosse o senhor e o Binn, acho que estaria lá até agora.

Dafne não quis mencionar a experiência estranha que teve com Maiera e sobre as palavras que a sacerdotisa disse para ela. Ainda estava muito confusa sobre tudo aquilo.

- Pois é, mocinha, que isso lhe sirva de lição. Mas ainda não estou satisfeito, estamos indo agora até a cidade mais próxima para você fazer uma avaliação mais apurada numa unidade de saúde.

- Tem certeza, pai? Eu já disse que estou bem – Dafne fez uma expressão de tédio, pois não gostava de visitas ao médico, principalmente daqueles ou daquelas que agiam como se ela fosse criança, falando com voz infantil, apertando sua bochecha ou bagunçando seu cabelo.

- Negativo, mocinha, sou responsável por você e faço questão de ter certeza de tudo. Pode até estar aparentemente bem fisicamente, mas você desmaiou e isso me preocupa. Quero saber se não tem nada no cérebro – Cassian falava com a filha enquanto passava algumas ferramentas para Binn. O robozinho estava fazendo reparos num painel elétrico ao lado.

- E ainda temos outro problema para resolver, que eu acho que é causa disso tudo – Cassian puxou o braço de Dafne de dentro do lençol e apontou o bracelete seu pulso – Isto aqui.

- Nossa, tinha esquecido que esse negócio ainda estava aí – Dafne estava impressionada com a sutileza dos objetos, eram tão delicados que praticamente não os sentia tocando a pele.

- Enquanto você dormia eu tentei tirar essa coisa, mas é mais resistente do que imaginei – disse o pai – Mas não se preocupe, estabeleci uma rota para Varen, conheço uma pessoa em Alghra que deve saber como tirar essa coisa.

- Então você acha que esses braceletes são a causa do meu desmaio? - perguntou Dafne.

- Tenho quase certeza que sim – respondeu Cassian – Quando cheguei na caverna onde estava, eu a vi envolvida por uma estranha luz e logo depois você caiu inconsciente. O metal desses braceletes podem estar emitindo algum tipo de radiação. Portanto, não quero essa coisa no braço da minha filha. Vamos tratar de remover isso, e rápido.

A nave do pai de Dafne era pequena e de um modelo antigo que sempre apresentava algum tipo de problema. Uma vez era no sistema elétrico, outra vez no de refrigeração e muitas vezes no de navegação, forçando o pai a usar os mapas manuais.

Mas o repentino solavanco da nave e a desaceleração identificada por Cassian nos avisos dos painéis mostrou um inédito problema naquela “sucata ambulante”, como Dafne costumava chamar a nave do pai. Claro que esse comentário jamais era dito em sua presença, já que Cassian tinha grande apreço pela nave por ser uma herança. Tinha até nomeado o veículo com o sobrenome da família: Stradix.

Depois de observar todos os sistemas com a ajuda de Binn, Cassian comprovou que a nave estava funcionando relativamente bem. O problema foi no sistema de propulsão, que passou a trabalhar com metade da potência, o que só atrasaria a viagem em mais uma hora pelo menos, nada tão preocupante. Mas quando Cassian percebeu a aproximação de uma outra nave, três vezes maior que a Stradix, lamentou não poder estar com sua potência máxima para fugir, já que conhecia muito bem o designe do outro veículo.

Eram piratas insuladrianos, famosos por interceptar qualquer tipo de nave, das grandes às menores, principalmente aquelas que não conseguiam fugir de suas garras.

Não demorou muito para que os piratas acoplassem âncoras magnéticas na fuselagem da Stradix, parando seu movimento com uma descarga elétrica que apagou os sistemas da pequena nave. Acompanhando tudo por uma janela, Dafne viu quando um grupo de cinco pessoas saíram da nave pirata, vestindo trajes estranhos e usando capacetes, voando em sua direção.

- Vamos, garota, saia daí, eu tenho que escondê-la rápido – falou Cassian, pegando a filha pelo braço e a arrastando para um compartimento pequeno – Fique em silêncio e não saia daqui.

- Mas pai, o que está acontecendo? O que é aquela nave? Quem são aquelas pessoas?

- Aquela nave é do planeta Insuladris e essas pessoas são piratas.

- Então são perigosos? - perguntou Dafne, aflita.

- Sim, costumam ser. Mas se deixarmos levarem o que querem não nos farão mal. E você, mocinha, não ouse sair daí entendeu? Vai acabar tudo bem.

- Mas pai….

Cassian fechou rapidamente a porta do compartimento, não deixando Dafne completar a frase. A garota olhou para os lados e viu que estava no lugar onde o pai costumava guardar algumas quinquilharias eletrônicas e ferramentas diversas. Para seu alívio o cubículo era iluminado por pequenas lâmpadas led que emitiam uma luz azulada.

Por minutos intermináveis Dafne ficou parada, respirando ofegante, rezando para que o pai não estivesse em perigo, que os piratas não o fizessem mal. Logo depois, para seu desespero, escutou pancadas do lado de fora, coisas sendo quebradas e, por fim, o som de um feixe disparado por alguma arma. Isso foi a gota d’água para que não suportasse mais ficar presa naquele cubículo e saísse para ver o que estava acontecendo. Seu pai poderia estar correndo perigo de morte.

