Dafne e Os Guardiões Espaciais - Cap 3: Visões

Dafne estava entediada de tanto esperar. Seu pai tinha levado a Stradix para consertar as avarias recebidas depois do ataque dos piratas e o mecânico estava com dificuldade de colocar a nova porta lateral no lugar. Além disso, antes de virem para a oficina, pai e filha foram a um especialista em metais. Cassian estava preocupado em relação aos braceletes nos pulsos de Dafne e queria que alguém desse uma opinião sobre o que eram aqueles objetos, principalmente depois de presenciar o que eles fizeram.

Para decepção de Cassian, o especialista também não soube dizer muita coisa sobre os braceletes. Disse que nunca tinha visto aquele tipo de metal, que nem seus equipamentos conseguiam decifrar a composição. O homem tentou tirar os braceletes dos pulsos de Dafne mas não obteve sucesso. Os objetos pareciam estar colados à pele da garota e não poderiam ser retirados sem fazer algum tipo de dano.

Não satisfeito com a avaliação, Cassian resolveu visitar outras pessoas depois do conserto da nave. O mistério envolvendo os estranhos braceletes teriam que ter uma resposta.

Vendo que o conserto demoraria bem mais, Dafne aproveitou o momento em que o pai discutia com o mecânico sobre a calibragem da pressão interna da nave e resolveu dar uma volta nas ruas próximas.

Para todo local que se vá, as ruas de Alghra estão sempre movimentadas com todo tipo de figura. Visitantes de todos os lugares do sistema costumam vir à capital da lua de Varen em busca de seus atrativos diversos no campo da diversão. Teatros, cinemas, cassinos, grandes arenas esportivas e toda ordem de atividade artística e de lazer são os pontos fortes deste lugar. Varen é conhecida como o balneário dos ricos entre os nove sistemas.

Enquanto que os ricos desfrutam dos locais mais requintados da cidade, os menos abastados não deixam de se divertir. Os bairros periféricos, como o que Dafne e o pai se encontram no momento, também possuem seus locais de entretenimento. Em toda esquina havia artistas itinerantes fazendo algum tipo de show, exibindo suas habilidades, das mais simples até as mais exóticas. E foi uma dessas que chamou a atenção de Dafne.

A garota ficou algum tempo em frente a uma tenda, olhando uma placa com os dizeres “Venha ler seu futuro com Madame Kamala”. Por fim a curiosidade falou mais alto e resolveu adentrar o lugar. Para uma tenda simples o espaço interno até que era grande, com um belo tapete cobrindo o chão e uma mesa no centro. Sentada numa cadeira, de frente para uma bola de cristal, estava uma senhora de cabelos grisalhos, olhos profundos e lenço amarrado na cabeça.

- Olá, minha criança, seja bem-vinda a humilde tenda de Madame Kamala. Em que posso servi-la? – disse a senhora com um olhar penetrante, percorrendo Dafne de cima a baixo.

- Er...bem, não me leve a mal mas não sei porque entrei aqui – respondeu Dafne. Realmente não tinha a mínima ideia do porque adentrara aquela tenda, somente que algo em seu coração a fez dar o primeiro passo.

- Bom, então vamos descobrir – falou a Madame Kamala – Se aproxime e veja se minha bola lhe diz alguma coisa. Mas antes preciso lhe falar algo importante.

- O que? - perguntou Dafne.

- Você tem duas moedas de prata? Esse é o valor de minha consulta. Se não tiver, sinto muito, mas não poderei dizer nada sobre seu brilhante futuro – a senhora tinha um sorriso malicioso no rosto.

Dafne procurou nos bolsos e retirou suas últimas moedas. Seu pai não ficaria nada contente em saber onde ela gastou o que restou do seu dinheiro. Mesmo sabendo que muitos em Varen ganham a vida, como seu pai costuma lhe alertar, enganando as pessoas, resolveu continuar seguindo aquela sensação que a fez entrar na tenda e falar com a exótica senhora.

- Bom, como havia dito – falou Madame Kamala, já com uma expressão mais leve depois de receber as moedas da visitante – Se aproxime e venha ler seu futuro. Veja o que minha bola lhe dirá.

Dafne se aproximou e sentou-se em frente a Kamala, olhando fixamente para a bola de cristal. A um sinal da senhora, tocou com as duas mãos no objeto e….nada aconteceu. No fundo Dafne achava que aquela experiência poderia realmente lhe dizer algo. Pelo jeito a suposta advinha era só mais uma enganadora. Tinha gastado suas moedas à toa.

Mas algo chamou a atenção de Dafne. A postura de Madame Kamala estava estranha. A senhora estava estática, parada com o olhar fixo em seus olhos, parecendo nem respirar. Dafne olhou para os lados quando ouviu vozes no ambiente. Duas pessoas estavam dialogando mas não havia ninguém mais na tenda além dela e de Madame Kamala. Olhando para a porta de saída, Dafne levantou-se e decidiu averiguar se tinha alguém do lado de fora aguardando atendimento. Enquanto isso Madame Kamala continuava imóvel.

Ao sair da tenda, Dafne se deparou com um lugar que não era a rua do lado de fora, mas sim uma espécie de local de treino onde duas pessoas, uma garota da sua idade e uma mulher mais velha, estavam lutando. Para surpresa de Dafne, a garota usava o mesmo tipo de braceletes, criando formas com a energia dourada que emanava deles. No mesmo instante lembrou do episódio na nave do pai, onde a luz tomou a forma de uma mão e a salvou de ser jogada no espaço.

- Vejo que ainda está perdendo o foco com facilidade, Maiera – disse a mulher, provavelmente a professora, depois de derrubar a garota no chão.

- Perdão, mestra, é que ainda não consigo controlar as emanações do jeito que gostaria.

- Seu maior obstáculo são suas emoções, minha jovem aprendiz. Quanto mais distraída ficar, mais difícil será controlar os poderes mágicos do artefato.

- Sim, mestra, irei me esforçar mais. Prometo honrar seus ensinamentos e o legado que me transmitiu.

- Lembre-se, Maiera, assim como eu te entreguei a posse dos braceletes, um dia você também passará adiante esse legado e terá que ensinar seu novo portador. É dever de todo guardião e toda guardiã não apenas saber manipular as energias místicas, como também proteger os artefatos que as contém. Até lá precisa treinar bastante e aprimorar suas capacidades, como todo membro da Ordem dos Guardiões. E quando chegar a hora, assim como eu, espero que seja bastante feliz em sua escolha.

- Eu também, mestra – assim que terminou de falar, a garota olhou para Dafne, que estava ao lado de uma pilastra de pedra.

Achando que estava mergulhada numa espécie de sonho, como uma mera espectadora de uma cena do passado, Dafne foi pega de surpresa ao perceber o olhar de Maiera em sua direção.

Desperta do transe, Dafne estava de volta à tenda de Madame Kamala. A senhora a encarava seriamente, com as mãos ainda sobre sua bola de cristal. Com a mente confusa diante da experiência tão vívida que experimentara, Dafne pediu desculpas e saiu correndo da tenda, ficando aliviada quando avistou a rua movimentada do lado de fora. Precisava se apressar pois, com certeza, seu pai já tinha notado sua ausência.

Sozinha em sua tenda, Madame Kamala tentava entender o que tinha acontecido, já que também tinha tido acesso às imagens vistas por Dafne.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 01/06/2020
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