A Separação dos Gêmeos

O garoto não dissera palavra desde que haviam levado seu irmão gêmeo embora. Era uma norma da comunidade, a qual seus pais não podiam se furtar, mesmo que contra a vontade; caso decidissem não acatá-la, teriam que partir para bem longe das terras dos Miguu Mepesi, e isso eles não estavam dispostos a arriscar. Mas o pequeno Wanjohi Theuri não estava muito longe dali; na verdade, mudara-se para a casa dos avós paternos na aldeia de Kavu Vizuri, menos de uma légua de distância. Nada impedia que os pais o levassem para visitar o irmão, até que ele mesmo pudesse fazer isso por conta própria; mas o fato é que as tradições os impediam de crescer juntos.

- Gêmeos são um sinal de que algo no cosmos está desregulado - advertira gravemente o mtuwadawa da aldeia aos pais arrasados. - Animais têm ninhadas, não seres humanos.

Ninhada, no caso, sendo qualquer número superior a um. E a lei era clara: aos sete anos de idade, um dos gêmeos teria que sair de sua comunidade e ir viver em outra aldeia. Escolher qual dos dois teria que partir, também rendeu algumas discussões domésticas. Os pais acabaram optando por Wanjohi Theuri porque ele era o mais esperto dos dois. Mwathi Theuri foi permitido que ficasse; e agora ele não dizia palavra. Foi assim que Halima o encontrou, sentado num barranco do rio que banhava a aldeia, observando a mãe e outras mulheres lavando roupas na margem.

- Aí está você - exclamou feliz Halima.

O garoto ergueu os olhos para encará-la, mas nada disse; voltou a olhar para o rio. Halima sentou-se ao lado dele.

- Você sabe, seu irmão não está longe, Mwathi - explicou Halima. - Não precisa ficar triste; não é como se ele tivesse ido para o outro lado das montanhas.

Mwathi balançou a cabeça, em silêncio.

- Talvez esteja se perguntando porque ele foi escolhido, e você não - prosseguiu Halima. - Bom, vocês são idênticos e então isso não fazia realmente muita diferença.

E então, algo em que não pensara veio-lhe subitamente à mente.

- Ei! Vocês são idênticos!

Mwathi lançou-lhe um olhar interrogativo.

- Já pensou se, quando você for visitar Wanjohi, vocês trocassem de lugar... e na visita seguinte, destrocassem?

Os olhos de Mwathi brilharam.

- Você pode fazer isso? - Indagou ansioso.

Halima acariciou a cabeça dele.

- Ótimo! Já vi que pode falar!

E ergueu-se mais do que depressa, no que foi seguida pelo garoto.

- Você pode fazer isso, Halima? - Insistiu Mwathi.

- Podemos tentar - prometeu ela. - Podemos tentar.

- [22-07-2020]