Dafne abriu a porta do compartimento e saiu caminhando pelo corredor da nave em direção à parte de trás. As luzes do teto e do corredor piscavam constantemente, dificultando a visão. Conforme avançava ouvia as vozes dos piratas, um deles perguntando em voz alta onde estavam os cristais. Devia estar falando dos cristais lunares que seu pai costumava garimpar nos túneis. Mas isso não tinha a menor diferença agora, só queria estar ao lado do pai naquele momento. Que esses piratas levassem tudo de valor, contanto que os deixassem em paz.

Dafne ficou chocada quando dobrou a esquerda no corredor e viu seu pai ajoelhado e bastante machucado no rosto. Sua boca, olhos e testa sangravam. Estava cercado por três homens altos, trajando roupas escuras. Tinham a pele morena, barbas e bigodes espessos e usavam brincos nas orelhas e pequenas argolas nos lábios e até nos narizes. Eram figuras realmente exóticas…..e violentas. Ela tinha visto cinco deles antes. Então provavelmente os outros dois estavam vasculhando o interior da nave.

- Pai? - a pergunta de Dafne chamou a atenção de todos. Seu pai a encarou surpreso e os piratas deram sorrisos maliciosos.

- Ora, ora, mas que bela surpresa – disse um dos piratas, caminhando na direção de Dafne – Parece que o papai mentiu dizendo que estava sozinho. Venha cá, garotinha, quem sabe você possa nos ajudar a fazer o papai falar onde está o restante dos cristais – o pirata pegou Dafne pelo braço e a jogou com força na direção de Cassian.

O pirata apontou o rifle laser na direção de Dafne, ameaçando atirar na garota caso Cassian não falasse onde estavam os cristais. Cassian já tinha dito onde tinha guardado os cristais lunares, mas os bandidos, sempre desconfiados, achavam que estava mentindo. E a aparição repentina de Dafne, desobedecendo sua ordem de ficar escondida, só piorou as coisas.

- Muito bem, minerador, eu não tenho muito tempo para perder com você – disse o pirata com o rifle – Diga agora onde esconde o restante dos cristais ou essa linda menininha lhe dará adeus.

- Por favor, senhor, não faça mal a minha filha – suplicou Cassian – Todo os cristais que eu tinha já estão com vocês, não restou mais nada. Aquelas velhas minas em Kanteia não oferecem muita coisa mais. Tive sorte em encontrar esses.

- Você mente, minerador, e eu já estou cansado disto – o pirata atingiu com força o rosto de Cassian com a coronha da arma – Muito bem rapazes, vamos eliminar esses dois, levar a nave e procurar melhor os cristais e depois vender essa sucata em algum lugar.

- NÃO, NOS DEIXEM EM PAZ - Ao ver o pai caído, com o rosto todo machucado, e os maldosos piratas ameaçando-os com suas grandes armas, Dafne colocou para fora toda sua raiva e todo o seu medo num grito que veio da alma.

Como que respondendo à sua emoção, os braceletes em seus pulsos começaram a brilhar, chamando a atenção dos piratas, e rapidamente essa luz se expandiu numa espécie de redoma e lançou para trás os agressores com tamanha força que eles se espatifaram contra as paredes da nave e já caíram desacordados.

O ruído do impacto alertou os outros dois piratas, que vieram para ver o que tinha acontecido. Aproveitando a situação favorável, o pai de Dafne pegou uma das armas no chão, se escondeu e, quando o bandido passou ao lado, acertou-o na nuca com uma coronhada, fazendo-o cair desacordado.

O segundo pirata avistou a situação e tentou atirar em Cassian, mas este foi mais rápido e interceptou o movimento do oponente. Os dois começaram rolar no chão numa briga, mas o pirata era mais forte que Cassian e conseguiu arremessá-lo para longe. Cassian saiu deslizando pelo piso da nave até parar ao lado da filha. O pirata se ajeitou e saiu caminhando na direção dos dois, preparando seu rifle para disparar.

- Dafne, rápido, segure-se bem forte em mim – disse Cassian para a filha. Em seguida acionou uma alavanca na parede ao lado. Uma porta na lateral da nave se abriu velozmente e o vácuo do espaço começou a sugar tudo para fora.

O pirata foi pego de surpresa e tentou se segurar, mas a força da sucção arrastou ele e os corpos de seus comparsas para a escuridão do espaço. O vácuo continuava a sugar os objetos da nave e Cassian lutava para não ceder e ao mesmo tempo puxar a alavanca de volta para fechar a porta.

Por sua vez, Dafne não conseguiu se segurar com força e deslizou, saindo voando em direção à porta. Esticou a mão para alcançar uma barra de ferro na parede e não obteve sucesso. Mas, mais uma vez, os braceletes responderam ao seu desejo e a luz emanada tomou a forma de uma grande mão, que esticou-se e agarrou a barra, impedindo que fosse arremessada para fora. Com muito esforço Cassian conseguiu mover a alavanca e a porta se fechou rapidamente. Dafne despencou no chão junto com todos os objetos que estavam no ar.

Um silêncio se abateu no recinto e pai e filha correram para se abraçar.

- O que foi que aconteceu? - disse Dafne, olhando para os braceletes.

- Perguntas e respostas ficam para depois. Agora temos que sair rápido daqui. Outros piratas podem vir a qualquer momento – disse Cassian.

Cassian foi em direção à cabine da nave e, com a ajuda de Binn, conseguiu religar os sistemas, inclusive o de propulsão, que voltara a normalidade. Stradix partiu em velocidade máxima, mantendo o curso para a lua de Varen.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 01/06/2020
Código do texto: T6964150
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