A águia

Uma águia gigante, bela e imponente atacou vários pássaros. Estavam todos a passarinhar, numa despreocupação só, ciscando e piando, como quem gosta de vagabundear. Até um tucano fugiu: saiu correndo.

De longe, a águia me viu. Me admirei com sua magnificência. Ela não hesitou, veio direto me atacar. As asas enormes balançavam, senti o vento e o estrépito no ar. Ela era gigante, enorme, gigante mesmo!

A princípio achei que era um felino, uma grande onça avançando em mim. Mas seu bico ficou cada vez mais nítido, um bico enorme e amarelo, bem na minha frente. Seus olhos fortes e penetrantes estavam sérios e muito focados.

Talvez fosse para eu ter medo, talvez um pesadelo. Todavia, seus movimentos não eram violentos, só me chacoalhava, de alguma forma.

Não senti medo, apenas um grande respeito e admiração.

Ela era realmente grande! Num reflexo, ergui minha mão a frente, tentando me defender de suas bicadas que vieram certeiras em minha mão. Pensei: “caramba, vai arrancar o meu dedo!”

Só que não, apenas me beliscou. Não me machucou ou feriu de verdade, não apertava o bico. Entendi na hora: isso não é real! Minha mão provavelmente estava bem protegida, embaixo do travesseiro.

Mesmo assim, ali: de frente para aquela ave de rapina gigante, meio amarronzada, voando baixo, a me atacar, alguma coisa era. De mim para mim mesma. Me cutucava, me beliscava.

Estava séria e se impunha para mim, como que queria dizer: não dava mais, ficar ciscando por aí e piando leve, como quem não quer nada. Não dava mais.